terça-feira, 18 de maio de 2010

MORMOS DE ATUM


Olhão –

As fugas para esta “aldeia” quase no norte de África são o regresso às origens ou a procura de uma paz difícil na grande urbe, ou até o apelo de Maomé, que Deus tenha em paz, como repetiria Rodrigo dos Santos na Fúria Divina.
Aqui as surpresas acontecem suaves, como elas devem ser e sem se anunciarem.
O meu amigo Sérgio que vive próximo do Aries, no Arca de Noé, barco de pesca com quase 100 anos, maravilhosamente adaptado a iate, com agradáveis condições de conforto, com 2 frigoríficos, micro ondas, maquinas de café, TVs da proa à popa e luzes e som de discoteca. É um experimentado marinheiro e sobretudo, admirável anfitrião e impar guia turístico, apaixonado por esta região.
Hoje, bem cedo, acordei com uma paisagem soberba a entrar-me pelo camarote e pela alma dentro. Maré vazia, a correr para o Atlântico, o areal a nascer com a vegetação da ria e uma enormidade de aves e peixes a mostrarem a riqueza de vida deste, ainda, paraíso. Das aves, as únicas que reconheço são as garças e as gaivotas. As outras e são várias, passam incógnitas, mas graciosas numa azafama sem horário. Mesmo á beira do Aries uma família de pequenas aves que se fossem pretas, me pareceriam andorinhas mas não são, ensinam os pequenas a pescar. Os voos picados são quase todos precisos e produtivos. A pequenina bem tenta mas desequilibra – se. Apercebo – me contudo que faz progressos de manhã para manhã.
Pouco depois o Sérgio, por sinais, da sua Arca de Noé, desafiava – me para uma almoço fora de portas.
Aceitei. Primeiro, para fazer horas, fomos a Espanha a medir a crise que parece ali mais discreta, e depois, reentramos por Vila Real de Santo António. O cicerone, já a tinha fisgada: um petisco ; “mormos de atum”. Paramos junto ao Mercado. Do lado poente um restaurante, ou café, ou bar, ou, não sei. Dá pelo nome de Balsa. Uns velhos locais a petiscarem ou não, mas suas algaraviadas. Sobre as mesas vagas, cansados, um Correio da Manhã e uma Bola e depois, nós.
Recebidos pelo sr Manuel que parecia que já sabia ao que vinhamos, logo trouxe um Vidigueira tinto e uns aperitivos que antecipam os tais Mormos. Não se sabe se é assim que se escreve. Etimologia difícil o que para os algarvios é fácil. Mas sabemos que são partes da cabeça do atum que depois de preparadas e acompanhadas constitui um pitéu que jaz vel ali do tempo dos muçulmanos. Agradável surpresa. Um prato regional que a D. Barbara cozinheira e mulher do Sr Manuel, no final explicou, como quem descreve uma Ópera. Para nós foi dia de estreia.
Tecemos loas ao atum e à cozinheira e já a marcar novo regresso fomos numa esplêndida quase auto - estrada, a ziguezaguear pela bordadura do Guadiana, até Castro Marim e depois Alcoutim, onde, uma dúzia de iates estrangeiros, repousava entre velejamentos e estacionamentos porque de coisas lindas e raras eles sabem mais de nós que nós deles. A localidade vizinha de S. Lucar, a duas braçadas, merece visita cuidada. Por todo o lado velhos pescadores e homens do campo à espera não se sabe do quê. O seu tempo passou, afinal como o nosso…
Ainda viemos a tempo de ver as habilidades de uma garça elegante e atrevida que se balouçava sobre um cabo à espera de peixe incauto. Quando entramos no Aries, no balanço, mais uma nota positiva para o cicerone, e para a novidade de um petisco delicioso, com muita cebola frita q.b. e um país ainda por descobrir pelos portugueses.
Em Resumo
“Mormos de atum”
VilaReal de S. António junto ao Mercado a Balsa
Sr António e D. Barbara
Vinho – Vidigueira tinto.
Nota . preço à altura da crise
PS . Em conversa com o Dr Glória director do IPTM, vim a saber que as tais “andorinhas” são mesmo “andorinhas do mar”. E recomendou – me uma visita à Reserva Natural de Olhão, para que eu não volte a mostrar esta ignorância crassa.

2 comentários:

  1. Fiquei cheio de vontade de provar esses mormos de atum com um tinto da Vidigueira... oli.

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  2. Meu caro.
    EStá convidado.
    Basta ser quem é... e um belo copo de tinto.

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