é um desabafo, uma dor de alma, um grito vertido assim, a medo, mas com uma vontade enorme de mudar o mundo, ou apenas mudar o autor.
sábado, 13 de agosto de 2011
QUEM AJUDA O PAULO?
HOJE DIA 13 de Agosto Procissão a Fátima, aniversário de Fidel de Castro e TROIKA em Lisboa
Voltei a casa, Trabalhos imprescindíveis: derrubar pinheiros porque o calor assusta e avisa que os incêndios podem vir, cortar a lenha para que seque até ao Inverno, observar as vedações porque os cães andam arruaceiros, rever sistemas de rega porque andamos a água da companhia, enquanto o furo se recusa a regar, endireitar algumas arvores de fruto, etc etc.
Mas o que mais me assustou foi ver o ser Paulo pior de saúde.
Este homem de 34 anos, esta cada vez, mais deformado (gota, artrite reumatoide, rins a pararem, inflamação generalizada), anquilosado, confinado a pequenos gestos e a dores crescentes. Recusa – se a vergar à doença. Só vendo o seu sofrimento é que imaginamos. Pai de 2 crianças, que adora, e de quem fala constantemente, com a doença a avançar, luta pela vida de uma forma que nos pasma, a todo o momento. Diz que o trabalho o ajuda a esquecer – se e lhe alivia as dores, mas há pouco trabalho e muitas dores.
Vem com a sua equipa (3 ou4 homens) pelas 7 e meia, põe – na a trabalhar, distribui ordens, toma um medicamento para o sofrimento, ontem à noite fez hemodiálise, arrasta – se para fora da viatura e exige atenção às tarefas, corrige aqui, afina acolá. Não aponta, indica com os cotos, não anda, arrasta os pés envoltos em ligaduras. Sente tonturas por causa da Cortizona. Da testa tombam gotas, diz que é do verão. Do olhar rolam preces. É devoto da Nossa Senhora de Fátima, que já lhe apareceu duas vezes, diz.
Toca a trabalhar. Nada de pausas; um que é “beberolas” não pára a acartar as sebes derrubadas, o outro que está de férias e trabalha na Corcega, prepara o cimento para rever os portões e o outro, africano e muçulmano, sobe ao cimo dos pinheiros mais altos com a moto serra, para fazer o que ainda há 3 anos o Paulo fazia com alegria. Todos se movimentam pelo chefe, porque o respeitam e admiram, porque são solidários, porque “estamos todos no mesmo barco”. Os pobres ajudam – se.
Há dias, porque ele gosta de pescar, levaram – no às cavalitas pelas rochas do Guincho e apanharam 2 polvos e 4 sargos. Fizeram uma jantarada, como nos outros tempos.
O Sr Paulo quando lhe veio a doença, teve de vender uma camioneta e uma rectro - escavadora para fazer um tratamento não comparticipado. Agora, chora, o Estado não ajuda no mais básico e os medicamentos estão mais caros, saiu da casa onde era caseiro, e tem que pagar uma renda, mas sabe que há tanta “casinha” social, só que não há maneira de decidirem. “É preciso paciência” diz ele de olhar no céu; à espera de um sinal.
Ao fim da tarde do 3º dia, estava eu a ver na TV a Troika e o nosso Ministro da Finanças de, voz angelical, a dizer que os dias futuros serão piores… que é preciso fazer sacrifícios, quando, batem à porta. Era o Sr Paulo que tem uma consulta às 5 e meia no Hospital de Cascais.
Os homens ficam, alguém o vai levar.
Duas horas depois telefona – me.
“Isto está pior. Mandaram – me para Santa Cruz. Não sei quantos dias vou ficar. Uma enfermeira está a fazer – me os pensos e vão – me tirar as dores, mas só lhe quero pedir que diga ao Victor que não espalhe a palha da cavalariça para eu depois fazer estrume para as arvores e para a horta. Ainda havemos de comer galinhas e ovos fresquinhos. … Vai ver:”
Pousei o Ifone, com que não me entendo. O Ministro ainda falava, patético e ridículo. Senti – me enojado. Mandei – o à merda e desliguei.
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