quinta-feira, 14 de julho de 2011

pela sobrevivência


Ontem, depois daquela notícia que já publiquei, para mim, depois de ter de levar um amigo 2 vezes ao hospital de Faro, primeiro porque iria simplesmente, arrancar uma coisa, espécie de quisto nas costas e não podia poderia guiar, depois, porque mal regressou a Olhão para embarcar, o dreno soltou – se e o sangue jorrou até lhe sair pelos pés. As pessoas entravam em pânico e eu dizia que tinha sido um tiro que lhe havia dado.
E ao menos tirou a bala? Perguntou uma senhora bem algarvia..
Tirei… esqueci - me foi da rolha. Dizia eu a gozar.
Mas o Sérgio começou a trocar as vistas e a não acertar com as palavras, então, foi de ambulância a encher tudo o que era trapo e compressas, comigo atrás, até às urgências do H. de Faro..
Ao fim do dia regressamos às embarcações e, já noite alta, nesta Lua cheia, ouvi – o na cama de rede do tombadilho, ao lado da sua paixão a cadelinha Peny a cantar “Beja – me Beja – me mucho como se fuera la ultima vez………….”.
Adormeci cansado, sem TV, porque o Aries fora assaltado. Até não achei mal já que, sem 220, nem os 24 woltes, que não chegavam para a rádio e nada tinha, em 12 volts eu ficaria entregue a mim próprio.
Acordei e já não vi ninguém.
Propus – me preparar O DIA.
Comprar tabaco ( não fumo, mas os assaltantes também roubaram um estojo de tabaco que me acompanhava, para aquecer nas noites frias), vir escrever a dar continuação ao romance do caraças que me baralha todos os dias, mas há - de acabar antes de mim, depois, fazer a minha refeição. Estou farto de restaurantes, de turistas, de artificialismos. “Sou daqui, aqui farei o meu alimento”. Gritei num desafio quando subi ao convés.
Fui a terra. Entrei no mercado. Nunca até hoje havia cozinhado, excepto, há umas semanas em que tentei fazer 3 cavalas cozidas, com batatas. Sem entender, o fenómeno, quando fui para comer, imagine – se; das 3 restou apenas uma cabeça. Parecia uma açorda. Segundo os especialistas que consultei, o cozinheiro aprendiz, não deveria ter metido o peixe junto às batatas. Jurei vingar – me: Boné nos cornos, entrei pelo mercado a dentro, ali a olhar como se soubesse o que é um escabeche, um souflê, ou um banho Maria. Para este aprendiz, um Banho Maria é apenas qualquer coisa para ser visto pelo buraco da fechadura. Mas essa é outra história.
Bom, voltemos ao mercado do peixe, onde me perdia na variedade. As legendas ajudaram; sabia o formato do peixe e o nome “sarda”. Lá estava, à minha espera deitada, com ares de quem não faz mais nada, numa bancada, a 4 Euros o quilo.
“Para cozer, porque isso eu sei, cavalas ou sardas ?” perguntei a uma vendedeira que me reconheceu. A sarda é melhor, disse, mas não tinha, lamentou quase a chorar.
Ajudei um casal francês que olhava sardinhas com ar tímido e contei – lhes o valor cultural daquela preciosidade no nosso povo e até, lhes fiz o prefácio de “como comer à algarvia”, com a fatia do pão por baixo, com o molho a escorrer, a embeber - se e depois, no final, leiloar o apetitoso naco de pão. Ficaram encantados.
Por acaso o vendedor tinha sardas fabulosas. Comprei duas, deu – me três e quando me descobriu, quis brindar – me. Então, resolveu escala – las, coisa que não faz parte da minha instrução. No final, foi chamar mais dois colegas divertidos; uma festa e uma lição. “Primeiro as batatas, depois, só 5 minutos as sardas, bata as sardas assim, do sal, não deite a mais mas, mas, só 5 minutos..”
OK !!!garanti com ar de apresentador de TV.
Tratei de vários assuntos como, ler os jornais (como se mente a um povo inteiro) comunicar o roubo à Policia de Segurança Publica que me encaminhou para a Policia Marítima que não tinha nenhum perito, nem detective, para as impressões digitais e que me disse que a culpa era da Policia de Segurança Publica porque esses sim, têm tudo mas não querem fazer nada. Estou farto destas merdas que caracterizam o meu país. Que se lixem, o plasma especial de 24 Ws, o estojo, o GPS que o gajo roubou…e sei lá que mais. Que lhe façam proveito. Vão dar – lhe apenas para 3 ou quatro marteladas. Se tivesse roubado mais, dava para uma overdose e o sacana, nem mijou no salão, como eu faria se fosse drogado, pobre e ladrão.
Chegou a hora do almoço. Interrompi o correio da net. Tinha mais de 100 mensagens, desde apelos a uma convocação da Confraria dos Enófilos.
Pus a mesa enquanto as batatas, o tomate e a cebola aqueciam os cus em 1400 graus.
Fui abrir, para respirar entretanto, uma Rosário tinto da Ermelinda da região de Palmela. Olhei o relógio. Piquei a batata várias vezes como os picadores nas touradas à espanhola. Achando chegada a altura, atirei as sardas com o ritual combinado. Disparei o cronógrafo.
Na expectativa, esperei.
Quando comecei a comer, o odor do azeite da Oliveira da Serra, o vinagre de vinho tão tinto, como o meu sangue, a cebola e o tomate, tornaram – se quase afrodisíacos. A sarda, parecia uma amiga minha, quando se despe…
Mas, qual não é o meu espanto, ao enfiar o garfo na batata, a filha da puta estava tão rija como um calhau.
Interrompi o banquete. Como um SS enfurecido, saquei as batatas que voltaram de castigo, ao fogão, sob a ebulição a 1600 graus, para retornarem 10 minutos depois, mansas, dominadas, domesticadas, subordinadas, como convém para saciar o apetite legitimo de um cidadão informado, decidido e determinado.
Escusado será dizer que quase um litro de Rosário, confirmou tudo, tanto, que jurou estar de acordo comigo em quase todos os pensamentos que se acotovelavam:
Choramos ambos ; vai nascer um puto ou… que vou amar, vou olhar o céu e agradecer as benesses do Senhor… qual senhor? sei lá, o gajo que baralhou tudo, que faz os ricos roubarem os pobres, os pobres a serem estúpidos e os jornalistas, parados da cabeça, a vendedores do templo.
Vou descansar. Dormir embalado….também mereço…
xxxxxxx
Acordei a meio da tarde: no rádio da sala, 1 morto e 10 feridos. Um grupo, dos muitos milhares de motares que vêm para a concentração anual de Faro, espalhou – se na auto - estrada.
Olha do que me livrei.
Só então, me concentrei e reparei que a cozinha e a mesa estavam numa lástima. Que tragédia…não se pode ter tudo.

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