quarta-feira, 14 de setembro de 2011

AS GAIVOTAS, SENHOR?



Deixei o Aries acalorado e vim a terra mergulhar num refresco.
Na margem, uma gaivota chamou – me a atenção; um bico enorme, descomunal, anormal, por, talvez, uma qualquer doença genética, ou, herança anatómica.
Uma deformação incómoda, como afinal em muitos homens e mulheres, diferentes, que por este mundo fora, lamentam e são alvo da atenção ou em muitos casos até repulsa.
Lembro – me de sempre ouvir dizer que “Se Deus o assinalou foi porque algo lhe encontrou”.
O castigo de Deus tem sempre aquele espaço injustificável que convém às religiões, mas que se lamenta e que o fazem injusto, incompreensível e até cruel.
Há qualquer coisa de errado em tudo isto, que nem os Deuses, a Natureza, ou, o mero acaso não justificam.
Que mandamento terá a gaivota infringido?

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A FASE DA MACACADA


A FASE DA MACACADA

Se não há alguém que sacuda o sr. Passos Coelho, ele só acorda quando sentir o cheiro a esturro.
O mundo mudou e uns quantos ainda não viram.
Lá fora, até os ricos mais ricos acham que devem ser mais tributados. Américo Amorim o mais rico de Portugal, quando lhe pediram para analisar a atitude dos americanos Gates, Buffett, logo seguidos dos 16 mais ricos de França, que acham chegada a altura de serem mais tributados, respondeu, mostrando com impressionante ironia que estava em desacordo, dizendo que ele, era apenas um trabalhador. Pobre homem. Pode ser o mais rico do planeta, mas é mais pobre do que muitos pobres que conheço. Bom proveito lhe façam os milhões…
E é com medo destes senhores trabalhadores que, ao invés de outros países também capitalistas, os Sócrates e Coelhos portugueses nada fizeram ou fazem para uma mais justa divisão da riqueza e das oportunidades.
Não se tratam de negócios de esquerda ou direita. Trata – se de humanidade e consciência social.
Quem viveu antes do 25 de Abril e vive hoje, quando a fome e a injustiça social aumentam, vê que do Governo ao Presidente da Republica, crescerem os apelos à caridade social, ao crescimento, suportado pelo Estado, de instituições de beneficência privadas, na maioria, com índole de cruzada, sente amargurado que andamos para trás na história da evolução do homem.
Reentramos na fase da macacada.

sábado, 13 de agosto de 2011


SÓ tenho saudades daquele que não fui nem serei.
Daquele que se afogou entre gritos da gentalha, risos da inconsciência e afagos de peles macias.

QUEM AJUDA O PAULO?





HOJE DIA 13 de Agosto Procissão a Fátima, aniversário de Fidel de Castro e TROIKA em Lisboa


Voltei a casa, Trabalhos imprescindíveis: derrubar pinheiros porque o calor assusta e avisa que os incêndios podem vir, cortar a lenha para que seque até ao Inverno, observar as vedações porque os cães andam arruaceiros, rever sistemas de rega porque andamos a água da companhia, enquanto o furo se recusa a regar, endireitar algumas arvores de fruto, etc etc.
Mas o que mais me assustou foi ver o ser Paulo pior de saúde.
Este homem de 34 anos, esta cada vez, mais deformado (gota, artrite reumatoide, rins a pararem, inflamação generalizada), anquilosado, confinado a pequenos gestos e a dores crescentes. Recusa – se a vergar à doença. Só vendo o seu sofrimento é que imaginamos. Pai de 2 crianças, que adora, e de quem fala constantemente, com a doença a avançar, luta pela vida de uma forma que nos pasma, a todo o momento. Diz que o trabalho o ajuda a esquecer – se e lhe alivia as dores, mas há pouco trabalho e muitas dores.
Vem com a sua equipa (3 ou4 homens) pelas 7 e meia, põe – na a trabalhar, distribui ordens, toma um medicamento para o sofrimento, ontem à noite fez hemodiálise, arrasta – se para fora da viatura e exige atenção às tarefas, corrige aqui, afina acolá. Não aponta, indica com os cotos, não anda, arrasta os pés envoltos em ligaduras. Sente tonturas por causa da Cortizona. Da testa tombam gotas, diz que é do verão. Do olhar rolam preces. É devoto da Nossa Senhora de Fátima, que já lhe apareceu duas vezes, diz.
Toca a trabalhar. Nada de pausas; um que é “beberolas” não pára a acartar as sebes derrubadas, o outro que está de férias e trabalha na Corcega, prepara o cimento para rever os portões e o outro, africano e muçulmano, sobe ao cimo dos pinheiros mais altos com a moto serra, para fazer o que ainda há 3 anos o Paulo fazia com alegria. Todos se movimentam pelo chefe, porque o respeitam e admiram, porque são solidários, porque “estamos todos no mesmo barco”. Os pobres ajudam – se.
Há dias, porque ele gosta de pescar, levaram – no às cavalitas pelas rochas do Guincho e apanharam 2 polvos e 4 sargos. Fizeram uma jantarada, como nos outros tempos.
O Sr Paulo quando lhe veio a doença, teve de vender uma camioneta e uma rectro - escavadora para fazer um tratamento não comparticipado. Agora, chora, o Estado não ajuda no mais básico e os medicamentos estão mais caros, saiu da casa onde era caseiro, e tem que pagar uma renda, mas sabe que há tanta “casinha” social, só que não há maneira de decidirem. “É preciso paciência” diz ele de olhar no céu; à espera de um sinal.
Ao fim da tarde do 3º dia, estava eu a ver na TV a Troika e o nosso Ministro da Finanças de, voz angelical, a dizer que os dias futuros serão piores… que é preciso fazer sacrifícios, quando, batem à porta. Era o Sr Paulo que tem uma consulta às 5 e meia no Hospital de Cascais.
Os homens ficam, alguém o vai levar.
Duas horas depois telefona – me.
“Isto está pior. Mandaram – me para Santa Cruz. Não sei quantos dias vou ficar. Uma enfermeira está a fazer – me os pensos e vão – me tirar as dores, mas só lhe quero pedir que diga ao Victor que não espalhe a palha da cavalariça para eu depois fazer estrume para as arvores e para a horta. Ainda havemos de comer galinhas e ovos fresquinhos. … Vai ver:”
Pousei o Ifone, com que não me entendo. O Ministro ainda falava, patético e ridículo. Senti – me enojado. Mandei – o à merda e desliguei.

domingo, 31 de julho de 2011

ferias até quando?


Tive visitas.
Portanto, não tive tempo. Isto foi preparar os pequenos - almoços e abalar pelas margens da ilha do Farol e Faro, mergulhar nas águas que tardavam em aquecer, pescar e irromper por tascas e tasquinhas, com apetites devoradores e à noite, pastorear a molenguice que nos arrasta de cansaço e tranquilidade. Foi bom, só que, o objectivo de vida vai – se nestas peregrinações ecológicas e gastronómicas.
Terminei a minha participação no Ultimo a sair com filmagens de pivot, aqui no barco. Ainda me diverti. Na rua as pessoas olham – me curiosas pela falta do bigode ou porque nunca me imaginaram a dizer javardices na TV. Aliás acho que são a melhor oratória para os comunicadores conscientes ; não dar crédito ao politicamente correcto, aos engravatados e aos empoleirados num poder podre e macabro. É minha maneira de dizer NÃO.
Termina o mês e começa o que os portugueses mais querem para as férias. Vão – se os morenos e chegam os branquinhos.
Muitos estrangeiros e nativos, lado a lado, nas bênçãos à natureza.
Parece que vem mesmo a propósito para nos esquecermos, ou para passar despercebido o assalto declarado ao património nacional, à soberania, à dignidade de um povo que se deixa ludibriar de forma inaudita, direi até “inaudiota”, tais são os subterfúgios para fintar a estupidificação semeada a todos os níveis.
Curiosamente os jornais estão até espigados, como convém para dar ideia de liberdade e democracia, mas a malhar em descompasso e em matérias que dão que falar mas não dão para “estoirar”. Já se vê que Passos Coelho é afinal um Sócrates mas mais determinado e com um descaramento que nos deixa boquiabertos.
Implanta o seu neo – liberalismo ou o capitalismo cego, porque na sua visão não vê nada mais que a Troica e o que ela manda. Por isso e para isso foi o eleito.
Nunca duvidamos que ele e a sua equipa são os mensageiros fieis dos “senhores do mercado” isto é, da banca nacional e internacional, que nada mais quer que o seu dinheirinho, com juros desumanos para os pobres e sem juros para os ricos.
Neste último ano os ricos aumentaram a sua riqueza em quase 20 % e o número de pobres aumentou 40 %. Bem noto na rua e no olhar das pessoas.
Temos que agradecer esta paisagem, aos nossos líderes que semeiam desgraças e misérias.
Que férias descansadas teremos.

sábado, 16 de julho de 2011

DIÁRIO DE BORDO




Hoje fui surpreendido pela chegada de uma embarcação que trazia pendurado um peixe de dimensões que jamais vira.
Claro que corri como enviado especial do PEDELEKE;
Ao principio da tarde de sábado (16/07/2011) foi pescado a 40 milhas da Ria Formosa um Blue Marlin ( da família das barracudas) com 3 . 10 de comprimento e 270 kgs.
Os autores da aventura que durou 90 minutos foram Luís Matias e Manuel Viana, pescadores amadores, residentes em Lisboa, com barco em Olhão.
Segundo os afortunados pescadores este peixe vale mais de 700 Euros, a sua carne não tem espinhas, come - se em bifes e o seu sabor é parecido ao do atum.
Mas o que mais me impressionou, para além da dimensão e peso, foi a beleza deste animal. A Natureza dotou – o de condições ímpares para nadar e se alimentar. Fusiforme, veloz, com barbatanas flexíveis, como vemos em barcos de lemes flexíveis, ou nos aviões de geometria variável, ou mesmo carros de alta velocidade, o Marlin é um animal.
As barbatanas recolhem para fendas no próprio corpo afim de os tornar mais rápidos.
Lindo, com uma pele azul coberta por uma gordura para que deslize mais ainda, possui olhos que rodam sobre si como vemos nas objectivas de 360 graus de câmaras de filmar ou captar imagem para transmissão de helicópteros.
É bem uma obra admirável que o homem procura reproduzir no seu desenvolvimento tecnológico.
Concluo que o homem tem ainda muito a aprender.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

pela sobrevivência


Ontem, depois daquela notícia que já publiquei, para mim, depois de ter de levar um amigo 2 vezes ao hospital de Faro, primeiro porque iria simplesmente, arrancar uma coisa, espécie de quisto nas costas e não podia poderia guiar, depois, porque mal regressou a Olhão para embarcar, o dreno soltou – se e o sangue jorrou até lhe sair pelos pés. As pessoas entravam em pânico e eu dizia que tinha sido um tiro que lhe havia dado.
E ao menos tirou a bala? Perguntou uma senhora bem algarvia..
Tirei… esqueci - me foi da rolha. Dizia eu a gozar.
Mas o Sérgio começou a trocar as vistas e a não acertar com as palavras, então, foi de ambulância a encher tudo o que era trapo e compressas, comigo atrás, até às urgências do H. de Faro..
Ao fim do dia regressamos às embarcações e, já noite alta, nesta Lua cheia, ouvi – o na cama de rede do tombadilho, ao lado da sua paixão a cadelinha Peny a cantar “Beja – me Beja – me mucho como se fuera la ultima vez………….”.
Adormeci cansado, sem TV, porque o Aries fora assaltado. Até não achei mal já que, sem 220, nem os 24 woltes, que não chegavam para a rádio e nada tinha, em 12 volts eu ficaria entregue a mim próprio.
Acordei e já não vi ninguém.
Propus – me preparar O DIA.
Comprar tabaco ( não fumo, mas os assaltantes também roubaram um estojo de tabaco que me acompanhava, para aquecer nas noites frias), vir escrever a dar continuação ao romance do caraças que me baralha todos os dias, mas há - de acabar antes de mim, depois, fazer a minha refeição. Estou farto de restaurantes, de turistas, de artificialismos. “Sou daqui, aqui farei o meu alimento”. Gritei num desafio quando subi ao convés.
Fui a terra. Entrei no mercado. Nunca até hoje havia cozinhado, excepto, há umas semanas em que tentei fazer 3 cavalas cozidas, com batatas. Sem entender, o fenómeno, quando fui para comer, imagine – se; das 3 restou apenas uma cabeça. Parecia uma açorda. Segundo os especialistas que consultei, o cozinheiro aprendiz, não deveria ter metido o peixe junto às batatas. Jurei vingar – me: Boné nos cornos, entrei pelo mercado a dentro, ali a olhar como se soubesse o que é um escabeche, um souflê, ou um banho Maria. Para este aprendiz, um Banho Maria é apenas qualquer coisa para ser visto pelo buraco da fechadura. Mas essa é outra história.
Bom, voltemos ao mercado do peixe, onde me perdia na variedade. As legendas ajudaram; sabia o formato do peixe e o nome “sarda”. Lá estava, à minha espera deitada, com ares de quem não faz mais nada, numa bancada, a 4 Euros o quilo.
“Para cozer, porque isso eu sei, cavalas ou sardas ?” perguntei a uma vendedeira que me reconheceu. A sarda é melhor, disse, mas não tinha, lamentou quase a chorar.
Ajudei um casal francês que olhava sardinhas com ar tímido e contei – lhes o valor cultural daquela preciosidade no nosso povo e até, lhes fiz o prefácio de “como comer à algarvia”, com a fatia do pão por baixo, com o molho a escorrer, a embeber - se e depois, no final, leiloar o apetitoso naco de pão. Ficaram encantados.
Por acaso o vendedor tinha sardas fabulosas. Comprei duas, deu – me três e quando me descobriu, quis brindar – me. Então, resolveu escala – las, coisa que não faz parte da minha instrução. No final, foi chamar mais dois colegas divertidos; uma festa e uma lição. “Primeiro as batatas, depois, só 5 minutos as sardas, bata as sardas assim, do sal, não deite a mais mas, mas, só 5 minutos..”
OK !!!garanti com ar de apresentador de TV.
Tratei de vários assuntos como, ler os jornais (como se mente a um povo inteiro) comunicar o roubo à Policia de Segurança Publica que me encaminhou para a Policia Marítima que não tinha nenhum perito, nem detective, para as impressões digitais e que me disse que a culpa era da Policia de Segurança Publica porque esses sim, têm tudo mas não querem fazer nada. Estou farto destas merdas que caracterizam o meu país. Que se lixem, o plasma especial de 24 Ws, o estojo, o GPS que o gajo roubou…e sei lá que mais. Que lhe façam proveito. Vão dar – lhe apenas para 3 ou quatro marteladas. Se tivesse roubado mais, dava para uma overdose e o sacana, nem mijou no salão, como eu faria se fosse drogado, pobre e ladrão.
Chegou a hora do almoço. Interrompi o correio da net. Tinha mais de 100 mensagens, desde apelos a uma convocação da Confraria dos Enófilos.
Pus a mesa enquanto as batatas, o tomate e a cebola aqueciam os cus em 1400 graus.
Fui abrir, para respirar entretanto, uma Rosário tinto da Ermelinda da região de Palmela. Olhei o relógio. Piquei a batata várias vezes como os picadores nas touradas à espanhola. Achando chegada a altura, atirei as sardas com o ritual combinado. Disparei o cronógrafo.
Na expectativa, esperei.
Quando comecei a comer, o odor do azeite da Oliveira da Serra, o vinagre de vinho tão tinto, como o meu sangue, a cebola e o tomate, tornaram – se quase afrodisíacos. A sarda, parecia uma amiga minha, quando se despe…
Mas, qual não é o meu espanto, ao enfiar o garfo na batata, a filha da puta estava tão rija como um calhau.
Interrompi o banquete. Como um SS enfurecido, saquei as batatas que voltaram de castigo, ao fogão, sob a ebulição a 1600 graus, para retornarem 10 minutos depois, mansas, dominadas, domesticadas, subordinadas, como convém para saciar o apetite legitimo de um cidadão informado, decidido e determinado.
Escusado será dizer que quase um litro de Rosário, confirmou tudo, tanto, que jurou estar de acordo comigo em quase todos os pensamentos que se acotovelavam:
Choramos ambos ; vai nascer um puto ou… que vou amar, vou olhar o céu e agradecer as benesses do Senhor… qual senhor? sei lá, o gajo que baralhou tudo, que faz os ricos roubarem os pobres, os pobres a serem estúpidos e os jornalistas, parados da cabeça, a vendedores do templo.
Vou descansar. Dormir embalado….também mereço…
xxxxxxx
Acordei a meio da tarde: no rádio da sala, 1 morto e 10 feridos. Um grupo, dos muitos milhares de motares que vêm para a concentração anual de Faro, espalhou – se na auto - estrada.
Olha do que me livrei.
Só então, me concentrei e reparei que a cozinha e a mesa estavam numa lástima. Que tragédia…não se pode ter tudo.