segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A VIDA É ISTO?


O pôr do sol hoje marca um fim triste de uma triste vida …

O Sr Paulo telefonara ontem à noite a avisar que as galinhas pretas têm que ser tiradas daquele galinheiro e têm que ir para o outro, mesmo para junto dos patos e que é preciso ver se os faisões já puseram mais ovos, para os colocar na “chichirica” que os vai chocar.
Quanto, saí de Cascais para vir para a Ria Formosa, pelas 8 da manhã, há 8 dias já o sr Paulo estava de volta da horta e dos animais. Arrastava – se com as dores. Cada vez está pior dizia e confimei. Cheguei ao pé dele, pediu – me para o ajudar a levantar – se. Perdera a força das pernas. Fizera hemodiálise durante a noite, mas com as dores não conseguia descansar, por isso, viera com o amigo, o outro Paulo para fazerem coisas na horta e nos animais. Fui fazer – lhe um cafezinho que bebeu lentamente, segurando a chávena com os cotos, pois a esclerose há muito que lhe torcera as mãos, os pés, os órgãos, mas não a alma. Assim, dizia ele, as dores passavam ao lado. “É isto que me mantem vivo”. E ante a minha admiração sincera adiantava “E a Nossa Senhora de Fátima que tanto me tem ajudado ainda vai fazer um milagre”.
Soube que nessa noite voltara ao hospital S. Francisco Xavier e ficara internado. Era de prever.
No outro dia ao fim do dia telefonei – lhe. Sentia – se com mais força, mas pouco melhor. Falou – me das couves que estavam lindas, das alfaces, dos coelhos que vinham do pinhal e invadiam a horta e das coelhas grávidas… logo que voltasse matava uma galinha das grandes para a Maria do Céu me fazer uma cabidela, coisa de que gosto mas que há muito não como porque lá em casa ninguém consegue matar um rato sequer. “E este Natal vamos comer das nossas couvinhas e vamos matar o peru e o porco…”
Foram as últimas palavras que ouvi deste homem de 34 anos que tanto sofrera e tanto lutara nos últimos tempos.
O João deu - me a notícia esta tarde. A mulher fora chamada ao Hospital. Telefonou depois à Sara que faz arranjos de flores porque está desempregada e pediu – lhe para que lhe fizesse uma coroa e que nos avisasse.
Não quero usar palavras para embrulhar sentimentos excepto para duas ou três conclusões.
1ªque aquele homem pai de 2 meninos lindos e criados com muito amor, ternura e educação, é preciso que se diga, já não teria casa dentro em breve. O senhorio iria manda – lo para a rua por não pagar a renda. Pedira à CM de Cascais que o ajudassem. Que não, que não havia casas para ninguém. E sabermos nós que há tantos homens, cheio de saúde a viver de subsídios e em casas sociais que passam as tardes a beber nas tascas enquanto ele tentou trabalhar até ao fim. Uma vergonha para os nossos corações solidários, como os nossos líderes de merda recomendam e se empenham em multiplicar, confundindo justiça com caridade.
2ª A única ajuda que este homem teve até ao fim foi de amigos; o outro Paulo que deixou de beber para lhe agradar, pelo Victor, o cabo - verdeano que sobe às árvores e acarta pedras como quem leva brinquedos e pelo Jorge, outro africano que está na Corsega a ganhar a vida e sempre que por aqui passa, oferece – se ao Paulo para o ajudar. Pobres e bem pobres como ele que o ajudavam nos trabalhos que conseguia. Trabalhavam sob as suas ordens e recebiam sem discutir o dinheiro se sobrasse. Obedeciam com respeito e uma profunda admiração. Incansáveis e admiráveis. Só os pobres se podem ajudar.
3ª – que ficaram uma mulher ainda muito jovem e dois meninos; uma menina de 4 anos e um rapaz de dois, que o Sr. Paulo levou no coração. Parece oportuno perguntarmos se vamos escorraçar estas crianças, como ignoramos este jovem pai exemplo de trabalho e de vontade de viver?

domingo, 9 de outubro de 2011

morri e não sei


Estou no Shopping. Durante minutos deixei os olhos no livro A Rocha Branca de Fernando Campos . Conta a história romanceada de Safo de Lesbo , a grande poetisa lírica da literatura grega que, no século VII AC, com cerca de 50 anos se enamorou de Fao, um velho barqueiro de Mitilene que a deusa Afrodite transformou no mais belo jovem que alguma vez existiu.
Regressei da Antiguidade Clássica e vagueio agora pelos corpos que se movem. Uns para a frente, outros para cima ou para baixo, nenhum para trás.
Da escada rolante sai uma mulher que conheço e já não vejo há tempos. Loira, porte normal, desembaraçada, jeans, camisola azul sobre os ombros; a mulher do Cardoso, meu amigo de infância. Não trás o cão de pelo encaracolado como todas as tardes fazia, no jardim do Junqueiro, onde morei.
Olhou – me. Não sei o que viu. Continuou sem estugar o passo. Desaparecia para os lados do Mac Donald, quando me lembrei que ela já morreu. De certeza? Perguntei – me. Sim, pois até confortei o Cardoso, esse D. Juan de Carcavelos, que havia de sofrer tanto com a sua morte.
Mas, será que voltou? Provavelmente voltou por causa dele, ou, passou só para ver como isto está.
Será que todos os que vejo estão mortos? A expressão dos olhares é vazia, não existe, desprovida de vida, de luz, de vontade, de amor. Vão, vão para qualquer lado. Saberão para onde? Uns mexem os lábios como sempre fizeram na vida. Não os ouço. Um homem segura o telemóvel na orelha. Não fala. Ninguém o escuta. São autómatos, mortos vivos. Dois lóbis - homens comem gelados com colheres, sem sequer se olharem. Noutra mesa velhos vagueiam com o olhar. Vão ali um rapaz e uma rapariga. Esses olham – se, como sempre fizeram… não sabem que já morreram.
Sim. Será que eu também já morri e não sei ?

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

AS GAIVOTAS, SENHOR?



Deixei o Aries acalorado e vim a terra mergulhar num refresco.
Na margem, uma gaivota chamou – me a atenção; um bico enorme, descomunal, anormal, por, talvez, uma qualquer doença genética, ou, herança anatómica.
Uma deformação incómoda, como afinal em muitos homens e mulheres, diferentes, que por este mundo fora, lamentam e são alvo da atenção ou em muitos casos até repulsa.
Lembro – me de sempre ouvir dizer que “Se Deus o assinalou foi porque algo lhe encontrou”.
O castigo de Deus tem sempre aquele espaço injustificável que convém às religiões, mas que se lamenta e que o fazem injusto, incompreensível e até cruel.
Há qualquer coisa de errado em tudo isto, que nem os Deuses, a Natureza, ou, o mero acaso não justificam.
Que mandamento terá a gaivota infringido?

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A FASE DA MACACADA


A FASE DA MACACADA

Se não há alguém que sacuda o sr. Passos Coelho, ele só acorda quando sentir o cheiro a esturro.
O mundo mudou e uns quantos ainda não viram.
Lá fora, até os ricos mais ricos acham que devem ser mais tributados. Américo Amorim o mais rico de Portugal, quando lhe pediram para analisar a atitude dos americanos Gates, Buffett, logo seguidos dos 16 mais ricos de França, que acham chegada a altura de serem mais tributados, respondeu, mostrando com impressionante ironia que estava em desacordo, dizendo que ele, era apenas um trabalhador. Pobre homem. Pode ser o mais rico do planeta, mas é mais pobre do que muitos pobres que conheço. Bom proveito lhe façam os milhões…
E é com medo destes senhores trabalhadores que, ao invés de outros países também capitalistas, os Sócrates e Coelhos portugueses nada fizeram ou fazem para uma mais justa divisão da riqueza e das oportunidades.
Não se tratam de negócios de esquerda ou direita. Trata – se de humanidade e consciência social.
Quem viveu antes do 25 de Abril e vive hoje, quando a fome e a injustiça social aumentam, vê que do Governo ao Presidente da Republica, crescerem os apelos à caridade social, ao crescimento, suportado pelo Estado, de instituições de beneficência privadas, na maioria, com índole de cruzada, sente amargurado que andamos para trás na história da evolução do homem.
Reentramos na fase da macacada.

sábado, 13 de agosto de 2011


SÓ tenho saudades daquele que não fui nem serei.
Daquele que se afogou entre gritos da gentalha, risos da inconsciência e afagos de peles macias.

QUEM AJUDA O PAULO?





HOJE DIA 13 de Agosto Procissão a Fátima, aniversário de Fidel de Castro e TROIKA em Lisboa


Voltei a casa, Trabalhos imprescindíveis: derrubar pinheiros porque o calor assusta e avisa que os incêndios podem vir, cortar a lenha para que seque até ao Inverno, observar as vedações porque os cães andam arruaceiros, rever sistemas de rega porque andamos a água da companhia, enquanto o furo se recusa a regar, endireitar algumas arvores de fruto, etc etc.
Mas o que mais me assustou foi ver o ser Paulo pior de saúde.
Este homem de 34 anos, esta cada vez, mais deformado (gota, artrite reumatoide, rins a pararem, inflamação generalizada), anquilosado, confinado a pequenos gestos e a dores crescentes. Recusa – se a vergar à doença. Só vendo o seu sofrimento é que imaginamos. Pai de 2 crianças, que adora, e de quem fala constantemente, com a doença a avançar, luta pela vida de uma forma que nos pasma, a todo o momento. Diz que o trabalho o ajuda a esquecer – se e lhe alivia as dores, mas há pouco trabalho e muitas dores.
Vem com a sua equipa (3 ou4 homens) pelas 7 e meia, põe – na a trabalhar, distribui ordens, toma um medicamento para o sofrimento, ontem à noite fez hemodiálise, arrasta – se para fora da viatura e exige atenção às tarefas, corrige aqui, afina acolá. Não aponta, indica com os cotos, não anda, arrasta os pés envoltos em ligaduras. Sente tonturas por causa da Cortizona. Da testa tombam gotas, diz que é do verão. Do olhar rolam preces. É devoto da Nossa Senhora de Fátima, que já lhe apareceu duas vezes, diz.
Toca a trabalhar. Nada de pausas; um que é “beberolas” não pára a acartar as sebes derrubadas, o outro que está de férias e trabalha na Corcega, prepara o cimento para rever os portões e o outro, africano e muçulmano, sobe ao cimo dos pinheiros mais altos com a moto serra, para fazer o que ainda há 3 anos o Paulo fazia com alegria. Todos se movimentam pelo chefe, porque o respeitam e admiram, porque são solidários, porque “estamos todos no mesmo barco”. Os pobres ajudam – se.
Há dias, porque ele gosta de pescar, levaram – no às cavalitas pelas rochas do Guincho e apanharam 2 polvos e 4 sargos. Fizeram uma jantarada, como nos outros tempos.
O Sr Paulo quando lhe veio a doença, teve de vender uma camioneta e uma rectro - escavadora para fazer um tratamento não comparticipado. Agora, chora, o Estado não ajuda no mais básico e os medicamentos estão mais caros, saiu da casa onde era caseiro, e tem que pagar uma renda, mas sabe que há tanta “casinha” social, só que não há maneira de decidirem. “É preciso paciência” diz ele de olhar no céu; à espera de um sinal.
Ao fim da tarde do 3º dia, estava eu a ver na TV a Troika e o nosso Ministro da Finanças de, voz angelical, a dizer que os dias futuros serão piores… que é preciso fazer sacrifícios, quando, batem à porta. Era o Sr Paulo que tem uma consulta às 5 e meia no Hospital de Cascais.
Os homens ficam, alguém o vai levar.
Duas horas depois telefona – me.
“Isto está pior. Mandaram – me para Santa Cruz. Não sei quantos dias vou ficar. Uma enfermeira está a fazer – me os pensos e vão – me tirar as dores, mas só lhe quero pedir que diga ao Victor que não espalhe a palha da cavalariça para eu depois fazer estrume para as arvores e para a horta. Ainda havemos de comer galinhas e ovos fresquinhos. … Vai ver:”
Pousei o Ifone, com que não me entendo. O Ministro ainda falava, patético e ridículo. Senti – me enojado. Mandei – o à merda e desliguei.

domingo, 31 de julho de 2011

ferias até quando?


Tive visitas.
Portanto, não tive tempo. Isto foi preparar os pequenos - almoços e abalar pelas margens da ilha do Farol e Faro, mergulhar nas águas que tardavam em aquecer, pescar e irromper por tascas e tasquinhas, com apetites devoradores e à noite, pastorear a molenguice que nos arrasta de cansaço e tranquilidade. Foi bom, só que, o objectivo de vida vai – se nestas peregrinações ecológicas e gastronómicas.
Terminei a minha participação no Ultimo a sair com filmagens de pivot, aqui no barco. Ainda me diverti. Na rua as pessoas olham – me curiosas pela falta do bigode ou porque nunca me imaginaram a dizer javardices na TV. Aliás acho que são a melhor oratória para os comunicadores conscientes ; não dar crédito ao politicamente correcto, aos engravatados e aos empoleirados num poder podre e macabro. É minha maneira de dizer NÃO.
Termina o mês e começa o que os portugueses mais querem para as férias. Vão – se os morenos e chegam os branquinhos.
Muitos estrangeiros e nativos, lado a lado, nas bênçãos à natureza.
Parece que vem mesmo a propósito para nos esquecermos, ou para passar despercebido o assalto declarado ao património nacional, à soberania, à dignidade de um povo que se deixa ludibriar de forma inaudita, direi até “inaudiota”, tais são os subterfúgios para fintar a estupidificação semeada a todos os níveis.
Curiosamente os jornais estão até espigados, como convém para dar ideia de liberdade e democracia, mas a malhar em descompasso e em matérias que dão que falar mas não dão para “estoirar”. Já se vê que Passos Coelho é afinal um Sócrates mas mais determinado e com um descaramento que nos deixa boquiabertos.
Implanta o seu neo – liberalismo ou o capitalismo cego, porque na sua visão não vê nada mais que a Troica e o que ela manda. Por isso e para isso foi o eleito.
Nunca duvidamos que ele e a sua equipa são os mensageiros fieis dos “senhores do mercado” isto é, da banca nacional e internacional, que nada mais quer que o seu dinheirinho, com juros desumanos para os pobres e sem juros para os ricos.
Neste último ano os ricos aumentaram a sua riqueza em quase 20 % e o número de pobres aumentou 40 %. Bem noto na rua e no olhar das pessoas.
Temos que agradecer esta paisagem, aos nossos líderes que semeiam desgraças e misérias.
Que férias descansadas teremos.

sábado, 16 de julho de 2011

DIÁRIO DE BORDO




Hoje fui surpreendido pela chegada de uma embarcação que trazia pendurado um peixe de dimensões que jamais vira.
Claro que corri como enviado especial do PEDELEKE;
Ao principio da tarde de sábado (16/07/2011) foi pescado a 40 milhas da Ria Formosa um Blue Marlin ( da família das barracudas) com 3 . 10 de comprimento e 270 kgs.
Os autores da aventura que durou 90 minutos foram Luís Matias e Manuel Viana, pescadores amadores, residentes em Lisboa, com barco em Olhão.
Segundo os afortunados pescadores este peixe vale mais de 700 Euros, a sua carne não tem espinhas, come - se em bifes e o seu sabor é parecido ao do atum.
Mas o que mais me impressionou, para além da dimensão e peso, foi a beleza deste animal. A Natureza dotou – o de condições ímpares para nadar e se alimentar. Fusiforme, veloz, com barbatanas flexíveis, como vemos em barcos de lemes flexíveis, ou nos aviões de geometria variável, ou mesmo carros de alta velocidade, o Marlin é um animal.
As barbatanas recolhem para fendas no próprio corpo afim de os tornar mais rápidos.
Lindo, com uma pele azul coberta por uma gordura para que deslize mais ainda, possui olhos que rodam sobre si como vemos nas objectivas de 360 graus de câmaras de filmar ou captar imagem para transmissão de helicópteros.
É bem uma obra admirável que o homem procura reproduzir no seu desenvolvimento tecnológico.
Concluo que o homem tem ainda muito a aprender.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

pela sobrevivência


Ontem, depois daquela notícia que já publiquei, para mim, depois de ter de levar um amigo 2 vezes ao hospital de Faro, primeiro porque iria simplesmente, arrancar uma coisa, espécie de quisto nas costas e não podia poderia guiar, depois, porque mal regressou a Olhão para embarcar, o dreno soltou – se e o sangue jorrou até lhe sair pelos pés. As pessoas entravam em pânico e eu dizia que tinha sido um tiro que lhe havia dado.
E ao menos tirou a bala? Perguntou uma senhora bem algarvia..
Tirei… esqueci - me foi da rolha. Dizia eu a gozar.
Mas o Sérgio começou a trocar as vistas e a não acertar com as palavras, então, foi de ambulância a encher tudo o que era trapo e compressas, comigo atrás, até às urgências do H. de Faro..
Ao fim do dia regressamos às embarcações e, já noite alta, nesta Lua cheia, ouvi – o na cama de rede do tombadilho, ao lado da sua paixão a cadelinha Peny a cantar “Beja – me Beja – me mucho como se fuera la ultima vez………….”.
Adormeci cansado, sem TV, porque o Aries fora assaltado. Até não achei mal já que, sem 220, nem os 24 woltes, que não chegavam para a rádio e nada tinha, em 12 volts eu ficaria entregue a mim próprio.
Acordei e já não vi ninguém.
Propus – me preparar O DIA.
Comprar tabaco ( não fumo, mas os assaltantes também roubaram um estojo de tabaco que me acompanhava, para aquecer nas noites frias), vir escrever a dar continuação ao romance do caraças que me baralha todos os dias, mas há - de acabar antes de mim, depois, fazer a minha refeição. Estou farto de restaurantes, de turistas, de artificialismos. “Sou daqui, aqui farei o meu alimento”. Gritei num desafio quando subi ao convés.
Fui a terra. Entrei no mercado. Nunca até hoje havia cozinhado, excepto, há umas semanas em que tentei fazer 3 cavalas cozidas, com batatas. Sem entender, o fenómeno, quando fui para comer, imagine – se; das 3 restou apenas uma cabeça. Parecia uma açorda. Segundo os especialistas que consultei, o cozinheiro aprendiz, não deveria ter metido o peixe junto às batatas. Jurei vingar – me: Boné nos cornos, entrei pelo mercado a dentro, ali a olhar como se soubesse o que é um escabeche, um souflê, ou um banho Maria. Para este aprendiz, um Banho Maria é apenas qualquer coisa para ser visto pelo buraco da fechadura. Mas essa é outra história.
Bom, voltemos ao mercado do peixe, onde me perdia na variedade. As legendas ajudaram; sabia o formato do peixe e o nome “sarda”. Lá estava, à minha espera deitada, com ares de quem não faz mais nada, numa bancada, a 4 Euros o quilo.
“Para cozer, porque isso eu sei, cavalas ou sardas ?” perguntei a uma vendedeira que me reconheceu. A sarda é melhor, disse, mas não tinha, lamentou quase a chorar.
Ajudei um casal francês que olhava sardinhas com ar tímido e contei – lhes o valor cultural daquela preciosidade no nosso povo e até, lhes fiz o prefácio de “como comer à algarvia”, com a fatia do pão por baixo, com o molho a escorrer, a embeber - se e depois, no final, leiloar o apetitoso naco de pão. Ficaram encantados.
Por acaso o vendedor tinha sardas fabulosas. Comprei duas, deu – me três e quando me descobriu, quis brindar – me. Então, resolveu escala – las, coisa que não faz parte da minha instrução. No final, foi chamar mais dois colegas divertidos; uma festa e uma lição. “Primeiro as batatas, depois, só 5 minutos as sardas, bata as sardas assim, do sal, não deite a mais mas, mas, só 5 minutos..”
OK !!!garanti com ar de apresentador de TV.
Tratei de vários assuntos como, ler os jornais (como se mente a um povo inteiro) comunicar o roubo à Policia de Segurança Publica que me encaminhou para a Policia Marítima que não tinha nenhum perito, nem detective, para as impressões digitais e que me disse que a culpa era da Policia de Segurança Publica porque esses sim, têm tudo mas não querem fazer nada. Estou farto destas merdas que caracterizam o meu país. Que se lixem, o plasma especial de 24 Ws, o estojo, o GPS que o gajo roubou…e sei lá que mais. Que lhe façam proveito. Vão dar – lhe apenas para 3 ou quatro marteladas. Se tivesse roubado mais, dava para uma overdose e o sacana, nem mijou no salão, como eu faria se fosse drogado, pobre e ladrão.
Chegou a hora do almoço. Interrompi o correio da net. Tinha mais de 100 mensagens, desde apelos a uma convocação da Confraria dos Enófilos.
Pus a mesa enquanto as batatas, o tomate e a cebola aqueciam os cus em 1400 graus.
Fui abrir, para respirar entretanto, uma Rosário tinto da Ermelinda da região de Palmela. Olhei o relógio. Piquei a batata várias vezes como os picadores nas touradas à espanhola. Achando chegada a altura, atirei as sardas com o ritual combinado. Disparei o cronógrafo.
Na expectativa, esperei.
Quando comecei a comer, o odor do azeite da Oliveira da Serra, o vinagre de vinho tão tinto, como o meu sangue, a cebola e o tomate, tornaram – se quase afrodisíacos. A sarda, parecia uma amiga minha, quando se despe…
Mas, qual não é o meu espanto, ao enfiar o garfo na batata, a filha da puta estava tão rija como um calhau.
Interrompi o banquete. Como um SS enfurecido, saquei as batatas que voltaram de castigo, ao fogão, sob a ebulição a 1600 graus, para retornarem 10 minutos depois, mansas, dominadas, domesticadas, subordinadas, como convém para saciar o apetite legitimo de um cidadão informado, decidido e determinado.
Escusado será dizer que quase um litro de Rosário, confirmou tudo, tanto, que jurou estar de acordo comigo em quase todos os pensamentos que se acotovelavam:
Choramos ambos ; vai nascer um puto ou… que vou amar, vou olhar o céu e agradecer as benesses do Senhor… qual senhor? sei lá, o gajo que baralhou tudo, que faz os ricos roubarem os pobres, os pobres a serem estúpidos e os jornalistas, parados da cabeça, a vendedores do templo.
Vou descansar. Dormir embalado….também mereço…
xxxxxxx
Acordei a meio da tarde: no rádio da sala, 1 morto e 10 feridos. Um grupo, dos muitos milhares de motares que vêm para a concentração anual de Faro, espalhou – se na auto - estrada.
Olha do que me livrei.
Só então, me concentrei e reparei que a cozinha e a mesa estavam numa lástima. Que tragédia…não se pode ter tudo.



Logo pela manhã estava eu no Aries, na Ria Formosa quando toca o telefone:
Está Pai. Tudo bem? (era o Ricardo)
Sim filho e por aí?
Também.
Então?
Só para te pedir que trates bem a Emily.
Aqui a minha cabeça rodou 360 graus. Eu trato, como se minha filha fosse, a mulher que o meu filho escolheu e que me deu a neta mais maravilhosa do mundo… agora…
Sim Pai, é que ela vai…. dar – te… mais um neto.
Senti o barco baloiçar, a vida a sorrir e um menino igual ao Cado que tanto tenho amado.
Senti – me com um maior peso sobre os ombros, mas curiosamente, mais rico, não de dinheiro, mas mais rico de mas de vontade, de animo, de coragem, de amor, a enriquecer, isto é, a pensar que valeu a pena ter enfrentado a vida e constituir a família que fiz. Mesmo com muitas incompreensões, com momentos dramáticos, mas com muitos, muitos momentos de grande ternura e alegria.
Pouco depois, no telemóvel uma mensagem da Peggy : Vamos ser avós outra vez.
Telefonei – lhe.
“ Já viste? Estamos tramados…” Disse ela, no fundo alegre, porque a vida é mesmo uma aventura assim.
Estamos, estamos, apreensivos. As condições de vida estão a complicar – se, o futuro complexo, viciado, tortuoso, apresenta – se incerto e preocupante e vem aí mais um para a família. Vem meu amor. Poderás vir a ter uma mundo difícil, mas ter+as uma família que te vai ajudar e estar até lado até quando for possível. Traz – me, mais uma razão para lutar.
PS : E tu Nono ? Prepara – te. Lá para a Primavera, vais ter um maninho ou maninha, vais ser a mais velha, tu que sempre que fazes qualquer coisa, nos teus vinte e poucos meses, como arrumar um brinquedo, dar um beijo, ou acordar, dizes, feliz “já está” podes dizer “já está e… estamos todos à espera”.

sábado, 9 de julho de 2011

NA HORA DE ACORDAR


Caro Ruben
Não sei se o texto é teu, mas se não sabes de quem é a responsabilidade, aqui a minha opinião.
A responsabilidade está nos órgãos de comunicação, que dominados pela economia e pela alta finança e portanto por uma legião de jornalistas “mercenários, uns conscientemente outros, pobres, levados pela tradição do seguidismo, do politicamente correcto, pela corrupção e pelo anti - esquerdismo primário, manipulam a opinião publica que vota ( minoria da população) nos que, convêm aos patrões deles, os “mercados” internacionais que, como nos vão entretendo à sua maneira.
O Sócrates, a quem chamaste tantos nomes feios, foi um triste manipulado, afinal, como o Passos que, se continuarem a portar - se bem, vão para o lado o Durão, para ajudar a Merkel e outros, na sua cruzada a favor dos billionários que se escondem.
Vamos a acordar. Está na hora!!!!
Hoje mesmo ouvi o Cavaco, o Chefe do Estado a apelar no seu estilo esquizofrénico à privatização da saúde.
Ora se ele é o presidente de um Estado que ele deve defender, enriquecer, fortalecer, e respeitar, ele, quer afinal é esvaziar esse Estado em benefício dos seus amigos Melos e claro dos tais que bem sabemos e andam à solta.
Eles como vês, são o que nós quisemos.
Agora, é tempo de
* lutar por órgãos de informação independentes, porque sem eles não há a liberdade que apregoamos, depois,
* com eles, exigir julgamentos e punições para os “vígaros” que nos têm intrujado e desviado os dinheiros públicos, depois é
* elegermos os, não os mais Vips, charmosos ou melhores vendedores da banha da cobra como o famoso e versátil prof. Marcelo.
Não precisamos de inteligências. Precisamos de gente honesta, simplesmente.
OK?
Um abraço ao (Ruben) que foi meu colega no Jornal de parede do LNO e que recordo com admiração.
Teu

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A CONFRARIA


( informação pessoal e confidêncial)

Meu caro
Venho esclarece- lo de que a partir de agora, quando se tratar de escolher vinhos a palavra deste seu amigo deverá ser levada em conta já que no passado domingo o mesmo, foi "entronado" como CONFRADE DOS ENOLOGOS DO VINHO DE CARCAVELOS, pela mão do Gão Mestre Isaltino.
Assim ao dispor para qualquer informação vinícula
O Énólogo (entornado) Luis P de Sousa

quarta-feira, 29 de junho de 2011

PORTUGAL EM SALDO


O único lado louvável é que se até aqui fomos enganados, agora não; o assalto faz – se às clara e com o consentimento da pequena parte da população que votou.
Muito me engano, ou o meu País segue na mesma rota que o Titanic. Embarcamos num percurso pouco claro pela mão de um timoneiro determinado e uma sua tripulação que vende a alma ao dinheiro de uma forma clara. Honra lhes seja feita pela clareza com que actuam: isto está à venda e pronto.
Como se tem visto, pelos últimos tempos, este não é o melhor caminho. Um pouco por toda a Europa a efervescência vem à tona nas respostas ao que chamam crise, que mas mais não é que o cerco do capital à politica social.
Culpam o FMI, a Banca Europeua, a Comissão Europeia, a Merkel e o Sarkosy, mas eles nada mais fazem que defender os seus interesses de dominadores e garantes da continuação da banca agiota e cega.
Depois, de um socialismo que pouco era, entre nós, vem o neo - liberalismo esfomeado de dinheiro, privatizações, domínio do privado sobre um Estado que será reduzir a zero ou pouco mais.
Capciosamente o PS tinha permitido o avanço do capital privado sobre o público. Quando já era de mais, quando o Estado se esvaziava em excesso, avançaram os financeiros que substituíram num instante o poder. Agora o País ficou em saldo e na mão dos fazedores de dinheiro sujo e de agiotas oportunistas. Venderemos o ouro, os anéis e os dedos.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

FAZER de CONTA


Há gente com a alma cinzenta e a cara pintada de ocre, cor da terra, do barro, da merda e encolhe os ombros, a olhar para dentro, sem saber para onde olhar.
Cansa – me ver tudo mais na mesma, enquanto se anunciam alterações drásticas na sociedade portuguesa: temos novo 1º ministro, novo governo, gente jovem… agora é que vamos ver como a direita manda, vamos ter que aguentar as imposições da Troika, ajudar as PMEs ,sem desapoiar o patronato, a banca e os privados que tanto precisam de carinho, etc, etc….
Sei que ainda é cedo…
Passos Coelho partiu logo à procura do calor dos neo liberais, dos responsáveis pela degradação mundial, que haviam tido a compreensão de Sócrates, governo que de dizia de esquerda e dela pouco fazia, ou fazia pouco.
Partiu para Bruxelas, ainda sem se sentar no trono governamental. Notícia: viajou em classe turística e mais ainda; o governo não vai ter férias.
Apressou – se a informar que a notícia dos bilhetes na Tap não foi divulgada pelo seu gabinete, mas confirmava que na Europa, só em turística. Quanto às férias, este ano, nada. A vontade de trabalhar é muita, pensamos nós.
Esta do gabinete não ter divulgado e a notícia vir nas primeiras páginas é grave. Tratou – se de uma fuga de segredo? Logo, a primeira…Por outro lado não estará Passos Coelho a lesar uma empresa portuguesa ao poupar assim tanto? Não é que, ao viajar na Tap em executiva estaria a dar lucro à empresa?. Se fosse a Luftansa ainda se admitia, agora poupar na TAP? Depois só na Europa? Porquê? Quando forem para a India, China ou Luanda ou N. Yoprk irão em 1ª? Será para poderem esticar o pernil, enquanto na Europa viajam encolhidos?
Agora as férias. Também era melhor que, ainda sem terem feito nada, partiam para a Republica Dominicana ou para a Caparica de toalhinha e panamá? Também era melhor.
Para o avisar dir – lhe – emos, caro 1º Ministro a quem desejamos boa sorte, que já há muitos portugueses a seguirem o seu exemplo; pararam o carrinho, ainda não pago, passaram a andar a pé, ou nos metros e camionetas que são lucros a administrações gulosas e a privados e quanto a férias, este ano… transformaram – nas em camas de rede. Não para descansar, mas porque se caírem a queda será menor.

quinta-feira, 23 de junho de 2011


Espero descansar um pouco. Recostar – me, dormir, beber um copo, ler , reorganizar ideias e voltar ao mar.
Acabei as filmagens do Ultimo a sair, este programa da RTP1. Foi uma experiência inesperada na minha vida, monótona e previsível.
Não que tivesse trabalhado demasiado, mas apenas porque fui apanhado por uma infecção respiratória que me ia matando. Só não morri porque não quis.
No hospital não me queriam deixar sair porque estava a ser difícil debelar a infecção que me poderia levar à pneumonia que se anunciava. Não podia emperrar o trabalho de dezenas de jovens com quem estava empenhado, numa tarefa que nos parece ter sido interessante e válida.
Confesso que foi com muito sacrifício que fiz estas deslocações quase que diárias a Alcochete onde gravávamos sob intenso calor e à noite, no final, no exterior, um frio cortante provocava o que menos queríamos. As imagens mostram bem no meu rosto, o esforço que fiz em certos momentos. Mas valeu o sacrifício.
Nunca imaginei fazer as figuras que fizemos: ser filmado a urinar para uma parede e a tecer laudas à minha prostata, entrevistar 3 contentores do lixo, presumíveis familiares da Gorda, fazer um Karaoki mais desafinado que um carro eléctrico a descer da Graça, ou acorrentar – me na RTP, até que me dêem um programa.
Eu que sempre me ri de mim, para mim próprio, passei a rir em público, sem medo que o meu perfil se deslustre, ou o bom nome caia na lama. A TV, tal como os outros meios que conheço, são uma fantochada que importa e urge desmistificar se queremos um publico esclarecido e lúcido. Trabalhar para estúpidos não engrandece quem trabalha.
O mal dos nossos fazedores de opinião, políticos, jornalistas e comentadores é imaginar que o povo é uma massa de gente atrasada e incapaz de distinguir ironia, non sense, de aceitar o desafio da imaginação ou do surreal. Em parte têm razão e disso se aproveitam, mas não podemos continuar a fazer de bobos para que o povo se sinta feliz e não raciocine.
Ouvi muita gente na rua a manifestar – se ofendida pelo programa, e muita também a dar – nos os parabéns pelo arrojo, pelo humor e pela forma como caricaturamos ou criticamos as figuras vip, e os modelos nacionais. Chamar a uns, estúpidos e a outros inteligentes é uma maneira simplista de resolver o nosso défice de comunicação responsável pelo atraso em que nos encontramos.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

10 de JUNHO UMA RAÇA DO CARAÇAS


10 de Junho
DIA DA RAÇA

Perdão. Não se pode dizer “da raça” porque tem uma carga racista, diria mesmo, nazi.
Deixem – se de histórias. Com estas manias é que nos enganam. Pensam que somos como os suecos?, como os chineses?, ou, como os indianos?
Não. Somos verdadeiramente descendentes dos lusitanos que, como dizia um admirado general romano “não se governam nem se deixam governar”. Éramos assim, antigamente, éramos.
Hoje, não nos governamos, mas deixamos – nos governar, como uns senhores querem e lhes apetece. Se não, vejam as últimas eleições. Íamos a descer e optamos passar a entrar num precipício, como se comprova com o prognóstico desses especialistas, cuja palavra aceitamos voluntariamente e com muitos aplausos entregando - lhes o nosso VOTO, a única arma de que dispomos.
Usam o esquema estúpido, em prática em certos programas de TV, para onde a população telefona: “CAMÕ..S. Um grande poeta português. Complete a palavra. E a gente vai tele… ou …votar”. É assim que nos tratam.
Está então decidido que temos que pagar o dinheiro que nos emprestaram e foi para o bolso de uns quantos políticos, empresários e banqueiros. Temos nós que pagar se queremos ser honestos como diz o PR, com o seu ar seráfico.
Afirmam à boca cheia que vivíamos para lá das nossas possibilidades.
Sim, mas já viram que o cidadão comum afinal, não possui nada? A casa é paga em 30 ou 40 anos e paga – 4 ou 5 vezes, o carro é pago em 60 meses, os estudos dos filhos são pagos por empréstimos e quando forem doutores vão para a caixa de um supermercado de mãos estendidas a qualquer Belmiro.
Os portugueses já não são possuidores do seu próprio território ou património. Isto porque a Banca encheu – se à nossa custa e o Estado vendeu e vende o que nos resta.
Nós vivemos acima das nossas possibilidades.
Então, pergunto: e os ricos que ficaram com os cacaus, esses, não viviam acima do que seria justo? Eram então os pobres que viviam na maior, nós que somos o povo mais pobre da Europa… Uma vergonha macabra.
Preocupam – se com os tostões que o Estado dava e vai deixar de dar, pelo rendimento mínimo e pelo subsídio aos desempregados, mas pelo que a Banca amealhou, pelo que os gestores e administradores das publico privadas metem ao bolso (milhões cada um), isso não… Temos políticos que não governam, mas governam – se.
Eles continuarão impunes a ganhar, a desviar, a gozar à nossa custa. Nós, vamos pagar ainda mais.
E continuamos, a acenar as bandeirinhas.
Levados por uma comunicação ardilosa, ajoelha – mos reconhecidos. Só não vamos a Fátima a pé, agradecer, porque muitos, já nem têm sapatos que cheguem para o regresso.
40% dos portugueses encolheram – se porque a sua cabeça não entende o que se passa, tal como o pretendido pelos fazedores de opinião, que é isso que fazem; o cultivo da dúvida.
Vinte e tal por cento disseram: Assim, NÃO.
Restaram os trinta e tal por cento que fizeram o disparate letal, de que seremos todos, vítimas.
Somos de facto UMA RAÇA especial, UMA RAÇA DO CARAÇAS

A RUI TAVARES DO BE

Caro senhor Rui Tavares
Os meus cumprimentos.
Sou leitor assíduo das suas crónicas.
Verifico que, toca, agora, numa questão fundamental para a sociedade portuguesa: a clarificação urgente e necessária dos significados de “direita” e “esquerda”.
À afirmação estratégica, vulgar e conveniente de que “já não se usa” há que retorquir “pois que se volte a usar”.
Fomos levados durante décadas de salazarismo, a um anti - comunismo, ou até anti – socialismo, primários, com o objectivo de nos serem vedados ideais que nos orientem para ideais humanistas e sociais, incómodos às elites dominantes.
Isto, ainda ocorre hoje com evidente eficácia. Com truques de dialéctica, de simulação, de prestidigitação, na Comunicação Social, de selecção, de uma forma sub-reptícia, mas perceptível, a quem ali trabalhou durante muito tempo, pois, a “esquerda “ tem de ser o lado mau, caricato, e anacrónico da democracia.
É a questão determinante entre nós. Jó assim se justifica que em vésperas de naufrágio, ainda se vota em quem o originou. Maneira aberrante de se assistir a um funeral. Para esta população, mais grave que isto, só um governo de esquerda. E não sabe porquê.

Há pessoas que votariam à esquerda, mas se lhe perguntarem porque não o fizeram, respondem simplesmente: “porque não”.
Esta ignorância atávica, semeada paulatinamente pelas nossas TVs, rádios e jornais, é o único garante da continuidade desta elite económica e política, detentora da palavra e do recado dos donos dos órgãos de comunicação e do seu séquito fiel que só assim subsiste.
Diz – me – à que há pluralismo nos média. Não há.
Repare; nas trinta e tantas páginas do jornal onde Rui Tavares publica, não mais que uma dá assomos de liberdade de expressão. Entre 20 ou 30 fazedores de opinião, só 1 ou 2 são de “esquerda”, perdido na amálgama de afirmações e insinuações que logo ali desmontam e montam a seu belo prazer.
A colocação de uma notícia no telejornal, os planos registados e os transmitidos, a apresentação e pós apresentação dessa notícia, a fotografia, a linguagem e a oportunidade, adulteram qualquer hipótese de comunicação honesta e pluralista.
É por aqui, que os partidos de esquerda, numa “campanha”, verdadeiramente nacional, como serviço publico, cruzada ou movimento de salvação, (porque não?), têm que começar.
Só assim lograremos uma população livre dos anti - corpos ardilosamente disseminados e cimentados no entender geral.

terça-feira, 7 de junho de 2011

MISERIA INSTITUCIONALIZADA


Os políticos, incapazes de porem cobro à fome que avança, a olhos vistos, passaram a apoiar qualquer espécie de esmola que sirva para adiar as soluções que cada vez se tornam mais inadiáveis.
Uma das grandes iniciativas que tem o apoio, desde o domagnânimo Presidente da Republica, a distintos lideres políticos, incluindo alguns ditos da esquerda, é o Banco de Alimentos. O carácter bondoso da população e o negócio crescendo dos supermercados, intensificou – se. Igualmente milhares de portugueses, agora também da classe média ( a descer) passaram de mão estendida, a deslocarem – se aos armazéns do BA para se abastecerem.
Começou há cerca de 3 anos. Circunscrito à oferta de sacos em supermercados que cada cliente deverá adquirir comprando ali e devolver devidamente cheios aos voluntários presentes, conhece agora novas formulas.
O BA constituído em Federação, devidamente regionalizado, adaptou – se às novas tecnologias e na NET recolhe 68 mil toneladas de alimentos numa semana, quantidade reveladora da tragédia que se abate sobre o pvovo mais pobre da Europa..
Seria de louvar a adaptação à modernidade das suas e nossas capacidades, se não fora o objectivo tão trágico como vergonhosos.
É tão degradante o gesto de dar esmola, como é o do autismo da classe política, que prefere olhar para o lado, em vez de solucionar o problema da fome e da miséria. Prefere apoiar estes gestos colectivos, que nem aos católicos deve orgulhar.
As campanhas de solidariedade, em crescendo, são verdadeiras campanhas de miséria e vergonha para o Povo português que ainda, a exemplo dos seus governantes, não consegue distinguir “esmola” de “direito mínimo” para viver com dignidade.
PEDELEKE em reparação

segunda-feira, 6 de junho de 2011

NA BOCA DO LOBO


Sai de casa ontem pelas 20 hs. Aguardei até ouvir os primeiros resultados das Eleições.

Fui jantar ao Palácio da Independência com a equipa com que trabalhei no último mês.
A política passava à porta. Só amigos, arte e missão cumprida.

Sócrates foi corrido por má figura. Os socialistas saíram calados que nem ratos.
Passos o grande vitorioso. Ufano, mas sóbrio.
O Bloco de Esquerda, em quem eu depositava confiança, molestado, encolhido e envergonhado.
Entendo os resultados: Grande abstenção. Não havia em quem confiar.
Os portugueses não queriam mais o PS porque estavam assustados, com razão e foram – se meter na boca do lobo.
Ignorantes, mal informados ou teimosos, vão aprender a lição.
Será muito bem feito.
A democracia para nós é uma aprendizagem…
O pior é que só se aprende na Comunicação e essa é e será sempre a dos vencedores.
Que fazer?

O ULTIMO A SAIR


NO PAÍS MAIS POBRE DA EUROPA
O ULTIMO A SAIR
Venho aqui hoje, depois de uns dias muito agitados.
Fiz o O ULTIMO A SAIR um programa na RTP que pretende satirizar os programas Reallity Show e de uma maneira geral a informação engravatada, pondo a nu a hipocrisia, a vaidade e a instrumentalização. Gozei comigo próprio, pois então? Quem sou eu que até já nem uso gravata?
Só por isto aceitei o desafio desta equipa muito, muito jovem. Parece ter sido uma pedrada no charco.
Pela parte que me toca, fui ridículo, controverso e mostrei o outro lado de mim próprio que andava escondido no politicamente correcto.
Nem toda a gente entendeu assim. Paciência. O mal é deles.
SEM RESPIRAR
Entretanto tive uma infecção nas vias respiratórias que me levou às portas do Hospital. Queriam internar – me mas os compromissos, num momento nevrálgico venceram… e milagre, depois de 3 semanas, com tratamento in extremis comecei a melhorar. Estou convalescente, mas já respiro.
Apanhei um grande cagaço: é que além do mais não há semana em que 2 ou 3 amigos, ou conhecidos até mais novos, alguns embarquem para o além. Não tinha graça nenhuma em que ando cheio de tesão e de amor.
O VOTO
Por último, venho aqui porque depois de amanhã há eleições.
Antes do resultado quero deixar aqui para mim ou para algum curioso que pouse neste galho, a minha convicção de que não vão melhorar a vida dos portugueses.
A campanha tem sido uma fraude, como aliás a nossa vida politica e colectiva de há uns 20 ou 30 anos. É uma vergonha: a comunicação domina e prepara como os patrões dos média recomendam, o voto da cambada de vesgos que vêm TV como quem come tremoços. Ou pior ainda, estes, até comem as cascas a julgar que lhes fazem bem.
A grande fraude está no ar e nos jornais. É uma traição, uma escandalosa falta de respeito pela população que segue como se ela tivesse a última palavra. Mentira. MENTIRA!!!!
Virei aqui no dia 6, espero.
Estou farto desta merda.

sábado, 4 de junho de 2011

TEMPO DE REFLEXÃO



Espero que dê frutos.

domingo, 17 de abril de 2011

entrevista na SIC



Estava no barco, quando, entorpecido pelos sons do relato de futebol Porto - Sporting e pelo noticiário da tv, comecei por desligar a TSF e depois passei para a Sic. Nem de propósito; a minha cara na entrevista que a Ana Paula Almeida, jornalista do Balsemão, me fizera há 15 dias. Detesto aparecer assim.
Por coincidência, 3 ou 4 dias depois, encontrei esta jornalista, bem simpática por sinal, no restaurante do seu Pai, um senhor que conheço há muito no Fiorde em Tires, onde vou de quando em vez e tenho de voltar por causa da lampreia.
Não sei se a reportagem começara há muito, mas creio que não. Queria saber o que faço nesta altura. Fiquei, ou se calhar mantive, a cara de estúpido com que ando muitas vezes e disse que dedicava agora mais atenção à família, aos animais, que fazia umas locuções na Via Satélite e que escrevia, escrevia em blogues e gostava da experiência.
Depois, aparecia a brincar no jardim com a minha cadela Mia, a siberiana de olhos cinzentos, enquanto a locutora dizia o que eu não garanti, que estou a ultimar um livro que observa o mundo da comunicação em Portugal e promete revelações importantes.
Não é bem isso. Não é comunicação em Portugal, não ultimo coisa nenhuma, nem sou aquele idiota que falou há momentos no telejornal.
Cada cavadela uma pedra. Quem me autorizou a dar a entrevista? Mais valia que estivesse calado. Não sei guardar um segredo. Nunca mais aprendo.
Mas, agora reconheço que se não disse qualquer coisa estúpida e banal não interessava porque afinal, é apenas isso que interessa às Tvs e a quem as dirige.
Ó menos o Porto ganhou.

tomar notas é preciso...mais do que nunca



“Para compores (grupos de) figuras em quadros históricos – depois de teres estudado bem a perspectiva e de já saberes de cor as partes e formas dos objectos – deves sair, observar, estudar e anotar constantemente as circunstâncias e o comportamento dos homens, quando estão juntos, conversam, discutem, riem ou lutam. Deves observar as acções dos próprios homens, bem como as dos presentes que os separam ou se limitam a olhar.
Toma notas com traços leves num pequeno livro, que deves ter sempre contigo. Deve ser de papel colorido e que não possa ser apagado, uma vez que essas coisas não devem ser apagadas, mas sim preservadas com grande cuidado, porque as formas e as posições dos objectos são tão infinitas que a memória é incapaz de as reter a todas, pelo que deves mantê – los (os esboços) para te servirem de guia e de mestre.”

Assim falava mestre Leonardo em 1500.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

UM GRANDE AMOR



Fui ao estaleiro. O Aries terá de vir a seco para a inspecção pelas autoridades. É a enfermaria dos nobres barcos, receptáculos de tantos sonhos, de viagens feitas e de viagens por fazer.
Lá estava o Arca de Noé do meu amigo Sérgio. Trata dele como de um parente próximo. É a sua velhota. O Arca de Noé que tem cem anos é a paixão, o mundo, o reino deste homem que um dia disse não à loucura da cidade e lançou ferro ao mais profundo da alma, para assegurar a sua paz.
De madeira, com um século, este barco de pesca transformado em iate de luxo tem cumprido aristocraticamente a sua missão, mas o reumático a dada altura ataca todos. E ali está combalido mas nunca moribundo.
Tratado com carinho como sempre; uma travessa aqui, um gel, acolá e voltará a ser a suite de um belo hotel flutuante.
Bons ventos para o Arca de Noé e para o seu comandante

POR MARES E MARÉS



Ainda por ali, descobri este outro veleiro, ou melhor, uma caravela, mas de origem chinesa, a agonizar num descampado próximo.
Tem mais de 20 metros. Todo em madeira de alta qualidade, com incrustações soberbas, com um porte altaneiro. Deverá ter sido uma embarcação linda a sulcar ondas e a enfrentar ventos por esse mundo fora.
Lembro – me de a ter visto, há meia dúzia de anos, na Marina de Vila Moura, onde gozava de saúde e era motivo de frequentes elogios, mas a vida dos barcos é como a dos homens… tem momentos difíceis.
Consta que veio até cá sob as ordens do seu dono e timoneiro chinês, que escolheu estas paragens para morrer. Seu filho, voou até ao Algarve para se desfazer da herança do pai, mas ninguém se atreveu a marear com esta embarcação para nós, difícil e estranha, apesar de bela.
Até alguém mais corajoso, acabou por a comprar. Mas o tempo é mais feroz que a vontade dos homens e dia para dia, o altaneiro barco chinês vai ficando alquebrado, perdendo o brilho e o porte saudoso dos bons velhos tempos de glória.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O fusivel da CP




Hoje dei a minha primeira resposta ao histerismo nacional. Resolvi vir de comboio de Lisboa até Olhão. Gastaria um décimo do que gasto como automobilista e não teria trabalho de motorista de longo curso.
O País está em crise. Grita – se por todo o lado como se a crise não estivesse há muito na consciência dos menos distraídos.
Pensei que, antes que o FMI me obrigue, diria não à Brisa e à Galp dois dos expoentes da nossa trágica condenação. Não se pode ir a lado nenhum que não tenhamos que pagar para lá e para cá, às crescentes e asfixiantes portagens desta tentacular concessionária de auto – estradas. Ao mesmo tempo diria, não, à petrolífera distribuidora que se esforça por manter no pais mais pobre da Europa, os preços mais elevados, ante a clara aquiescência dos senhores da Entidade Fiscalizadora.
E lá entrei em primeira classe, em Entre - Campos, munido de computador e alguns livros, não fosse por acaso desviado, ou sequestrado.
A carruagem parecia fretada a uma associação da 3ª idade. 90% dos passageiros são da 3ª idade porque estes gozam de 50% de desconto. (12 Euros) Boa!!!!. Havia casasis algarvios e alentejanos que pareciam festejar as bodas de ouro.
Estava feliz a apreciar esta concordância entre necessidade e direitos, quando o cobrador veio comunicar que uma avaria de, já alguns dias, um fusível, não permitia que houvesse ar condicionado na carruagem de 1ª classe “Se quisessem, que fossemos para a de 2ª”.
Recostei – me no assento, saquei do PC e avancei para o windows. A dada altura, tive que ligar à electricidade. Nada. Chamei o comandante. Que não era possível, primeiro porque os fusíveis pifam e depois, porque “esta carruagem não tem estabilizador de corrente”.
Não, nem isto iria estragar a minha vingança e o prazer de dizer não à crise. Emalei o pc e saquei do Corrier. De quando em vez, as localidades sucediam – se. Desviava a leitura para o exterior, já alentejano, com sobreiros e oliveiras até ao horizonte, bordado por flores brancas, como mantos de neve nesta primavera. Achei lindo, até sentir apetite.
Um cafezinho e um queque bastariam até chegar a Olhão onde avançaria para uma pizaria como o Napoleão por Itália, pensei.
Lavar as mãos. WC livre, corri. A torneira, nem pinga e o secador nem bufa. O almirante sorridente “É dos fusível”. Paciência, vai um cafezinho? perguntei cordial, para esquecer o filho da puta do fusível. Não. Não. Diz – me o porta - voz: A máquina não funciona, mas tem cerveja que não está fresca mas…
Voltei ao meu lugar sem desanimar.
3 horas e tal depois de Entre Campos, entrava em Faro onde mudaria para Olhão.
Corri para as casas de banho. “Só há esta”, apontava um funcionário da companhia, sorridente à espera da minha cara ao olhar para uma caixa metálica, cheia de ranhuras, que colocaram no meio da gare. Procurei uma moeda. Não tinha troco. Era só para lavar as mãos. Supliquei. O solícito e divertido recepcionista sugeriu que fosse ao café. Espreitei. Faziam "bicha" para o WC. A chave andava de mão em mão.
Comecei a ter vontade de urinar.
Embarquei no outro CP, para chegar a Olhão.
Com a mala com rodinhas que me perseguia, tão enfurecida como eu, subi ao Aries onde antes de tudo, tomei um duche compensador.
Enquanto devorava a prometida piza com camarão, pimentos, tomate e todo o menu de outros acessórios, reconhecia, para mim mesmo, que para a crise o melhor é sorrir e enfrenta – la com determinação, mesmo se o FP do fusível não funcione.

segunda-feira, 21 de março de 2011


Voltei à rotina e à dieta. Tenho também andado arredado das minhas escritas que ficaram apenas por este blogue feito a pensar em mim e em mim também e apenas. Não acredito que alguém leia as vulgaridades que vou debitando. Não importa. O que interessa na vida é o que fazemos sem prejudicar alguém, porque esse alguém é outro como nós, mesmo que não queiramos acreditar.
Fui ao ginásio. Tudo na mesma. Não vi o Dr Borges; um homem, cirurgião famoso que com 96 anos é dos mais assíduos na hidro- ginástica. Com o seu bom humor e as suas 15 operações, depois de uma está pronto para outra, como diz. Brinca com o facto de ter esta idade e se sentir tão jovem. Mas, quando não vem, sinto a sua falta e a falta da sua juventude. Esperemos que esteja numa das suas viagens pelo mundo.
O meu jardim e para lá dele, a horta e para lá dela, o pinhal, estão invadidos por uma planta infestante que teima em estrangular todas as outras. Nasce sorrateiramente, cresce depressa, lança os seus ramos fortes e decididos por sobre as outras, não importa quais. Não pede licença, é inesperada. As outras murcham. Não lhes podem fugir.
Até é bonita. Não sei como se chama nem como extermina – la, mas não gosto de quando um ser vivo invade o espaço dos outros e passa a decidir pelas suas vidas. Pensei em dar – lhes um espaço só para elas, onde pudessem ser felizes à sua maneira, mas não. Tive que tomar uma decisão.
Tive esta dúvida metafísica quando com uma machada as cortava a esmo, para evitar que as sementes se espalhassem mais e então é que, para o ano, não haveria mais espaço aqui, para o reino vegetal. Tive pena. Mas as minhas eternas dúvidas de adolescente voltaram: Será que não têm direito a viver?
Mas a viver tirando o espaço aos outros? Viver é um direito delas sem esquecer o das outras. Até duas pequenas palmeiras já estavam a sucumbir à sua asfixia.
Lembrei – me dos banqueiros e especuladores e dos políticos empoleirados nos interesses próprios, que avançam trepando pelo capitalismo selvagem e agrilhoam milhões de seres humanos que rastejam a seu lado.
Não. Não aceito. Tenho que fazer justiça. Voltei á catana e só parei quando já não via as flores, que até eram bonitas.
Mas, é impossível pelo menos à catanada. Sei que para a semana ela aparece escondida e volta à carga. É assim o vício, como o vício do dinheiro.

ARRAIA ALHADA



Como assinalei, ontem foi Dia do Pai. A descrição tombou para o dia seguinte.
Sou um nabo nas artimanhas da cibernética.
Mesmo assim, cá estou para dizer que, como as fotos descrevem começamos o dia na Feira de velharias em Almancil, local onde aparece de tudo e em profusão, gente oriunda de leste, que compra e vende porque a crise é para todos.
O Fausto não ia muito interessado. É mais dado às grandes estâncias de Golf de Sky na neve e da Nouvelle Cuisine. Coisas destas, não lhe assentam no pé, por sinal agora lesionado, mas, mesmo contrafeito, honra-nos com a sua companhia e com o seu permanente bom humor (noblesse oblige).
Era o último dia da tourné, porque combinamos regressar a casa às 18 horas.
Acabei por comprar uma torneira para um pipo onde faço vinagre como manda a tradição, a Henriette comprou uma tesoura de poda, a Peggy seguiu – lhe a sugestão para além de uma moldura antiga onde vai colocar a arvore genealógica e o Fausto rendeu – se ás tecnologias: uma lanterna das que se fixam dentro dos guarda - fatos.
Depois, claro, fomos até aos D. Rodrigos e depois à tão apregoada Arraia Alhada que se fez em meia hora.
Entretanto, comecei a preparar o Aries para a nossa retirada; no check out; baterias com um problema, esvaziar depósitos, ver amarrações, velas bem presas, all buois (não sei se é assim) bem fechados, válvulas e bombas de fundo etc. Já cheirava ao refogado e na coberta a mesa esperava.
O Sérgio ficou ao lado da roda do leme. Estava desconfiado, mas garanto; tudo estava soberbo. A raia oferecia – se desnudada, numa brancura angelical, acompanhada por batatas e cebolas às rodelas como se de acessórios se tratassem, tal como o vinho branco fresco e o pão de sementes, depois os morangos com gelado, o bolo de chocolate que a Henriette fez ao estilo holandês e ainda veio o café que tomei na chávena de comandante com base em latão com dizeres náuticos, tudo arrematado com um wisky de 20 anos.
Desta vez Sérgio, o crítico mais odiado da navegação ligeira portuguesa, não teceu comentários depreciativos excepto a opinião de que os alhos deveriam ser cortados aos pedacinhos e não esborrachados, questão que será objecto de uma pesquisa hitórica brevemente. É que, segundo ele, este pormenor influi no resultado final. Por isso não deu a nota máxima 10, mas os restantes participantes deram 15.
Posto isto quem não resistiu recolheu aos camarotes, para uma soneca, enquanto os restantes permaneciam a torrar ao sol que já vinha dos lados de Faro.
Chegamos às 18 e partimos. Gasolina a 2 euros e 60 e as portagem de braço estendido como pedintes. Pobres Melos, Isabel dos Santos, Champalimauts, Brisas e outros que têm tudo mas dificilmente comem melhor e em tão boa companhia uma Arraia alhada assim.

domingo, 20 de março de 2011




Era hoje que o fenómeno ocorreria. A Lua estava no local mais próximo dos últimos 18 anos.
À parte as marés serem grandes e uns pares de jovens revelarem à beira - mar os efeitos da testosterona a ferver, nada mais faria crer que andaríamos aluados.
Aos sábados a feira é um motivo de passeio, pelo menos enquanto se vai ao mercado encomendar a Raia para fazer uma “Arraia alhada”, como dizem os algarvios, ou comprar os jornais, ou tomar um café na esplanada junto ao mercado que fervilha de estrangeiros e nacionais que mercam as suas produções como se fazia há centenas de anos.

É tranquila esta Olhão.
Comecei a receber mensagens e telefonemas dos filhos. Do Luís, o meu varão: “Viva meu pai. É só para lhe dizer que não tenho sido bom filho, mas posso adiantar – lhe que quanto mais vou vivendo e mais velho fico, mais gosto de si. Seu filho Luís”. Em silêncio, a olhar os turistas, os mendigos, os pescadores, os feirantes que pareceram ter ficado fixos, numa imagem turvada, desapareceram e eu lembrei aquele menino lindo que no meu próprio dia de anos, já lá vão bastantes, veio ao mundo para me dizer quanto vale a pena viver. Enviei – um beijo só de amor com um obrigado.
Pouco depois era os outros ao telefone; o Miguel a pregar – me um raspanete porque foi lá a casa e eu não estava, depois o Ricardo a falar comigo e a avisar ao mesmo tempo: “não vires isso Nono. Não vás para aí Nono, pára, pára… depois eu ligo. Beijo!!!… “e por último o João que mesmo sendo sábado, saía de uma pós graduação em fiscalidade empresarial. Sem ter consciência disso, este filho segue as pisadas do avô. A estranha matéria está no seu ADN. Como eu gostaria que os meus filhos e netos guardassem de mim a imagem de admiração e respeito que eu cultivo do se avô. Não a mereço.
E quando a “arraia” estava prevista para ser apreciada no Aries, o Fausto descobriu uma casa onde havia Xarém. Sem qualquer dúvida protelámos o anunciado peixe voador para a noite.


O Xarém não estava o que eu esperava. Eles gostaram, mas eu que até sou boa boca… não. Monótono, um pouco seco, pouco aliciante e sem surpresas de maior. Admito que o meu pai, gostava disto, mais por ser deste local quase africano, que lhe falava da sua infância, do que, pelo encanto gustativo. Prometemos continuar na senda do Xarém, porque existem variedades e alguma há - de ser, a tal.
Resolvemos pescar. Fomos no bote do Sérgio. No estofo da maré - cheia víamos algumas tainhas e douradas aos saltos, mas no anzol, nada. Nem queriam o isco, minhoca da boa e langueirão que mais mereceria um arroz, coisas que ofendem o mais infeliz dos pescadores.
Horas, sob um sol acariciador e um mar que parecia um Banho Maria, fingíamos que pescávamos. O Sergio falava das suas conquistas em França, na Holanda, em Miami e no Brasil, O Fausto acabou por atar a linha e sacou do seu frenético sudoku e eu lamentava a falta de amor que vai pelo mundo e cá por casa.
O Sérgio é um dos melhores gastrónomos que conheço; cria pratos como um poeta repentista quadras, mas de pesca, com a maior variedade de canas e outros apetrechos que tem, não escolhe, nem o local, nem a hora certas. Em resumo; já cansados resolvemos acostar ao Arca de Noé e fazer uma sardinhada.



Num cenário inesquecível, de fazer parar a respiração, sob uma lua esplendorosa, onde se liam as crateras, os continentes e os mares que imaginamos, as sardinhas, deliciosas que o “Noé” descobriu, desfilaram, apoiadas numa bela salada, um Altano tinto nos “trinques”, uma sopa tipo `Nono”, como ele diz e por último, porque nos faltava a sobremesa, criou bananas assadas com casca, coisa nunca vista por mim, mas que acompanhada por gelado inesperado, subiu como uma estrela na noite que terminava luminosa e alta.

sábado, 19 de março de 2011

Á PROCURA DO XARÉM


Fomos à procura do xarém. Este prato típico do Algarve recorda – me o tempo em que o meu pai era brindado pelos pitéus, que as irmãs, igualmente algarvias lhe dedicavam. Mandavam vir de Olhão a farinha e preparavam, o prato para o meu amigo. Como ele gostava. Eu em miúdo não queria sequer provar. Tinha que ser agora.
Não encontramos. Num local onde era suposto haver, disseram que estão no defeso, isto é, é proibido a sua apanha durante o presente mês. Comemos espetadas.
Depois descemos ao Doce Olhão onde o Fausto se reencontrou com os D. Rodrigos.
Pareciam dois amigos depois de longa ausência.
Regressamos ao Aries cansados, já ao fim da tarde onde o pôr do sol rivalizava com o nascer da lua. A ria, o céu e lua estavam como a pena do artista para a folha em branco Descansar foi palavra de ordem.
Optei por ler. Trago jornais em atraso e fui aos textos que tenho assinalado para “à posteriore”
À noite o Sergio, no seu inconfundível Arca de Noé, convidou – nos para uns petiscos.
Assim, que derrotamos a dieta que eu pretendia manter. Sucederam – se os pratos e os copos.
É esta a vida de marinheiros em terra. Naufragam sempre.

sexta-feira, 18 de março de 2011

NA DOCE OLHÃO


Tive que resolver um assunto urgente no Julgado de Paz de Cascais. Uma contenda com a Generalis Seguros que contarei amanhã ou depois e que mostra como a industria dos seguros, usando técnicas e estratégicas incríveis, explora as pessoas até ao tutano.
Mas o dia de hoje foi dedicado à vinda até ao Aries - Olhão. Victor e Isabel não puderam acompanhar - nos. O Victor ainda não está bom dos problemas de saúde que tanto atormentam a sua mulher, médica e companheira dedicada.
Vim com o casal Fausto e Henriette que largou o seu moinho no Penedo, para uma incursão na Ria Formosa. O Fausto já está habituado aos mares, mas agora agarra - se a uma canadiana porque torceu os gémeos ao fazer esqui em Espanha. É nosso tripulante assíduo e velejador experimentado na Refeno, a mais importante regata da América do Sul que liga Recife a Fernando Noronha. Não vamos sequer levantar - ancora porque o Aries está com um problema electrico. Conto te - lo impecável já no início de Abril, para nos fazermos para o lado de Espanha.
Mas, o Fausto é também um excelente gastrónomo e eu não me canso de falar sobre os prazeres gustativos dos Algarves. Veremos.
A antecipar, desviamo – nos em Grandola, onde entramos na “A Lanterna”. Comemos um Jantarinho à alentejana; massa, feijão, couve, enchidos e chouriço, Açorda de Abóbora; pão feijão e abóbora e Pataniscas, com feijão. Belo almoço para começar a excursão gastronómica, que inclui naturalmente os D. Rodrigo, as Tartes de Amêndoa, os Morgados, os queijinhos doces etc.
Largamos de Lisboa com o céu encoberto. O Alentejo estava igual mas, como sempre, quando saímos da auto - estrada e entramos na 125 abriu – se uma clareira no céu por onde entra o sol que nos obriga a tirar casacos e camisolas. Algarve e particularmente a Ria Formosa, são o paraíso.
Um telefonema da Via Satélite encurta – me a aventura; tenho que estar em Lisboa na 3ª feira para gravar um programa para a TVCabo. Trabalho é trabalho…
Chegamos ao barco. As baterias estavam nas lonas e parece que a eólica só serviu para as bombas de fundo, já que, segundo me informaram, nestes últimos dias tem havido bordoadas de vento e chuva que fez os barcos andarem aos saltos.
É bom estar aqui e sobretudo, com gente amiga com quem dá prazer privar e desfruta dos mesmos gostos.

quinta-feira, 17 de março de 2011

UM DIA BEM PASSADO

20110315
Já ando a tropeçar.
Não queria falhar, mas, infelizmente, não tenho o método e a disciplina que o José Rodrigues dos Santos, reconhecidamente, um homem que sabe aproveitar o tempo, ainda há dias, me recomendou. Ele, que tal como eu já fiz, apresenta o Telejornal quase todas as noites na RTP, ainda encontrou tempo para assinar, nestes últimos 3 anos, 3 best Selleres, com mais de 4oo páginas cada. Belo exemplo. Como eu admiro este rapaz.
Hoje, foi um dia muito reconfortante para mim. Ando sempre angustiado porque tenho que falar com alguém, escrever qualquer coisa, reunir com, ou simplesmente fazer umas locuções em Lisboa e lamentar – me por isto ou aquilo, mas hoje, valeu a pena.
Hoje adormeci como há muito tempo não fazia; cansado, tranquilo, com uma sensação de dever cumprido, coisa que nunca acontece.
Tinha combinado com o sr Paulo uns trabalhos cá em casa. Reparar umas vedações, cavadelas na horta e no jardim, deitar uns pinheiros a baixo etc.
Eram 7 e 45 e já lhe estava a abrir os portões, ao Paulo e à sua equipa. Cheios de frio e com a vontade de trabalhar que empurra os mais pobres.
Decidido a trabalhar com eles, vesti um fato de macaco, enfiei uma botas, uma camisola quente e a ultima moda de luvas para jardim.
Dei as minhas indicações e fui tomar um sumo de tomate e um café quente, com uma torrada. Enquanto os cães ladravam e os homens trabalhavam. Por entre os vidros, olhava este Paulo que me impressiona até quase às lágrimas.
Paulo tem 33 anos, dois filhos pequenos ( um casal) e uma mulher que adora.
O Zé, é testemunha; há 5 anos quando estava sobre um pinheiro, com uma moto serra nas mãos, soltou um grito. Parou, desceu. Uma dor enorme nos dedos fê – lo parar. Foi ao médico. Logo ali, para começar “esclerose múltipla”.
Mas o homem não desiste. Tem que sustentar a família. Continua a fazer o que pode.
Juntam – se a ele uns quantos outros trabalhadores que orienta e a quem vai arranjando trabalho.
As coisas complicam – se. As mãos e os pés começam a deformar – se dia a dia. Emagrece com os tratamentos, faz fisioterapia e há 3 anos o doutor dá- lhe um ano de vida.
Mas o Paulo, não pode parar. Diz – me que é para esquecer as dores e porque tem os miúdos para criar. A mulher voltou, a trabalhar, agora que o mais velho pode ir para a escola e a pequenina para o infantário.
Com as mãos encarquilhadas, com uma ferida que não fecha no calcanhar e encolhido, Paulo guia um chaço que já nem tem embraiagem, para leva os homens; um cabo – verdeano, muçulmano, um vizínho, um romeno, a mulher e os meninos, à escola.
Aos homens, grita as ordens. Exige que não parem. Só ele às vezes se senta, ou encosta a uma arvore.
Vou até lá timidamente. Começo a aquecer; acarto um carro de mão, com terra, pedras, ajudo a esticar a rede, firo – me no arame farpado, penduro – me num cabo para puxar um pinheiro que tem que cair e qundo cai fico no ar, como o super homem. Vou buscar um copo de água porque o sr Paulo tem que tomar um comprimido para as dores.
Chega a hora do almoço. Querem almoçar ali mesmo e à sua maneira; umas febras, umas costeletas, vinho, sumo, água e pão. Não querem mais nada. Precisam de força. O vinho é para o Zé, para o outro e para mim, o Sumo para o muçulmano que não se converte e a água para o capataz que está proibido de outras bebidas.
O Paulo é quem faz o barbecue porque, diz ele, precisa de aquecer. Mal pega na tenaz para virar as febras, entra no fogo e o nariz pinga – lhe quem nem o fontanário da aldeia, ou as carnes a verterem gordura.
Não querem, nem pratos, nem talheres. Mesmo o pão é à mão e guardanapo foi a custo que impus. Alinho. Nunca me vi assim.
Mas aquilo sabe – me bem. Até a “surrapa” do vinho a um euro e meio a garrafa me entra que nem um Esporão de reserva.
Sei como são os pobres. Sugeri fruta, nada. Um wiski Não. Já estava a perder, quando o Zé cedeu a uma aguardente Mirota com 40 anos, especialidade da casa. Brindamos à saúde do Paulo sem ele ver.
Diz – me o Zé que os amigos estão sempre dispostos a ajuda – lo, porque ele, também os ajudam. Vai 3 vezes por semana à noite ao hospital para fazer hemodiálise. Os rins já não funcionam. Quando podem os amigos vão com ele e fazem – lhe companhia com conversa. Ele prefere à noite porque tem de trabalhar e porque quando chega a casa depois do tratamento, adormece logo.
E quando não há trabalho, vão à pesca. Levam – no às costas, por cima das rochas, no Guincho. Ele adora pescar, como antigamente. E as histórias continuavam se não fora o Paulo mandar – nos trabalhar.
Lá fui. Desta vez, acartei escadote daqui para ali, madeiras, cactos, e subi ao telhado da garagem, fiz buracos com o berbequim, fui comprar pregos e uma rede que o Paulo tinha encomendado. Fui à estância ao lado da Galp à entrada da auto estrada. A senhora que me atendeu, quando falou dele, abriu os olhos e agarrada à rede disse – me. “Ah aquele homem…Às vezes quando tenho um problemazinho, lembro – me dele e passa tudo Aquilo é que é sofrer. E não pára”. Nem respondi. Agarrei num rolo de 25 metros por 2 de altura, serrei os dentes. Atirei – o para as costas e levei - o para o chaço, como se tivesse menos 40 anos.
Terminamos o trabalho já era quase noite. Ficamos satisfeitos. Espalharam –se cactos e pedras de ambos os lados da vedação, a enquadrar duas palmeiras ainda pequenas. O portão rústico ficou reforçado, os postes ficaram bem agarrados ao chão. O Paulo estava feliz. Só faltou acabar de cavar a horta para as próximas plantações, mas a vida não acaba aqui e ainda vai chover muito.
Fomos ao multi - banco para pagar lhe pagar. A vida está difícil. Agora o Sócrates encurtou o subsídio dos miúdos e a de invalidez que é de 250 Euros desceu trinta. Já pediu ao senhorio para lhe baixar a renda de 400 Euros mas ele diz que a crise é para todos. É, é para todos…
Mas. vai trocar o chaço. Vai, ter uma camioneta velha, que lhe vão dar; um construtor lá da terra, que agora, não tem trabalho e ficou com 4 camionetas paradas e não quer pagar seguro e impostos, dá – lha. Vai ser um fartote. Com ela, já arranjou o frete de todos os dias acartar uma carrada de lenha para 3 padarias. Vai ser bom, diz o farrapo a tentar esfregar os dedos torcidos que nem grampos, com que se agarra à vida.

VALERÁ A TROCA?

(Sem foto, por falta de tempo)
- Lá fui com curiosidade a Carnaxide à Fim do Mundo, a produtora que se propõe fazer para a RTP um “reality show”, em que, possivelmente, vou entrar.
Confesso que estou desconfiado. Convidado ?
Eu? Porque carga de água? “Porque é popular e fomos unânimes em reconhecer que é quem gostaríamos de ter no elenco. Porque é muito popular e as pessoas agora não sabem de si.” Esta a manobra do terrível Bruno Nogueira, personagem atrevida da comicidade lusa.
Há 13 intervenientes. Alguns personalidades bem conhecidas, mas cujos nomes ainda não posso aqui escrever. Não tardarão a ser divulgados.
Lembrei – me que o Bruno fez com o Solnado, aquele que foi, o ultimo programa do saudoso actor. A última aparição. Só espero que o Bruno não repita agora, a trágica pontaria.
Toda a vida procurei defender a minha vertente de jornalista e repórter, mais ainda do que a de locutor. Agora, querem – me como actor. Só se for para dar o lado “ conscientemente piroso”, que até a mim me diverte, porque mostra a futilidade desta vida de artista, de vip, de personalidade a vomitar baboseiras, completamente desnecessárias. É o que acontece a toda a hora na comunicação e particularmente nas TVs portuguesas.
Na comunicação em Portugal, onde locutores e jornalistas, na grande maioria, pouco mais fazem do que fretes aos seus patrões, poder politico-economico e financeiro, aparecer a dar “barraca” nessa qualidade, pode bem ser a minha resposta à pseudo - seriedade que pretende legitimar a mentira que é alimentada diariamente.
OK. Vamos a isso. A Inês Tavares ficou de me ligar para iniciarmos gravações em meados de Maio.
Lá se vão as férias e o remanso do Aries, na Ria Formosa. Valerá a troca?

segunda-feira, 14 de março de 2011

OLHA QUE TRÈS



OLHA QUE TRÊS
Tal como eu temia, o sr Paulo e a sua equipa não apareceram esta manã, para transportar as pipas e executarem alguns trabalhos no exterior.
Hoje, tinham duas justificações; a greve dos camionistas e a chuva.
A qualidade dos trabalhadores que conheço, deixa muito a desejar. Faltam, confundem, ajustam por um preço e apresentam outro. E continuam a lamentar a falta de trabalho.
O nosso grande problema é claramente cultural ou melhor, educacional. Os professores manifestam – se porque ganham pouco e trabalham muito. Gritam, mas a verdade é que são uma das classes mais bem pagas e quanto ao trabalho, melhor fora que trabalhassem não tanto, mas melhor. O resultado está à vista.
Aproveitei a falta de trabalhadores e fui ao ginásio, para castigar os abdominais que teimam em esconderem – se, apesar da minha fome ancestral.
O ginásio da Quinta da Marinha é um local interessante. Aí encontramos a fina flor da politica, do empresariado, da finanças, professores, juízes, administradores, vips e o cidadão comum.
Entre duches e gemidos, é o termómetro do que vai pelo mundo.
Hoje falava – se da crise. “ Ando sem dormir por causa da crise”, “Estou exasperado por causa do Sócrates”. “Mas o Passos não vai resolver nada. O Cavaco é que está a tramar tudo.” Etc.
Nota – cheguei aqui e não me lembrei do nome do Passos Coelho. Como sou um cibernético, fui logo ao Google. Carreguei no PSD e vi aparecerem gráficos. Tinham a ver com o PSA , os valores prostáticos.
Disse logo um palavrão adequado. Longe vá o agoiro. Tinha – me enganado e em vez do D carreguei no A. Xiça!!!
“O que vai ser de nós? “ exclamam, quase em coro.
Os que mais desabafam comigo, são os que estão reformados. Confesso que não tenho pena deles a avaliar pelo que vai por este país. Também eu levo uma chumbada, mas penso, que se traduz em menos dois ou três jantares fora. Tenho mais pena dos donos dos restaurantes. Não me vai fazer mal, mas nada de abusos.
Não falo com toda a clareza aos meus colegas de ginásio, sobre o que penso nesta questão. Seria provocação e aquele não é o local mais recomendável; 5 ou 6 homens na 3ª idade, nus a chorarem os cortes do Sócrates, é imagem deprimente. Nem na Etiópia.
Agora, aposto (com quem?) comigo, que as manobras politicas actuais não levem a nada. As palavras só servem para embalar. O capital é um vírus e há que tomar antibióticos com urgência.
Nem Sócrates nem Coelho podem ir onde devem, ou deveriam, porque teriam que retirar àqueles que enriqueceram à sua custa e a quem devem tudo afinal… Eles sabem isso. Não acabam com as publico - privadas, com os boys e as girls,, com os concursos públicos fraudulentos, com as nomeações estratégicas, com os reformados a trabalhar, com a corrupção diária e conhecida de todos, menos da justiça; os reais cancros de que padece a sociedade portuguesa.
Mas se não forem eles a tirar a essa “camarilha” parasitária e virulenta, alguém, mais dia, menos dia, terá de o fazer. Quanto mais tarde pior. A cirurgia é sempre dolorosa.
Fico à espera pra ver..

domingo, 13 de março de 2011

DO TOSHIBA À LAREIRA



O TOSHIBA E A LAREIRA

Está decidido. Vou deixar de debitar aqui textos com características de crónica. Desisto. Fui condenado ao silêncio depois de meio século de trabalho diário na comunicação.
Não há jornal, rádio ou Tv onde possa veicular as emoções que me assaltam. Concordo que não seria bem-vindo, nem oportuno.
Não tenho partido politico que me proteja, como é quase obrigatório para poder trabalhar.
Não faço parte de grupo algum que apoie ideias inconsequentes, como aparentemente são as minhas.
Não me sinto perseguido. Apenas desnecessário. Descartado. Inadaptado às ideias dominantes.
Não tenho nada escondido na manga.
Trabalhei para milhões de pessoas. Trabalho agora para mim mesmo porque, não consigo deixar de publicar o que me vai na alma. É acto rotineiro desde criança.
Porque acho um desperdício lançar ao esgoto a experiência de uma vida, de qualquer vida, vou deixar aqui o meu diário.
Se alguém o ler óptimo. Não estarei só. Sentirei que serei transparente como sempre procurei ser.
Se ninguém, o fizer paciência. Faço eu o que acho que devo fazer no respeito por mim mesmo.
O pedeleke será como a capa de um manuscrito que espero me acompanhe até ao último dia de vida, tenha eu a sorte que tiver.
Não há o barulho da redacção.
Só, com o Toshiba e a lareira recomeço. Ardem as achas de pinho que carreguei até aqui como me queimam as ideias de dias melhores.
Deus, ou seja o que ou quem for, por ele, me dê forças.
………………………………………………………


Vai começar uma semana agitada.
Não há locuções na Odisseia ou no Canal História, que me façam gargarejar durante os próximos dias., mas tenho muito que fazer.
Amanhã irei com o sr Paulo carregar pipas enormes de vinho, que tenho em Carcavelos. Não as consegui vender e acho que não devo deixar estragar. Preciso de uma camioneta de carga, mas logo, por pouca sorte, amanhã mesmo, começa uma greve de camionistas. Já é galo!!!
Na 3ª vou com o Sr Artur, um dos encarregados, tentar descobrir na oficina da cadeia do Linhó alguns acessórios do meu 2 cvs que ali esteve a reparar e agora, descobri, estar todo desmontado. Algumas peças desapareceram.
Penso que se alguma coisa sai de uma cadeia, como o banco da frente de um carro, não podem ser os reclusos a roubar. Só os guardas o poderiam fazer. Quero ver o que é que a directora me tem a dizer …
Na 4ª irei a Carnaxide. Um encontro com o Bruno Nogueira, o autor e actor que assina momentos cómicos nas nossas TVS. Diz a sua produtora Inês, que ele tem uma ideia muito gira e que gostariam que eu participasse.
Aprecio o rapaz, que também diariamente ouço na TSF, mas confesso que nada me sorri…e nada me levará até aos ecrãs, a não ser o “non sense” desta sociedade e desta comunicação que parecem uma comédia de mau gosto. Ao menos, este Bruno oferece a garantia de não ter adormecido. Quer falar comigo. Espero que não perca o sono.
Depois, na 5ª feira, deverei rumar até ao Aries que se baloiça em águas algarvias. Vou com o meu velho amigo Montoia, antigo colega de tropa e de algumas aventuras, e o Fausto campeão de golfe e sky, que com as suas simpáticas mulheres, Isabel, médica, ortopedista, alentejana e Henriette, holandesa, escultora, apaixonada por Portugal, me acompanharão nuns dias a bordo. Claro que estão previstas algumas incursões. Mais em terra do que no mar, porque cada um vai revelar, entre outros, os seus segredos gastronómicos.
O ginásio do Racket Club da Quinta da Marinha terá que esperar por mim. A dieta prometida também.