terça-feira, 18 de maio de 2010

OBRIGADO AMIGO


Olhão
Vai amanha a enterrar o Saldanha Sanches.
Era um homem do tipo raro, raríssimo, dos que me fazem sentir pequeno. Poucos da actualidade me fazem vergar a cabeça por respeito, ou admiração.
Eu, ainda novo, já ouvia falar dele, que era da mesma idade. No liceu, na Faculdade, nas esquinas, nos muros, nos jornais clandestinos, nos boatos, na intriga politica. Ele aí estava. Ou, dele se falava com um misto de admiração a roçar o medo, porque muita gente tem medo da verdade.
Entrevistei centenas de personalidades, anónimas, vips, outras, mas nunca nos falamos. Apesar disto parece – me que nos conhecíamos. E se calhar conheciamo – nos mesmo, já nunca estamos sós e são irmãos os que pensam da mesma forma.
Caminhou a meu lado sem nos conhecermos. Eu sabia que ele zelava por nós e eu longe, zelava por ele, na esperança (que palavra estúpida) que ele continuasse a defender – nos até ao esclarecimento final. Egoísmo tradicional dos comodistas.
Há anjos da guarda. Ele era um deles.
Tenho um filho que tirou Direito, na Clássica. Talvez por influências do seu ADN, ( já o avô era fiscalista) vá – se lá saber, enveredou pela fiscalidade. E numa bela noite, regressado de uma pós graduação, quando apetece falar porque a conversa está em atraso e a vida ensina - nos, falou – me de alguém que tinha conhecido e para além de um reduzidíssimo elenco professoral, começara a admirar. Era, Saldanha Sanches.
Senti que nos tínhamos encontrado. Pai, filho e alguém mais. Que não fora em vão. Meu filho encontrara um marco importante na sua, nas nossas vidas.
E agora? O professor foi – se. E quem o substitui? Quem fala como ele. Quem raciocina, quem merece o respeito que ele merecia? Quem? Quem?
A vida não pode ser assim. A Natureza sabe renovar – se e eu acredito que por morrer este, nascerão, terão de nascer dezenas, centenas de outros como ele. Só assim veremos o Sol um dia.

MORMOS DE ATUM


Olhão –

As fugas para esta “aldeia” quase no norte de África são o regresso às origens ou a procura de uma paz difícil na grande urbe, ou até o apelo de Maomé, que Deus tenha em paz, como repetiria Rodrigo dos Santos na Fúria Divina.
Aqui as surpresas acontecem suaves, como elas devem ser e sem se anunciarem.
O meu amigo Sérgio que vive próximo do Aries, no Arca de Noé, barco de pesca com quase 100 anos, maravilhosamente adaptado a iate, com agradáveis condições de conforto, com 2 frigoríficos, micro ondas, maquinas de café, TVs da proa à popa e luzes e som de discoteca. É um experimentado marinheiro e sobretudo, admirável anfitrião e impar guia turístico, apaixonado por esta região.
Hoje, bem cedo, acordei com uma paisagem soberba a entrar-me pelo camarote e pela alma dentro. Maré vazia, a correr para o Atlântico, o areal a nascer com a vegetação da ria e uma enormidade de aves e peixes a mostrarem a riqueza de vida deste, ainda, paraíso. Das aves, as únicas que reconheço são as garças e as gaivotas. As outras e são várias, passam incógnitas, mas graciosas numa azafama sem horário. Mesmo á beira do Aries uma família de pequenas aves que se fossem pretas, me pareceriam andorinhas mas não são, ensinam os pequenas a pescar. Os voos picados são quase todos precisos e produtivos. A pequenina bem tenta mas desequilibra – se. Apercebo – me contudo que faz progressos de manhã para manhã.
Pouco depois o Sérgio, por sinais, da sua Arca de Noé, desafiava – me para uma almoço fora de portas.
Aceitei. Primeiro, para fazer horas, fomos a Espanha a medir a crise que parece ali mais discreta, e depois, reentramos por Vila Real de Santo António. O cicerone, já a tinha fisgada: um petisco ; “mormos de atum”. Paramos junto ao Mercado. Do lado poente um restaurante, ou café, ou bar, ou, não sei. Dá pelo nome de Balsa. Uns velhos locais a petiscarem ou não, mas suas algaraviadas. Sobre as mesas vagas, cansados, um Correio da Manhã e uma Bola e depois, nós.
Recebidos pelo sr Manuel que parecia que já sabia ao que vinhamos, logo trouxe um Vidigueira tinto e uns aperitivos que antecipam os tais Mormos. Não se sabe se é assim que se escreve. Etimologia difícil o que para os algarvios é fácil. Mas sabemos que são partes da cabeça do atum que depois de preparadas e acompanhadas constitui um pitéu que jaz vel ali do tempo dos muçulmanos. Agradável surpresa. Um prato regional que a D. Barbara cozinheira e mulher do Sr Manuel, no final explicou, como quem descreve uma Ópera. Para nós foi dia de estreia.
Tecemos loas ao atum e à cozinheira e já a marcar novo regresso fomos numa esplêndida quase auto - estrada, a ziguezaguear pela bordadura do Guadiana, até Castro Marim e depois Alcoutim, onde, uma dúzia de iates estrangeiros, repousava entre velejamentos e estacionamentos porque de coisas lindas e raras eles sabem mais de nós que nós deles. A localidade vizinha de S. Lucar, a duas braçadas, merece visita cuidada. Por todo o lado velhos pescadores e homens do campo à espera não se sabe do quê. O seu tempo passou, afinal como o nosso…
Ainda viemos a tempo de ver as habilidades de uma garça elegante e atrevida que se balouçava sobre um cabo à espera de peixe incauto. Quando entramos no Aries, no balanço, mais uma nota positiva para o cicerone, e para a novidade de um petisco delicioso, com muita cebola frita q.b. e um país ainda por descobrir pelos portugueses.
Em Resumo
“Mormos de atum”
VilaReal de S. António junto ao Mercado a Balsa
Sr António e D. Barbara
Vinho – Vidigueira tinto.
Nota . preço à altura da crise
PS . Em conversa com o Dr Glória director do IPTM, vim a saber que as tais “andorinhas” são mesmo “andorinhas do mar”. E recomendou – me uma visita à Reserva Natural de Olhão, para que eu não volte a mostrar esta ignorância crassa.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A DIVINA COMEDIA


O Papa vem aí. O que é que vem cá fazer? Tratar de assuntos urgentes? Abençoar o Sócrates? Tapar buracos? Distrair a gente?
Não é que não precisemos de variedades para disfarçar a angústia, mas Ratzinguer, até nem é muito divertido.
Os católicos apostólicos romanos, têm a visita do seu líder; o representante de Deus na terra que virá reforçar os seus laços com a vida eterna que é coisa nunca provada.
A verdade é que as religiões, apregoando a Paz, sem excepção, são simplesmente um antídoto à solução das injustiças, dos erros da sociedade que as sustentam. Curiosamente as guerras mais ferozes que a Humanidade conheceu foram entre religiões, a começar pelas Cruzadas até aos dias actuais onde Hitler perseguiu judeus, Bush muçulmanos e estes perseguem toda a gente que não aceite a sua maneira literal de interpretar as suas leis.
O Clero, sempre esteve ligado ao poder. Por isso a Igreja tornou – se num outro poder. Tem tudo, até Bancos e negócios, nem sempre claros.
Fátima é um exemplo do que afirmamos, só aproximado ao também escandaloso esquema da Igreja Universal, mas esta já perseguida pela justiça de vários países, inclusive do Brasil onde ela surgiu.
Criado artificialmente em Fátima, um milagre para estimular a aversão ao comunismo, a Igreja lavrou em camadas populacionais vitimas da pobreza e da falta de esperança.
Estava encontrado o antídoto para matar a ideia comunista em populações incultas, desgraçadas e dóceis. Graças ao oportuno milagre o comunismo andou sempre longe, até que no 25 de Abril ele voltou rejuvenescido, mas logo a Igreja voltou a transformar os púlpitos em bancada politica e a tê – lo como o seu maior inimigo. Em paga recebeu liberdade e apoios para a sua Rádio Renascença que passou a cobrir todo País e um Canal de TV. Ainda a procissão ia no adro e já o Patriarcado vendia a TVI que depois foi sendo objecto de mais e mais negócios nem sempre claros.
Gostava de falar com o Papa, mas só a ideia de ter que lhe beijar a mão me desencoraja.
Por outro lado e a terminar:
a sua vinda hoje, a este Portugal ainda medieval, trouxe algo positivo; o início de um outro milagre.
Foi a primeira vez que ouvi gente de todo o lado e níveis sociais, perguntar publicamente porquê esta vinda, estes gastos, esta parafernália e sobretudo porque é que um estado laico dá lhe dá a sua benção?
Começamos a entender esta Divina Comédia.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O TIMPANO NACIONAL


Seria uma experiência de pouca duração.
Comecei o Pedeleke apenas para quebrar a solidão. Para desabafar. Depois aguardei e, nada.
Habituado a milhões de olhares e muitas criticas, a resposta chegou em forma de zero, ou pouco mais.
O que custa na vida é receber a única resposta no espelho, a única mensagem vir do eco.
Quando pousava a enxada, a palavra de dois ou três amigos, (será para isso que os amigos servem?) veio acordar – me da apatia a que me entregava já.
Então vamos, ou melhor; voltemos que a vida mede – se por anos e por minutos também.
Agora a questão põe – se: que dizer, que os meus amigos e não apenas amigos, não saibam, não digam, ou em última análise, pelo contrário, até nem quererão ouvir?
Arrisco e opto pelo que ouço e digo e mais preocupa de momento.
Estou preocupado e chateado com o meu país.
Parece surreal, anacrónica esta evolução caótica para onde caminhamos, rompendo todos os princípios económicos, morais e culturais.
Os princípios, as regras estão viciados. Os “bons”, permanecem num silêncio de mau prenúncio.
Parece que parte da população rumina uma resposta à verborreia que fere o tímpano nacional. Essa resposta que tarda não pode ser politicamente correcta. Terá que ser o Basta!!! Que cada qual sente dentro de si.
É mais que evidente que, não tarda, virá um Verão quente. Dos mais quentes das ultimas décadas e não só na meteorologia do clima se anuncia, mas também na do político e social.
Nada vai ficar como dantes por mais que uns quantos se esforcem por dizer que sim. Os dados estão lançados e as regras vão passar a ser outras.