segunda-feira, 21 de março de 2011


Voltei à rotina e à dieta. Tenho também andado arredado das minhas escritas que ficaram apenas por este blogue feito a pensar em mim e em mim também e apenas. Não acredito que alguém leia as vulgaridades que vou debitando. Não importa. O que interessa na vida é o que fazemos sem prejudicar alguém, porque esse alguém é outro como nós, mesmo que não queiramos acreditar.
Fui ao ginásio. Tudo na mesma. Não vi o Dr Borges; um homem, cirurgião famoso que com 96 anos é dos mais assíduos na hidro- ginástica. Com o seu bom humor e as suas 15 operações, depois de uma está pronto para outra, como diz. Brinca com o facto de ter esta idade e se sentir tão jovem. Mas, quando não vem, sinto a sua falta e a falta da sua juventude. Esperemos que esteja numa das suas viagens pelo mundo.
O meu jardim e para lá dele, a horta e para lá dela, o pinhal, estão invadidos por uma planta infestante que teima em estrangular todas as outras. Nasce sorrateiramente, cresce depressa, lança os seus ramos fortes e decididos por sobre as outras, não importa quais. Não pede licença, é inesperada. As outras murcham. Não lhes podem fugir.
Até é bonita. Não sei como se chama nem como extermina – la, mas não gosto de quando um ser vivo invade o espaço dos outros e passa a decidir pelas suas vidas. Pensei em dar – lhes um espaço só para elas, onde pudessem ser felizes à sua maneira, mas não. Tive que tomar uma decisão.
Tive esta dúvida metafísica quando com uma machada as cortava a esmo, para evitar que as sementes se espalhassem mais e então é que, para o ano, não haveria mais espaço aqui, para o reino vegetal. Tive pena. Mas as minhas eternas dúvidas de adolescente voltaram: Será que não têm direito a viver?
Mas a viver tirando o espaço aos outros? Viver é um direito delas sem esquecer o das outras. Até duas pequenas palmeiras já estavam a sucumbir à sua asfixia.
Lembrei – me dos banqueiros e especuladores e dos políticos empoleirados nos interesses próprios, que avançam trepando pelo capitalismo selvagem e agrilhoam milhões de seres humanos que rastejam a seu lado.
Não. Não aceito. Tenho que fazer justiça. Voltei á catana e só parei quando já não via as flores, que até eram bonitas.
Mas, é impossível pelo menos à catanada. Sei que para a semana ela aparece escondida e volta à carga. É assim o vício, como o vício do dinheiro.

ARRAIA ALHADA



Como assinalei, ontem foi Dia do Pai. A descrição tombou para o dia seguinte.
Sou um nabo nas artimanhas da cibernética.
Mesmo assim, cá estou para dizer que, como as fotos descrevem começamos o dia na Feira de velharias em Almancil, local onde aparece de tudo e em profusão, gente oriunda de leste, que compra e vende porque a crise é para todos.
O Fausto não ia muito interessado. É mais dado às grandes estâncias de Golf de Sky na neve e da Nouvelle Cuisine. Coisas destas, não lhe assentam no pé, por sinal agora lesionado, mas, mesmo contrafeito, honra-nos com a sua companhia e com o seu permanente bom humor (noblesse oblige).
Era o último dia da tourné, porque combinamos regressar a casa às 18 horas.
Acabei por comprar uma torneira para um pipo onde faço vinagre como manda a tradição, a Henriette comprou uma tesoura de poda, a Peggy seguiu – lhe a sugestão para além de uma moldura antiga onde vai colocar a arvore genealógica e o Fausto rendeu – se ás tecnologias: uma lanterna das que se fixam dentro dos guarda - fatos.
Depois, claro, fomos até aos D. Rodrigos e depois à tão apregoada Arraia Alhada que se fez em meia hora.
Entretanto, comecei a preparar o Aries para a nossa retirada; no check out; baterias com um problema, esvaziar depósitos, ver amarrações, velas bem presas, all buois (não sei se é assim) bem fechados, válvulas e bombas de fundo etc. Já cheirava ao refogado e na coberta a mesa esperava.
O Sérgio ficou ao lado da roda do leme. Estava desconfiado, mas garanto; tudo estava soberbo. A raia oferecia – se desnudada, numa brancura angelical, acompanhada por batatas e cebolas às rodelas como se de acessórios se tratassem, tal como o vinho branco fresco e o pão de sementes, depois os morangos com gelado, o bolo de chocolate que a Henriette fez ao estilo holandês e ainda veio o café que tomei na chávena de comandante com base em latão com dizeres náuticos, tudo arrematado com um wisky de 20 anos.
Desta vez Sérgio, o crítico mais odiado da navegação ligeira portuguesa, não teceu comentários depreciativos excepto a opinião de que os alhos deveriam ser cortados aos pedacinhos e não esborrachados, questão que será objecto de uma pesquisa hitórica brevemente. É que, segundo ele, este pormenor influi no resultado final. Por isso não deu a nota máxima 10, mas os restantes participantes deram 15.
Posto isto quem não resistiu recolheu aos camarotes, para uma soneca, enquanto os restantes permaneciam a torrar ao sol que já vinha dos lados de Faro.
Chegamos às 18 e partimos. Gasolina a 2 euros e 60 e as portagem de braço estendido como pedintes. Pobres Melos, Isabel dos Santos, Champalimauts, Brisas e outros que têm tudo mas dificilmente comem melhor e em tão boa companhia uma Arraia alhada assim.

domingo, 20 de março de 2011




Era hoje que o fenómeno ocorreria. A Lua estava no local mais próximo dos últimos 18 anos.
À parte as marés serem grandes e uns pares de jovens revelarem à beira - mar os efeitos da testosterona a ferver, nada mais faria crer que andaríamos aluados.
Aos sábados a feira é um motivo de passeio, pelo menos enquanto se vai ao mercado encomendar a Raia para fazer uma “Arraia alhada”, como dizem os algarvios, ou comprar os jornais, ou tomar um café na esplanada junto ao mercado que fervilha de estrangeiros e nacionais que mercam as suas produções como se fazia há centenas de anos.

É tranquila esta Olhão.
Comecei a receber mensagens e telefonemas dos filhos. Do Luís, o meu varão: “Viva meu pai. É só para lhe dizer que não tenho sido bom filho, mas posso adiantar – lhe que quanto mais vou vivendo e mais velho fico, mais gosto de si. Seu filho Luís”. Em silêncio, a olhar os turistas, os mendigos, os pescadores, os feirantes que pareceram ter ficado fixos, numa imagem turvada, desapareceram e eu lembrei aquele menino lindo que no meu próprio dia de anos, já lá vão bastantes, veio ao mundo para me dizer quanto vale a pena viver. Enviei – um beijo só de amor com um obrigado.
Pouco depois era os outros ao telefone; o Miguel a pregar – me um raspanete porque foi lá a casa e eu não estava, depois o Ricardo a falar comigo e a avisar ao mesmo tempo: “não vires isso Nono. Não vás para aí Nono, pára, pára… depois eu ligo. Beijo!!!… “e por último o João que mesmo sendo sábado, saía de uma pós graduação em fiscalidade empresarial. Sem ter consciência disso, este filho segue as pisadas do avô. A estranha matéria está no seu ADN. Como eu gostaria que os meus filhos e netos guardassem de mim a imagem de admiração e respeito que eu cultivo do se avô. Não a mereço.
E quando a “arraia” estava prevista para ser apreciada no Aries, o Fausto descobriu uma casa onde havia Xarém. Sem qualquer dúvida protelámos o anunciado peixe voador para a noite.


O Xarém não estava o que eu esperava. Eles gostaram, mas eu que até sou boa boca… não. Monótono, um pouco seco, pouco aliciante e sem surpresas de maior. Admito que o meu pai, gostava disto, mais por ser deste local quase africano, que lhe falava da sua infância, do que, pelo encanto gustativo. Prometemos continuar na senda do Xarém, porque existem variedades e alguma há - de ser, a tal.
Resolvemos pescar. Fomos no bote do Sérgio. No estofo da maré - cheia víamos algumas tainhas e douradas aos saltos, mas no anzol, nada. Nem queriam o isco, minhoca da boa e langueirão que mais mereceria um arroz, coisas que ofendem o mais infeliz dos pescadores.
Horas, sob um sol acariciador e um mar que parecia um Banho Maria, fingíamos que pescávamos. O Sergio falava das suas conquistas em França, na Holanda, em Miami e no Brasil, O Fausto acabou por atar a linha e sacou do seu frenético sudoku e eu lamentava a falta de amor que vai pelo mundo e cá por casa.
O Sérgio é um dos melhores gastrónomos que conheço; cria pratos como um poeta repentista quadras, mas de pesca, com a maior variedade de canas e outros apetrechos que tem, não escolhe, nem o local, nem a hora certas. Em resumo; já cansados resolvemos acostar ao Arca de Noé e fazer uma sardinhada.



Num cenário inesquecível, de fazer parar a respiração, sob uma lua esplendorosa, onde se liam as crateras, os continentes e os mares que imaginamos, as sardinhas, deliciosas que o “Noé” descobriu, desfilaram, apoiadas numa bela salada, um Altano tinto nos “trinques”, uma sopa tipo `Nono”, como ele diz e por último, porque nos faltava a sobremesa, criou bananas assadas com casca, coisa nunca vista por mim, mas que acompanhada por gelado inesperado, subiu como uma estrela na noite que terminava luminosa e alta.

sábado, 19 de março de 2011

Á PROCURA DO XARÉM


Fomos à procura do xarém. Este prato típico do Algarve recorda – me o tempo em que o meu pai era brindado pelos pitéus, que as irmãs, igualmente algarvias lhe dedicavam. Mandavam vir de Olhão a farinha e preparavam, o prato para o meu amigo. Como ele gostava. Eu em miúdo não queria sequer provar. Tinha que ser agora.
Não encontramos. Num local onde era suposto haver, disseram que estão no defeso, isto é, é proibido a sua apanha durante o presente mês. Comemos espetadas.
Depois descemos ao Doce Olhão onde o Fausto se reencontrou com os D. Rodrigos.
Pareciam dois amigos depois de longa ausência.
Regressamos ao Aries cansados, já ao fim da tarde onde o pôr do sol rivalizava com o nascer da lua. A ria, o céu e lua estavam como a pena do artista para a folha em branco Descansar foi palavra de ordem.
Optei por ler. Trago jornais em atraso e fui aos textos que tenho assinalado para “à posteriore”
À noite o Sergio, no seu inconfundível Arca de Noé, convidou – nos para uns petiscos.
Assim, que derrotamos a dieta que eu pretendia manter. Sucederam – se os pratos e os copos.
É esta a vida de marinheiros em terra. Naufragam sempre.

sexta-feira, 18 de março de 2011

NA DOCE OLHÃO


Tive que resolver um assunto urgente no Julgado de Paz de Cascais. Uma contenda com a Generalis Seguros que contarei amanhã ou depois e que mostra como a industria dos seguros, usando técnicas e estratégicas incríveis, explora as pessoas até ao tutano.
Mas o dia de hoje foi dedicado à vinda até ao Aries - Olhão. Victor e Isabel não puderam acompanhar - nos. O Victor ainda não está bom dos problemas de saúde que tanto atormentam a sua mulher, médica e companheira dedicada.
Vim com o casal Fausto e Henriette que largou o seu moinho no Penedo, para uma incursão na Ria Formosa. O Fausto já está habituado aos mares, mas agora agarra - se a uma canadiana porque torceu os gémeos ao fazer esqui em Espanha. É nosso tripulante assíduo e velejador experimentado na Refeno, a mais importante regata da América do Sul que liga Recife a Fernando Noronha. Não vamos sequer levantar - ancora porque o Aries está com um problema electrico. Conto te - lo impecável já no início de Abril, para nos fazermos para o lado de Espanha.
Mas, o Fausto é também um excelente gastrónomo e eu não me canso de falar sobre os prazeres gustativos dos Algarves. Veremos.
A antecipar, desviamo – nos em Grandola, onde entramos na “A Lanterna”. Comemos um Jantarinho à alentejana; massa, feijão, couve, enchidos e chouriço, Açorda de Abóbora; pão feijão e abóbora e Pataniscas, com feijão. Belo almoço para começar a excursão gastronómica, que inclui naturalmente os D. Rodrigo, as Tartes de Amêndoa, os Morgados, os queijinhos doces etc.
Largamos de Lisboa com o céu encoberto. O Alentejo estava igual mas, como sempre, quando saímos da auto - estrada e entramos na 125 abriu – se uma clareira no céu por onde entra o sol que nos obriga a tirar casacos e camisolas. Algarve e particularmente a Ria Formosa, são o paraíso.
Um telefonema da Via Satélite encurta – me a aventura; tenho que estar em Lisboa na 3ª feira para gravar um programa para a TVCabo. Trabalho é trabalho…
Chegamos ao barco. As baterias estavam nas lonas e parece que a eólica só serviu para as bombas de fundo, já que, segundo me informaram, nestes últimos dias tem havido bordoadas de vento e chuva que fez os barcos andarem aos saltos.
É bom estar aqui e sobretudo, com gente amiga com quem dá prazer privar e desfruta dos mesmos gostos.

quinta-feira, 17 de março de 2011

UM DIA BEM PASSADO

20110315
Já ando a tropeçar.
Não queria falhar, mas, infelizmente, não tenho o método e a disciplina que o José Rodrigues dos Santos, reconhecidamente, um homem que sabe aproveitar o tempo, ainda há dias, me recomendou. Ele, que tal como eu já fiz, apresenta o Telejornal quase todas as noites na RTP, ainda encontrou tempo para assinar, nestes últimos 3 anos, 3 best Selleres, com mais de 4oo páginas cada. Belo exemplo. Como eu admiro este rapaz.
Hoje, foi um dia muito reconfortante para mim. Ando sempre angustiado porque tenho que falar com alguém, escrever qualquer coisa, reunir com, ou simplesmente fazer umas locuções em Lisboa e lamentar – me por isto ou aquilo, mas hoje, valeu a pena.
Hoje adormeci como há muito tempo não fazia; cansado, tranquilo, com uma sensação de dever cumprido, coisa que nunca acontece.
Tinha combinado com o sr Paulo uns trabalhos cá em casa. Reparar umas vedações, cavadelas na horta e no jardim, deitar uns pinheiros a baixo etc.
Eram 7 e 45 e já lhe estava a abrir os portões, ao Paulo e à sua equipa. Cheios de frio e com a vontade de trabalhar que empurra os mais pobres.
Decidido a trabalhar com eles, vesti um fato de macaco, enfiei uma botas, uma camisola quente e a ultima moda de luvas para jardim.
Dei as minhas indicações e fui tomar um sumo de tomate e um café quente, com uma torrada. Enquanto os cães ladravam e os homens trabalhavam. Por entre os vidros, olhava este Paulo que me impressiona até quase às lágrimas.
Paulo tem 33 anos, dois filhos pequenos ( um casal) e uma mulher que adora.
O Zé, é testemunha; há 5 anos quando estava sobre um pinheiro, com uma moto serra nas mãos, soltou um grito. Parou, desceu. Uma dor enorme nos dedos fê – lo parar. Foi ao médico. Logo ali, para começar “esclerose múltipla”.
Mas o homem não desiste. Tem que sustentar a família. Continua a fazer o que pode.
Juntam – se a ele uns quantos outros trabalhadores que orienta e a quem vai arranjando trabalho.
As coisas complicam – se. As mãos e os pés começam a deformar – se dia a dia. Emagrece com os tratamentos, faz fisioterapia e há 3 anos o doutor dá- lhe um ano de vida.
Mas o Paulo, não pode parar. Diz – me que é para esquecer as dores e porque tem os miúdos para criar. A mulher voltou, a trabalhar, agora que o mais velho pode ir para a escola e a pequenina para o infantário.
Com as mãos encarquilhadas, com uma ferida que não fecha no calcanhar e encolhido, Paulo guia um chaço que já nem tem embraiagem, para leva os homens; um cabo – verdeano, muçulmano, um vizínho, um romeno, a mulher e os meninos, à escola.
Aos homens, grita as ordens. Exige que não parem. Só ele às vezes se senta, ou encosta a uma arvore.
Vou até lá timidamente. Começo a aquecer; acarto um carro de mão, com terra, pedras, ajudo a esticar a rede, firo – me no arame farpado, penduro – me num cabo para puxar um pinheiro que tem que cair e qundo cai fico no ar, como o super homem. Vou buscar um copo de água porque o sr Paulo tem que tomar um comprimido para as dores.
Chega a hora do almoço. Querem almoçar ali mesmo e à sua maneira; umas febras, umas costeletas, vinho, sumo, água e pão. Não querem mais nada. Precisam de força. O vinho é para o Zé, para o outro e para mim, o Sumo para o muçulmano que não se converte e a água para o capataz que está proibido de outras bebidas.
O Paulo é quem faz o barbecue porque, diz ele, precisa de aquecer. Mal pega na tenaz para virar as febras, entra no fogo e o nariz pinga – lhe quem nem o fontanário da aldeia, ou as carnes a verterem gordura.
Não querem, nem pratos, nem talheres. Mesmo o pão é à mão e guardanapo foi a custo que impus. Alinho. Nunca me vi assim.
Mas aquilo sabe – me bem. Até a “surrapa” do vinho a um euro e meio a garrafa me entra que nem um Esporão de reserva.
Sei como são os pobres. Sugeri fruta, nada. Um wiski Não. Já estava a perder, quando o Zé cedeu a uma aguardente Mirota com 40 anos, especialidade da casa. Brindamos à saúde do Paulo sem ele ver.
Diz – me o Zé que os amigos estão sempre dispostos a ajuda – lo, porque ele, também os ajudam. Vai 3 vezes por semana à noite ao hospital para fazer hemodiálise. Os rins já não funcionam. Quando podem os amigos vão com ele e fazem – lhe companhia com conversa. Ele prefere à noite porque tem de trabalhar e porque quando chega a casa depois do tratamento, adormece logo.
E quando não há trabalho, vão à pesca. Levam – no às costas, por cima das rochas, no Guincho. Ele adora pescar, como antigamente. E as histórias continuavam se não fora o Paulo mandar – nos trabalhar.
Lá fui. Desta vez, acartei escadote daqui para ali, madeiras, cactos, e subi ao telhado da garagem, fiz buracos com o berbequim, fui comprar pregos e uma rede que o Paulo tinha encomendado. Fui à estância ao lado da Galp à entrada da auto estrada. A senhora que me atendeu, quando falou dele, abriu os olhos e agarrada à rede disse – me. “Ah aquele homem…Às vezes quando tenho um problemazinho, lembro – me dele e passa tudo Aquilo é que é sofrer. E não pára”. Nem respondi. Agarrei num rolo de 25 metros por 2 de altura, serrei os dentes. Atirei – o para as costas e levei - o para o chaço, como se tivesse menos 40 anos.
Terminamos o trabalho já era quase noite. Ficamos satisfeitos. Espalharam –se cactos e pedras de ambos os lados da vedação, a enquadrar duas palmeiras ainda pequenas. O portão rústico ficou reforçado, os postes ficaram bem agarrados ao chão. O Paulo estava feliz. Só faltou acabar de cavar a horta para as próximas plantações, mas a vida não acaba aqui e ainda vai chover muito.
Fomos ao multi - banco para pagar lhe pagar. A vida está difícil. Agora o Sócrates encurtou o subsídio dos miúdos e a de invalidez que é de 250 Euros desceu trinta. Já pediu ao senhorio para lhe baixar a renda de 400 Euros mas ele diz que a crise é para todos. É, é para todos…
Mas. vai trocar o chaço. Vai, ter uma camioneta velha, que lhe vão dar; um construtor lá da terra, que agora, não tem trabalho e ficou com 4 camionetas paradas e não quer pagar seguro e impostos, dá – lha. Vai ser um fartote. Com ela, já arranjou o frete de todos os dias acartar uma carrada de lenha para 3 padarias. Vai ser bom, diz o farrapo a tentar esfregar os dedos torcidos que nem grampos, com que se agarra à vida.

VALERÁ A TROCA?

(Sem foto, por falta de tempo)
- Lá fui com curiosidade a Carnaxide à Fim do Mundo, a produtora que se propõe fazer para a RTP um “reality show”, em que, possivelmente, vou entrar.
Confesso que estou desconfiado. Convidado ?
Eu? Porque carga de água? “Porque é popular e fomos unânimes em reconhecer que é quem gostaríamos de ter no elenco. Porque é muito popular e as pessoas agora não sabem de si.” Esta a manobra do terrível Bruno Nogueira, personagem atrevida da comicidade lusa.
Há 13 intervenientes. Alguns personalidades bem conhecidas, mas cujos nomes ainda não posso aqui escrever. Não tardarão a ser divulgados.
Lembrei – me que o Bruno fez com o Solnado, aquele que foi, o ultimo programa do saudoso actor. A última aparição. Só espero que o Bruno não repita agora, a trágica pontaria.
Toda a vida procurei defender a minha vertente de jornalista e repórter, mais ainda do que a de locutor. Agora, querem – me como actor. Só se for para dar o lado “ conscientemente piroso”, que até a mim me diverte, porque mostra a futilidade desta vida de artista, de vip, de personalidade a vomitar baboseiras, completamente desnecessárias. É o que acontece a toda a hora na comunicação e particularmente nas TVs portuguesas.
Na comunicação em Portugal, onde locutores e jornalistas, na grande maioria, pouco mais fazem do que fretes aos seus patrões, poder politico-economico e financeiro, aparecer a dar “barraca” nessa qualidade, pode bem ser a minha resposta à pseudo - seriedade que pretende legitimar a mentira que é alimentada diariamente.
OK. Vamos a isso. A Inês Tavares ficou de me ligar para iniciarmos gravações em meados de Maio.
Lá se vão as férias e o remanso do Aries, na Ria Formosa. Valerá a troca?

segunda-feira, 14 de março de 2011

OLHA QUE TRÈS



OLHA QUE TRÊS
Tal como eu temia, o sr Paulo e a sua equipa não apareceram esta manã, para transportar as pipas e executarem alguns trabalhos no exterior.
Hoje, tinham duas justificações; a greve dos camionistas e a chuva.
A qualidade dos trabalhadores que conheço, deixa muito a desejar. Faltam, confundem, ajustam por um preço e apresentam outro. E continuam a lamentar a falta de trabalho.
O nosso grande problema é claramente cultural ou melhor, educacional. Os professores manifestam – se porque ganham pouco e trabalham muito. Gritam, mas a verdade é que são uma das classes mais bem pagas e quanto ao trabalho, melhor fora que trabalhassem não tanto, mas melhor. O resultado está à vista.
Aproveitei a falta de trabalhadores e fui ao ginásio, para castigar os abdominais que teimam em esconderem – se, apesar da minha fome ancestral.
O ginásio da Quinta da Marinha é um local interessante. Aí encontramos a fina flor da politica, do empresariado, da finanças, professores, juízes, administradores, vips e o cidadão comum.
Entre duches e gemidos, é o termómetro do que vai pelo mundo.
Hoje falava – se da crise. “ Ando sem dormir por causa da crise”, “Estou exasperado por causa do Sócrates”. “Mas o Passos não vai resolver nada. O Cavaco é que está a tramar tudo.” Etc.
Nota – cheguei aqui e não me lembrei do nome do Passos Coelho. Como sou um cibernético, fui logo ao Google. Carreguei no PSD e vi aparecerem gráficos. Tinham a ver com o PSA , os valores prostáticos.
Disse logo um palavrão adequado. Longe vá o agoiro. Tinha – me enganado e em vez do D carreguei no A. Xiça!!!
“O que vai ser de nós? “ exclamam, quase em coro.
Os que mais desabafam comigo, são os que estão reformados. Confesso que não tenho pena deles a avaliar pelo que vai por este país. Também eu levo uma chumbada, mas penso, que se traduz em menos dois ou três jantares fora. Tenho mais pena dos donos dos restaurantes. Não me vai fazer mal, mas nada de abusos.
Não falo com toda a clareza aos meus colegas de ginásio, sobre o que penso nesta questão. Seria provocação e aquele não é o local mais recomendável; 5 ou 6 homens na 3ª idade, nus a chorarem os cortes do Sócrates, é imagem deprimente. Nem na Etiópia.
Agora, aposto (com quem?) comigo, que as manobras politicas actuais não levem a nada. As palavras só servem para embalar. O capital é um vírus e há que tomar antibióticos com urgência.
Nem Sócrates nem Coelho podem ir onde devem, ou deveriam, porque teriam que retirar àqueles que enriqueceram à sua custa e a quem devem tudo afinal… Eles sabem isso. Não acabam com as publico - privadas, com os boys e as girls,, com os concursos públicos fraudulentos, com as nomeações estratégicas, com os reformados a trabalhar, com a corrupção diária e conhecida de todos, menos da justiça; os reais cancros de que padece a sociedade portuguesa.
Mas se não forem eles a tirar a essa “camarilha” parasitária e virulenta, alguém, mais dia, menos dia, terá de o fazer. Quanto mais tarde pior. A cirurgia é sempre dolorosa.
Fico à espera pra ver..

domingo, 13 de março de 2011

DO TOSHIBA À LAREIRA



O TOSHIBA E A LAREIRA

Está decidido. Vou deixar de debitar aqui textos com características de crónica. Desisto. Fui condenado ao silêncio depois de meio século de trabalho diário na comunicação.
Não há jornal, rádio ou Tv onde possa veicular as emoções que me assaltam. Concordo que não seria bem-vindo, nem oportuno.
Não tenho partido politico que me proteja, como é quase obrigatório para poder trabalhar.
Não faço parte de grupo algum que apoie ideias inconsequentes, como aparentemente são as minhas.
Não me sinto perseguido. Apenas desnecessário. Descartado. Inadaptado às ideias dominantes.
Não tenho nada escondido na manga.
Trabalhei para milhões de pessoas. Trabalho agora para mim mesmo porque, não consigo deixar de publicar o que me vai na alma. É acto rotineiro desde criança.
Porque acho um desperdício lançar ao esgoto a experiência de uma vida, de qualquer vida, vou deixar aqui o meu diário.
Se alguém o ler óptimo. Não estarei só. Sentirei que serei transparente como sempre procurei ser.
Se ninguém, o fizer paciência. Faço eu o que acho que devo fazer no respeito por mim mesmo.
O pedeleke será como a capa de um manuscrito que espero me acompanhe até ao último dia de vida, tenha eu a sorte que tiver.
Não há o barulho da redacção.
Só, com o Toshiba e a lareira recomeço. Ardem as achas de pinho que carreguei até aqui como me queimam as ideias de dias melhores.
Deus, ou seja o que ou quem for, por ele, me dê forças.
………………………………………………………


Vai começar uma semana agitada.
Não há locuções na Odisseia ou no Canal História, que me façam gargarejar durante os próximos dias., mas tenho muito que fazer.
Amanhã irei com o sr Paulo carregar pipas enormes de vinho, que tenho em Carcavelos. Não as consegui vender e acho que não devo deixar estragar. Preciso de uma camioneta de carga, mas logo, por pouca sorte, amanhã mesmo, começa uma greve de camionistas. Já é galo!!!
Na 3ª vou com o Sr Artur, um dos encarregados, tentar descobrir na oficina da cadeia do Linhó alguns acessórios do meu 2 cvs que ali esteve a reparar e agora, descobri, estar todo desmontado. Algumas peças desapareceram.
Penso que se alguma coisa sai de uma cadeia, como o banco da frente de um carro, não podem ser os reclusos a roubar. Só os guardas o poderiam fazer. Quero ver o que é que a directora me tem a dizer …
Na 4ª irei a Carnaxide. Um encontro com o Bruno Nogueira, o autor e actor que assina momentos cómicos nas nossas TVS. Diz a sua produtora Inês, que ele tem uma ideia muito gira e que gostariam que eu participasse.
Aprecio o rapaz, que também diariamente ouço na TSF, mas confesso que nada me sorri…e nada me levará até aos ecrãs, a não ser o “non sense” desta sociedade e desta comunicação que parecem uma comédia de mau gosto. Ao menos, este Bruno oferece a garantia de não ter adormecido. Quer falar comigo. Espero que não perca o sono.
Depois, na 5ª feira, deverei rumar até ao Aries que se baloiça em águas algarvias. Vou com o meu velho amigo Montoia, antigo colega de tropa e de algumas aventuras, e o Fausto campeão de golfe e sky, que com as suas simpáticas mulheres, Isabel, médica, ortopedista, alentejana e Henriette, holandesa, escultora, apaixonada por Portugal, me acompanharão nuns dias a bordo. Claro que estão previstas algumas incursões. Mais em terra do que no mar, porque cada um vai revelar, entre outros, os seus segredos gastronómicos.
O ginásio do Racket Club da Quinta da Marinha terá que esperar por mim. A dieta prometida também.

quarta-feira, 9 de março de 2011

O COMEÇO DA BATALHA












Acabei de assistir à tomada de posse de Cavaco.
Esperava o discurso para ver até que ponto irá o novo velho presidente, personalidade que não admiro e de quem não prevejo coisa boa para o país e muito menos para aqueles que mais precisam. Penso assim pelas razões que qualquer cidadão, minimamente atento, tem vindo a descobrir, ao longo dos seus 20 anos de vida pública. Mas agora, vamos ao momento:
Um discurso cheio de farpas, e fortemente crítico. Crítico, claro está, ao Governo em primeiro lugar e a quase todos os outros sectores da vida publica; à Justiça, aos políticos, aos temerosos e aos ousados, etc. e sem se vislumbrar uma auto – critica.
A dureza do discurso estaria correcta se não soubéssemos como ele, o presidente, ele próprio é co-responsável pela situação a que chegamos. Se o pudéssemos dissociar do seu currículo diria que foi corajoso e até oportuno, mas disse apenas o que se ouve por todo o lado.
Como nota, já antecessora do que aí virá, recordo o apelo à mobilização dos jovens contra os partidos, num momento em que se aguarda, para daqui a 3 dias, uma manifestação da juventude “à rasca”. Cavaco sabe colar – se ao que convém. Aplaude antecipadamente a contestação, aplaude a insatisfação mas não é objectivo em receitar acções concretas como seria desejável. Como sabemos e se tem visto, seria exigir demasiado das suas capacidades.
Isto vai aquecer. Cavaco está na jogada. Se já estamos mal, ficaremos pior.