-Passaste lá a tua vida.
-Sim,
mas agora os 30 kms parecem cada vez mais 5. Estou mais distante.
-Mas Lisboa está mais bonita.
-Não sei.
-Nem eu ... dizem.
-Está diferente e as pessoas também.- afirmei
peremptório.
-Estás é cansado.
-Não, esgotado. Acho que já disse tudo o que
tinha a dizer, mas fui falar para uma mão cheia de jovens. E eles são o futuro.
É importante que saibam de onde veem.
-Sim. Mas antes até gostavas.
-Desta
vez na Escola António Arroio sobre, imagina ; A Comunicação Social e o 25 de
Abril.
-Disso sabes tu... lembrou o meu umbigo,
como o mais intimo confidente, que me tem acompanhado em tanta circunstância e
tanta latitude-.
-Lembrei – lhes que a história é o que os
vencedores contam. Os derrotados calam – se para mais tarde verterem a sua
versão, nem sempre real ou exata.- Numa contração senti – o esboçar um
sorriso. -E tu o que lhes contaste?
-Falei, falei durante uma hora . Cheguei a
emocionar – me ao descrever os sonhos que nasceram naquele. Sonhos que não nos
largam. – Não entendi o que ele disse mas continuei. – Os jovens pareciam
distantes, como se lhes falasse de um filme de ficção passado na lua. Não era
com eles que se propõem trabalhar na Comunicação Social. Duas raparigas de cabelos
longos e unhas descomunais parece que adormeceram agarradas às mochilas que
encabeçavam sobre as carteiras. Os restantes olhavam aparentemente sem ouvir,
entorpecidos. Exceção para dois ou três que acenavam com a cabeça, um sorriso e
pontos de interrogação no olhar, até se despediram com uma salva de palmas.
-Palmas?
-As
que acordaram também, claro.
Fizemos silêncio como se cada um de nós, eu e o meu umbigo
pensássemos em coisas distintas.
-Ainda aí estás? – Perguntou
ele que adora conversar.
-Sim, estou. Estou a
ver que esta juventude com tanto futebol, tanta raspadinha, tantas festas e
espetáculos vive uma vida que não será a sua.
-Já te tinha avisado.
-É verdade mas...
-Mas o quê? Poe isso
de lado... pensa mais em nós.
Sem comentários:
Enviar um comentário