segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

MAÇOM ? EU?


APRENDIZ DE MAÇOM
Quando agora, a Maçonaria vem à ribalta, numa luta acesa de poderes no meu pobre país, também, tenho uma história breve, mas que me parece interessante para contar:
Decorria o ano de 1998. A RTP apostava nas emissões directas da Expo onde tinha instalado um estúdio na caravela D. Fernando e Glória.
Daí, diariamente emitia reportagens, entrevistas, notícias sobre o evento que tinha dimensão mundial.
Eu, depois de ter sentido os primeiros sintomas de afastamento das lides profissionais, acedi com bom grado, à possibilidade de fazer um trabalho interessante e atractivo.
O momento era conturbado. 24 anos depois da Revolução de Abril era mais que evidente o avanço dominador do poder económico sobre o político e a Comunicação Social era o instrumento onde mais me apercebia da manobra, paulatinamente engenhada, para o tão almejado objectivo das forças mais conservadoras do País.
A informação não era livre. Os meios, entravam num beco sem saída.
As forças de esquerda, como sempre mais empenhadas em se digladiarem do que em estudarem e defenderem os seus pontos comuns e com eles enfrentarem as direitas, hábeis em alimentarem o medo atávico da população ao comunismo e por arrasto, ao socialismo.
Os de direita com perfeita aquiescência do PS, faziam a sua jogada reptícia, nomeando administradores, directores, chefes de redacção, jornalistas e um elenco de fazedores de opinião, “prêt à porter”, que perfilhassem os mesmos objectivos. Ao mesmo tempo, elaboravam listas de “personas non gratas” e de colaboradores mais domesticáveis.
Isolado no meio, procurei uma ajuda junto de colegas que me entendessem. Por sugestão de Fialho Gouveia, acedi, ir a uma reunião do PS, partido que em princípio me garantia a abertura necessária, já que fora no seu reinado, na RTP, que eu entrara pela mão do memorável Edmundo Pedro, que logo, pouco depois, cairia em desgraça. Fui à reunião no Teatro Vasco Santana na Ex Feira Popular.
Caras conhecidas entravam para uma sala quase cheia. De braços abertos, o anfitrião mal me viu, manifestou ruidosamente, regozijo pela minha chegada. Era ele nem mais nem menos que Igrejas Caeiro um democrata que anos antes me afastara da Ex. Emissora Nacional depois RDP, após uma queixa que fizera, na sua qualidade de director, por, alegadamente, ter abusado da Liberdade de Imprensa, contra o então P.R. Ramalho Enes.
A minha alma tropeçou logo que tão grande alegria me abriu os braços, quando dois anos depois de Abril, os mesmos braços, me tentaram sufocar, atirando – me para o desemprego e para a eminência de ter que emigrar.
Curiosamente, acrescento aqui que, fora Igrejas Caeiro, do PS, quem, assim, me obrigaria a pensar em partir para a Venezuela e que quando já no aeroporto, comprava os bilhetes, numa, ao mesmo tempo, chegada de Mário Soares, Edmundo Pedro também do PS, me quis conhecer e me convidou a ingressar na RTP.
Não acreditei nessa possibilidade, mas adiei a partida.
O certo é que já andava numa roda-viva em reportagens na RTP – Telejornal quando, após ter sido absolvido na primeira instância pelo Tribunal da Boa Hora, e até louvado pelo Juiz pela “exemplar peça radiofónica no programa DOMINGO FANTÁSTICO” fui condenado na Relação, a 6 meses da cadeia, pelo mesmo “abuso”.
A verdade é que não esperava que o sr Igrejas tivesse recorrido e porque não queria tornar – me alvo na imprensa, por ser o primeiro jornalista a ser condenado, depois do 25 de Abril, preferi calar – me e aceitar o castigo que não merecia.
Por isso, mal me afastei do abraço de recepção no Vasco Santana, clamei que tinha deixado o carro mal estacionado e que teria de ir num instante, resolver a questão. Claro que não voltei e durante anos me perguntaram porque desapareci dali, em dois tempos.
Mas voltemos à Maçonaria:
Estava na caravela D. Fernando e trabalhava com um colega e posso dize – lo, um amigo por quem nutria alguma admiração. Esforçado, perspicaz, astuto tinha boas qualidades de jornalista capaz de furar paredes e muralhas. Já nos dávamos bem há vários anos e não poucas vezes falavamos da asfixia crescente que se avolumava na informação.
Um dia, pediu – me que conhecesse alguém, importante, que gostaria de me falar sobre a questão que nos preocupava.
Lá fomos, no dia e hora marcados, a um andar debruçado sobre Lisboa, no Príncipe Real, onde um senhor, simpático, muito atento, a imanar integridade e inteligência, que mais tarde vim a saber ser Fernando Teixeira, o Fundador da Loja Maçónica, Casa do Sino, a sós, me ouviu durante mais de duas horas, sobre tudo o que para ele eram dúvidas importantes da vida e da minha profissão.
Voltamos ao trabalho. O meu colega rejubilava. Eu tinha caído nas graças…
Entretanto Carlos Pinto Coelho numa aproximação simpática, como só ele era capaz, auscultou – me sobre a eventualidade de entrar para a Maçonaria. Para mim, confesso, era como entrar para o Benfica ou o Porto. O que eu queria era que a informação mudasse o mundo e que em Portugal houvesse conhecimento e sensibilidade suficientes, para alterarmos a corrente trágica que se aproximava, sob o perigo de perdermos tudo o que havíamos conquistado, ou que julgávamos ter conquistado. Um aperto de mão muito especial do Carlos como quando se despedia do “Acontece”.
Nas vésperas de um sábado. Um telefonema do meu colega “Sábado vem com duas horas de antecedência. Vem de fato preto, gravata preta e prepara – te para dares um passo im - portante”.
Já desconfiava. Mas a curiosidade não me tolhia. Como é que seria? Quem seria? Que Objectivos? Era puro jornalismo. Farejava situações, rituais, segredos, acções que me mostrassem outras faces dos homens.
Já lá estava dentro do carro quando cheguei ao Parque das Nações. Arrancamos a acelerar para Cascais. Fui ouvindo os seus conselhos e recomendações.
Passamos ao lado da Estação, ao lado do Mercado e paramos onde nos foi possível num largo junto à vivenda 21 que parecia sem ninguém. Era a Casa do Sino da Grande Loja Regular de Portugal. Tocou à campainha. Alguém abriu. Entramos. Saudados por alguém vestido de negro entramos para uma sala onde outros nos olhavam com algum espanto. Retribui ao descobrir colegas, até repórteres do desporto, vereadores da CM Cascais, gente que me habituara a ver aqui e acolá.
Afastado do grupo fui levado para um outro local onde começou todo o ritual de iniciação que descreverei noutra altura.
Importa dizer que, primeiro com apenas muita curiosidade, depois, mercê do peso do cenário, do ritual, das palavras e da tensão criada acabei por jurar com convicção às ordens imanadas, mas, subliminarmente emergia na minha consciência, sempre a minha convicção de que o faria apenas para a finalidade que me levara ali. No fundo, no fundo, sentia – me um intruso, com boas intensões.
Uns meses volvidos em que eu me imaginava em observação, ocorreu um incidente que colocou ponto final à minha acção maçónica.
Era um final de dia em que todos tínhamos trabalhado intensamente. Naquela redacção estávamos apenas; eu, a planificar o meu dia seguinte, o meu colega a terminar uma reportagem e uma secretária.
Toca o telefone. A secretária atende; “Sim, sim . (Pôs a mão no bocal) Alguém viu aqui uma cassette do Helder? Tem uma reportagem importante para amanhã que ele esqueceu sobre uma secretária.” O meu colega levantou a cabeça. Eu à distância, procurei, vi a cassete sob um monte de papeis. Apontei – a. Ela garantiu que a guardava na primeira prateleira de um armário ao fundo da sala, confirmou com o outro ao telefone.
No dia seguinte quando cheguei, havia um tumulto na redacção. O Helder agatanhava – se e a secretária chorava que nem uma Madalena. A cassette com o trabalho havia desaparecido.
Olhei fixamente para o meu colega que parecia distante. Desviou o olhar e continuou com o trabalho, não sem ter notado que eu sabia que só ele poderia ter feito tal patifaria.
Abeirei – me discretamente. Porquê? “Porquê? Porque ele é um inimigo a abater. Ele não é dos nossos. Ando há muito tempo com olho nele. Não perdoo.
Senti uma vertigem. Desci. Fui a um café. O mundo perdeu o Norte e eu perdi o rumo.
Nunca mais consegui falar - lhe. O avental, as luvas, a medalha e outros “recuerdos” jazem solenemente, no guarda fato, o mais, discretamente possível, numa gaveta, como se recomenda, entre as meias de inverno e as cuecas, na mais rigorosa obediência maçónica.