terça-feira, 5 de abril de 2016

TEMPO DE MUDANÇA




(nota: escrevia esta reflexão no exacto momento em que ao mundo foi divulgada a primeira conclusão PANAMA PAPERS)



A estupidez não tem pátria nem limites, mas parece ter vindo com o homem para ficar e se reproduzir, como a mais tenebrosa das epidemias.
A exaustiva repetição de ideias milenares embrulhadas em provérbios que se desfazem em nada, numa vã tentativa de construir um homem novo e feliz, é chover no molhado e adiar soluções.
São estas as promessas de políticos, intelectuais, papas e budas mensageiros de religiões entorpecentes, estudiosos que em todos os países repetem os erros responsáveis por uma atualidade macabra e cruel.
Escusado será enunciar aqui as barbaridades que nos gritam em telejornais a todo o momento.
Mas pergunta – se;  o homem já vai à lua e não põe termo às barbáries na Terra? Os responsáveis reproduzem o que os romanos, os gregos, os nazis,  os conservadores, liberais, comunistas e socialistas e os pseudo - democratas têm feito multiplicando a dose que nada altera ou promove. Repetem o que outros iluminados disseram de braços no ar sobre um jumento há milhares de anos.
Algo está tragicamente errado. E o que é?
É não admitir que o ser humano que cresce exponencialmente em numero, cresce geometricamente em capacidades técnicas, em saberes e em desafios novos, transformando – se a olhos vistos. Que tudo está a mudar excepto a linguagem de quem manda no mundo.
As crianças nascem com um computador nas mãos, cientistas penetram nos cérebros, e preparam – se para aí  depositarem pensamentos e vontades. As lâmpadas hoje são de ledes, a morte é adiada e a vida manchada pela inércia e inépcia, que apenas promove a cegueira em que todos mergulhamos para benefício de uns quantos que julgam pisar o paraíso mas é apenas o viveiro onde manipulam estratégias e processos de multiplicar milhões.
Os líderes americanos, russos, asiáticos, europeus ou árabes nasceram a plantar as convencionais promessas e não passam dessa linguagem decrépita que leva o cidadão à urna e não passa daí.
A única nota positiva é que apesar de tudo, tudo está a mudar, excepto eles. Eles em grande maioria revelam – se ora incompetentes ora corruptos. As sociedades já não mudam só de 500 em 500 anos, não agora é de 5 em 5. Está a crescer uma nova opinião, uma nova cultura que admite estar a chegar o tal homem novo que tudo há – de mudar. Esse homem novo é o que alia à inteligência e saber a vontade prioritária e inadiável de acabar com as calamidades ditadas pela vaidade, pelo lucro e pelo domínio de uns sobre os outros.
 Mas para que não seja mais tarde ainda,  é preciso que  comunicação social esteja ao serviço das populações e não esta ao serviço exclusivo  dos patrões. Comecemos por aí.

quinta-feira, 17 de março de 2016

A IDADE NÃO PERDOA MAS EU SIM



È hábito milenar dizer que idade não perdoa. É a tosse dele ou dela, é uma irritação quase permanente, é a indisponibilidade para participar em diálogos estéreis ou desinteressantes ou fazer fretes descabidos. Mas não é difícil verificar que com a idade vamos perdendo algumas qualidades mas , atenção, vamos 
ganhando outras.
Com efeito a Natureza encarrega – se de controlar a evolução do homem permitindo até a sua completa felicidade até ao último suspiro. Preciso é que o homem ao longo da vida se aperceba da sua adaptação às novas condições ou exigências.
Por exemplo, a  mulher com a idade vai mudando de vós, passando o som natural a tornar – se cada vez mais estridente parecendo mais agressivo também. Mas Deus escreve direito por linhas tortas e oh beleza de vida – enquanto isso acontece com a mulher, com o homem é o tímpano que endurece fazendo – o perder a audição para essas frequências. Assim bem pode gritar um e descansar o outro.

Lindo... não é?

sexta-feira, 4 de março de 2016

ASSIM SE PERDE O APETITE




Entrei no restaurante e vi –o numa mesa com uma senhora talvez da mesma idade, isto é, com uma "velhota".
Reconheci – o porque ao longo dos últimos 20 anos habituara – me a vê – lo no Verão pelas praias do Estoril e Cascais a dar mais nas vistas do que qualquer um de nós.  
Nos locais onde havia mais gente e se possível frente a uma esplanada como se fosse uma plateia, o nosso amigo começava uma sessão de aquecimento qual vedeta do desporto.  E quando já se não esperava mais fazia sequências de fliques - flaques, de mortais para a frente e para trás e passeava de pernas para o ar.
Noutras alturas via- o em exercícios mais arrojados; subia para a muralha ou ao murete de uma ponte sobre o mar e as rochas e  ante a admiração de transeuntes e sobretudo turistas, espectadores atónitos, fazia um perigosíssimo pino correndo o risco de se despedaçar sobre os bicos dos rochedos que o esperavam lá em baixo.
Até quando é que este ex - septuagenário, já octo, continuará a arriscar a vida, perguntava eu?
Na última época não o vi e eis que o vejo afiambrado ali com a sua namorada e por certo admiradora dos seus atos, sem medo nem idade.
Terminou o repasto e reconheceu – me quando se erguia a custo. À saída parou junto a mim. Cumprimentamos – nos e quando reparei que o herói mancava, usava bengala e amparava – se, nela e na dama, travei a garfada e perguntei : Então?

Ele, com o olhar mortiço, que havia estacado como vítima de um assassínio apontou primeiro para a bengala e depois para ela que abanava a cabeça pedindo clemência. Pensei o pior. Ainda de garfo e faca com uma isca em riste, ouvi a história na voz trémula da senhora; “Foi no dia dos namorados. Saí e fui ao cabeleireiro Ficou só em casa. Quis fazer – me uma surpresa; montar, na sala um reposteiro, lindo, às flores. Pegou num escadote, subiu e caiu. Quando cheguei ainda estava no chão. Não conseguia levantar – se. Nunca mais esquecerei”. Rematou ela a concluir com um suspiro longo. “Nem eu”, sublinhou ele, “Nem eu” engoli eu ao mesmo tempo que me arrependia da isca que me fez perder o apetite.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

CONVERSAS COM O MEU UMBIGO nº5

-Acabo de chegar de Lisboa. Detesto ir a Lisboa.
-Passaste lá a tua vida.
 -Sim, mas agora os 30 kms parecem cada vez mais 5. Estou mais distante.
-Mas Lisboa está mais bonita.
-Não sei.
-Nem eu ... dizem.
-Está diferente e as pessoas também.- afirmei peremptório.
-Estás é cansado.
-Não, esgotado. Acho que já disse tudo o que tinha a dizer, mas fui falar para uma mão cheia de jovens. E eles são o futuro. É importante que saibam de onde veem.
-Sim. Mas antes até gostavas.
 -Desta vez na Escola António Arroio sobre, imagina ; A Comunicação Social e o 25 de Abril.
-Disso sabes tu... lembrou o meu umbigo, como o mais intimo confidente, que me tem acompanhado em tanta circunstância e tanta latitude-.
-Lembrei – lhes que a história é o que os vencedores contam. Os derrotados calam – se para mais tarde verterem a sua versão, nem sempre real ou exata.- Numa contração senti – o esboçar um sorriso. -E tu o que lhes contaste?
-Falei, falei durante uma hora . Cheguei a emocionar – me ao descrever os sonhos que nasceram naquele. Sonhos que não nos largam. – Não entendi o que ele disse mas continuei. – Os jovens pareciam distantes, como se lhes falasse de um filme de ficção passado na lua. Não era com eles que se propõem trabalhar na Comunicação Social. Duas raparigas de cabelos longos e unhas descomunais parece que adormeceram agarradas às mochilas que encabeçavam sobre as carteiras. Os restantes olhavam aparentemente sem ouvir, entorpecidos. Exceção para dois ou três que acenavam com a cabeça, um sorriso e pontos de interrogação no olhar, até se despediram com uma salva de palmas.
-Palmas?
 -As que acordaram também, claro.
Fizemos silêncio como se cada um de nós, eu e o meu umbigo pensássemos em coisas distintas.
-Ainda aí estás? – Perguntou ele que adora conversar.
-Sim, estou. Estou a ver que esta juventude com tanto futebol, tanta raspadinha, tantas festas e espetáculos vive uma vida que não será a sua.
-Já te tinha avisado.
-É verdade mas...
-Mas o quê? Poe isso de lado... pensa mais em nós.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

CONVERSAS COM O MEU UMBIGO nº 4

ÀS vezes envergonho – me de falar com ele. Não é que alguém  nos ouça e me critique, mas porque não consigo manter uma conversa coerente, lógica, frutífera. Passo – me, bufo que nem um hipertenso. Uma desgraça, enfim.

-       Não te acanhes Pá -  disse ele que me conhece melhor que ninguém e que agora já me trata por Pá.Repara, os umbigos não servem só para isto como um marco num descobrimento. Não sou apenas um nó que me liga a ti. Mesmo que não queiras sou a tua consciência.
-       A minha consciência, mas eu nem tenho consciência como tu me avisaste um dia. Lembraste?
-       Eu disse – te isso?
-       -Sim quando um dia vim para aqui dizer que o homem, seita de que eu não me orgulho de pertencer, é uma desgraça, e que apesar de tanto folclore isto continua um caos de violência, de injustiça...- ia continuar mas ele atalhou- Sim lembro – me, aliás desde que nos conhecemos que não mudas de música. Eu dei o nó e daqui não saio mas tu já podias ter imaginado uma luz ao fundo túnel e ido em frente.
-       - O pior é que não vejo luz nenhuma para seguir em frente. A vida parece um arraial de parvoeiras semeadas pelas religiões, pelos políticos e por uma estupidez atávica da condição humana.- E o pior???? - Disse o umbigo à espera de uma tirada mais forte. Sem o ver imaginei – lhe a expressão e metralhei. - E o pior é que ambos caminhamos cada vez mais depressa para a morte e, até agora, nada mudamos à nossa volta.
-       E estava combinado mudarmos?
-       Claro porque pensas que vieste ao mundo ou melhor; para que pensas que vieste ao mundo? Foi para te coçares e empurrares tudo com a barriga?
-       O umbigo encaixou.
-