quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

CONVERSAS COM O MEU UMBIGO nº 4

ÀS vezes envergonho – me de falar com ele. Não é que alguém  nos ouça e me critique, mas porque não consigo manter uma conversa coerente, lógica, frutífera. Passo – me, bufo que nem um hipertenso. Uma desgraça, enfim.

-       Não te acanhes Pá -  disse ele que me conhece melhor que ninguém e que agora já me trata por Pá.Repara, os umbigos não servem só para isto como um marco num descobrimento. Não sou apenas um nó que me liga a ti. Mesmo que não queiras sou a tua consciência.
-       A minha consciência, mas eu nem tenho consciência como tu me avisaste um dia. Lembraste?
-       Eu disse – te isso?
-       -Sim quando um dia vim para aqui dizer que o homem, seita de que eu não me orgulho de pertencer, é uma desgraça, e que apesar de tanto folclore isto continua um caos de violência, de injustiça...- ia continuar mas ele atalhou- Sim lembro – me, aliás desde que nos conhecemos que não mudas de música. Eu dei o nó e daqui não saio mas tu já podias ter imaginado uma luz ao fundo túnel e ido em frente.
-       - O pior é que não vejo luz nenhuma para seguir em frente. A vida parece um arraial de parvoeiras semeadas pelas religiões, pelos políticos e por uma estupidez atávica da condição humana.- E o pior???? - Disse o umbigo à espera de uma tirada mais forte. Sem o ver imaginei – lhe a expressão e metralhei. - E o pior é que ambos caminhamos cada vez mais depressa para a morte e, até agora, nada mudamos à nossa volta.
-       E estava combinado mudarmos?
-       Claro porque pensas que vieste ao mundo ou melhor; para que pensas que vieste ao mundo? Foi para te coçares e empurrares tudo com a barriga?
-       O umbigo encaixou.
-        


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