ÀS
vezes envergonho – me de falar com ele. Não é que alguém nos ouça e me critique, mas porque não consigo
manter uma conversa coerente, lógica, frutífera. Passo – me, bufo que nem um
hipertenso. Uma desgraça, enfim.
-
Não te acanhes
Pá - disse ele que me conhece melhor
que ninguém e que agora já me trata por Pá.
– Repara, os umbigos não servem só para
isto como um marco num descobrimento. Não sou apenas um nó que me liga a ti.
Mesmo que não queiras sou a tua consciência.
-
A minha
consciência, mas eu nem tenho consciência como tu me avisaste um dia.
Lembraste?
-
Eu disse –
te isso?
-
-Sim
quando um dia vim para aqui dizer que o homem, seita de que eu não me orgulho
de pertencer, é uma desgraça, e que apesar de tanto folclore isto continua um
caos de violência, de injustiça...- ia continuar mas ele atalhou- Sim lembro – me, aliás desde que nos
conhecemos que não mudas de música. Eu dei o nó e daqui não saio mas tu já
podias ter imaginado uma luz ao fundo túnel e ido em frente.
-
- O pior é
que não vejo luz nenhuma para seguir em frente. A vida parece um arraial de
parvoeiras semeadas pelas religiões, pelos políticos e por uma estupidez atávica
da condição humana.- E o pior???? - Disse o umbigo à espera de uma tirada
mais forte. Sem o ver imaginei – lhe a expressão e metralhei. - E o pior é que ambos caminhamos cada vez
mais depressa para a morte e, até agora, nada mudamos à nossa volta.
-
E estava
combinado mudarmos?
-
Claro porque
pensas que vieste ao mundo ou melhor; para que pensas que vieste ao mundo? Foi
para te coçares e empurrares tudo com a barriga?
-
O umbigo encaixou.
-
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