sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

QUE NATAL.....


Porque um Natal assim

Foi o Natal mais introspectivo da minha vida. Passei – o a olhar para trás, porque  o presente é turvo e não vejo futuro.

Fui traído nos sonhos de ver um Portugal mais justo e digno.

Estou solidário com os pobres portugueses.

Nunca lhes dei nem darei uma esmola mas sim o meu abraço e o meu grito.

 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Eu, cobarde, me confesso.


Confesso que me mantenho impávido e sereno enquanto milhões de portugueses sofrem na pele o peso da cavalgante miséria que se aloja no olhar, nas paredes de casa, no fundo da panela e no futuro dos filhos.

Confesso que assisto aos noticiários das TVs, com a consciência de um inconsciente que lava as mãos do sofrimento de irmãos que se embebedam, que choram, que roubam, que gritam, que se suicidam porque não tem com que pagar a renda, os medicamentos, os livros das crianças o passe, o pão, e perderam o trabalho.

Confesso que não mereço o sol nem a chuva que sobre mim caiem como bênçãos de vida, num tranquilo jardim à beira mar, quando assisto aos despiques de desgarrada, de políticos míopes, surdos e mudos que falam apenas, no lugar comum, na frase feita, com a ideia gasta.

Confesso que não vejo no horizonte gente capaz de bater o pé, de gritar: basta!.

Confesso que me acobardo quando ainda me comovo com o hino nacional, com um cravo vermelho,  ou o olhar de uma criança, mas deixo que o tempo dilua os sentimentos.

Confesso que  deveria usa – los para com eles inundar a assembleia e a consciência do pomposo PR do enfático PM com seu séquito, dos ilustrérrimos Juízes, dos  agitados deputados, dos seráficos cardeais e bispos,  de todo o cortejo de incapazes, que não sabem  que não pode haver nem discursos de promessas, nem jantares, festas, futebóis e risos, enquanto um português sofrer por sua causa.      

Confesso também,  sem cobardia alguma, que nunca votei, nem votarei neles.

 

a vergonha de ser português


Acabei de beber uma aguardente de medronho que acartei da Fuseta até à capital como quem trás Viagra para um pelotão de infantaria.

Os ventos do mar e os da terra têm sido matreiros para com o autor destas letras. Por isso, contra ventos e até marés, quando vierem se vierem, regresso com a loucura de quem se verga mas não parte como fazem as canas no matagal.

É a vergonha de ser português “hoje” que me salta aos dedos para que marcharem no teclado.

Vou vomitar até aos bofes saírem pela boca e mijar no pântano onde florescem os políticos que conheço.
Não lhes perdou o sofrimento que com sorriso macabro derramam sobre o povo a que pertenço, feito de gente boa, dizem que calma, mas sobretudo crédula e adormecida.

É tempo de acordar e enfrentar a insónia que  nos alimenta.

 

sábado, 27 de outubro de 2012

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

CAPITULO X ( texto a incluir em trabalho mais vasto)

O hábito de, diariamente, logo pela manhã, tomar o café, ou seja, a tradicional bica, ler o jornal e fumar um cigarro de enrolar, o único do dia, levava – o a descer do Siroco para o bote e depois de remar um pouco, acostar à muralha de Olhão. António Gil, de mochila às costas, como qualquer mareante, porque espaço e mobilidade são bens preciosos a bordo, senta – se na esplanada onde uns quantos locais, o olham, apontam e comentam a sua presença. Os mais assíduos já o cumprimentam com um aceno afável, como se fosse um pescador, ou um qualquer reformado, igual a muitos que não largam a borda de água, num lamento permanente.


Mal se senta, a empregada diligente de avental e touca branca, traz – lhe o café cheio que é imposição deste cliente, tal como um cinzeiro, mesmo estando o chão repleto de beatas.
As primeiras páginas dos jornais inspiram – se nos noticiários da rádio com que acordou. Fala – se do tradicional amorfismo calculado, de um Presidente da Republica que depois de ter ajudado a enriquecer uns quantos e a empobrecer uns milhões, da degradação e da ineficácia de um Governo, incapaz de salvar o País que se afunda diariamente, dos ministros com acções anedóticas, da incapacidade de uma Justiça que deixa prescrever ou se escusa, em leis dúbias e escorregadias, por onde se salvam ilustres personagens, depois fotos de manifestações de “indignados” de policias, de enfermeiros, de professores, de agricultores, de jornalistas, ao lado de notícias sobre o crescendo da pobreza em numero, onde ingressa a classe, até aqui média e o enriquecimento dos mais ricos, da injustiça para com os reformados que descontaram dezenas de anos para a sua reforma e que agora o Governo dela se apropria para, diz, pagar aos credores estrangeiros, isto enquanto o mais elevado aumento de impostos, não equitativo, faz doer a quem trabalha, ao mesmo tempo que aos empresários, originando uma estagnação de mau agoiro. A noção de país e de nação esboroam – se, quando como nunca, por sugestão do próprio primeiro - ministro e outros líderes radiosos, a juventude parte para o estrangeiro, em busca de trabalho e de futuro. António, nem levantava os olhos das 48 páginas do diário. Não deixou porém de estranhar o que à primeira, poderia parecer uma nova alvorada para a informação no seu país, uma lufada de liberdade, quem sabe se redentora; a tomada de posição de alguns jornais ou Tvs corajosos, frente a grupos financeiros e económicos, nos quais envolvem o PR, ministros e gente grada da vida pública. Céptico, como vem estando, nos últimos tempos, logo fica com a sensação de que por detrás, estão escandalosos jogos de corrupção, de grandes negócios de obras públicas, de privatizações, o mesmo é dizer, da venda de património e da soberania nacionais. Não lhe saem da memória, conhecidos comissionistas, cujo currículo até já aparece nos jornais e Tvs, individualidades a soldo de entidades estrangeiras, conseguem com os escritórios de advogados e deputados interessados contractos surrealistas e transferem os nossos haveres e o nosso futuro para grupos financeiros da China, Angola ou Alemanha, conforme o lobby que vença numa ou noutra modalidade, electricidade, águas, estradas nacionais, Tvs, seguros, saúde etc.- O país está a saque –
Quando levantou os olhos, passou uma ambulância a apitar assustadoramente. Pensou no hospital para onde alguém iria e relembrou as dezenas de exemplos que recentemente encontrara na degradação dos Serviços Públicos de Saúde, numa acção que visa estrategicamente privilegiar a entrada dos grandes capitais na saúde privada. Sentiu como que num enjoo, aquela sensação que se tem quando se está frente à constatação de um assalto, de um crime, perpetrado com minucia e onde à priori, não haverá punição. Pensou tomar mais um café, mas desistiu. Já tinha taquicardia que chegasse.
A esplanada ficava entre os dois mercados reconstruidos em 1916, com inspiração árabe, em tijolo castanho, com minaretes e torreões, como sentinelas viradas para o mar e para África. Nos lados extremos dos dois grandes blocos, jardins com frondosas palmeiras, plátanos, euracádias e miospores. No lado sul balançam – se iates de vários tipos e origens que tanto ficam umas horas, como umas semanas; 2 holandeses, 1 inglês e 1 alemão e 1 sueco, desde os modernos trimarãs até aos, mono - cascos de ferro, ou madeira, que, pelo aspecto, lembram muitos anos de tempestades e vida dura. No pavilhão do lado nascente, o mercado da fruta, de poente, o do peixe. Com frequência e por curiosidade olfactiva percorria – os com a atenção que um ignorante revela. A profusão de peixe fresco, alinhado sobre as bancas e a sua beleza apesar de mortos, que poucas horas antes eram seres vivos e presumivelmente felizes. Sardinhas, peixe - espada, raias, cavalas, pescadas, safios, garoupas, atuns gigantescos e uma infinita variedade de vivalves e afins, com ares de quem não teve uma morte tranquila, aguardam compradores. Tão odorífero como este, só o espectáculo do outro pavilhão; laranjas, melões, maças, peras, uvas, beterraba, romãs figos amêndoas, alfarrobas, tudo o que esta terra algarvia dá em profusão e qualidade. Além dos tentadores frutos secos e os doces regionais; D. Rodrigos, morgados de amêndoa, figos cheios, almendrados que deliciam qualquer guloso. Depois era ali que dava a entrada formal, no seu dia.
Jaziam a chávena da bica vazia, a embalagem do açúcar, não violada e o cinzeiro com a beata. Levantava a cabeça e como numa cena panorâmica percorria os quase 360 graus;. À frente, outra esplanada, esta não em vermelho, mas com cadeiras, mesas e guarda - sois amarelas. Turistas com ar próspero e feliz, de chapéus e bonés de corres garridas, tomam chás com leite, cafés e alguns bebem a primeira de muitas cervejas, ao mesmo tempo que comem torradas e aprendem a gostar dos doces da região. Eles, na maioria, de cabelos brancos e calções garridos e elas, loiras, em trajes, que nas suas terras, por certo, não ousariam no dia-a-dia; saias até aos pés, ou calções, onde mal cabem, ou colans justíssimos, sob camisolas, ou t shirts largas. Mendigos, cada vez mais, vêm serpentear pelas mesas de mão estendida a pedir ou simular a venda de lenços de papel, sabonetes ou pequenos sacos de ameijoas ou berbigão que foram apanhar na ria. Na mesa ao lado um jovem magro, de barba negra crescida e cabelo desalinhado pede umas moedas. Pergunta “Não me dá uma esmolinha? Tenho fome”. A resposta é mais uma nega. António olha - o e lamenta que o jovem, além de revelar a miséria em que vive, por certo avolumada pela necessidade de droga, mostra falta de saber mendigar. Jamais deveria começar por uma negação: não me… Seria muito mais sucedido se peremptoriamente perguntasse: “Dá me uma esmola?” Até para se ser mendigo é preciso saber. Qualquer dia haverá cursos. Pagos, claro. Passa um homem que veste umas calças, só com uma perna, T. shirt branca. Vem de canadianas. Pára junto ás correntes que guardam o passeio empedrado da ria que passa 3 metros abaixo. Um outro, de camisa às riscas verticais, a puxar um cão branco malhado de castanho e bem tratado, fica a falar com o coxo. António imagina o diálogo de ambos. É a conversa de toda a gente resumida num desabafo “Que vai ser de nós?”
Junto ao portão de ferro que dá acesso ao pontão para a replica do caíque Bom Sucesso que em 1808 tripulado por pequeno grupo de pescadores de Olhão partiu para o Brasil afim de comunicar ao Rei D. João VI a retirada das tropas invasoras de Napoleão, três jovens sentam – se em dois caixotes do lixo. Não é difícil adivinhar que a sua preocupação já não é o futebol, nem o desenrolar da Casa dos Segredos. Um deles era o filho da vendedeira que não há muito interpelou António Gil, num apelo para que ele lhe arranjasse um emprego. A mulher, vestida de preto e com sofrimento no olhar e na voz – O senhor veja lá, o meu filho tem 25 anos. Tirou no curso de gestão que bem me custou, gastei quase dez mil Euros e não tem emprego. Já se inscreveu no partido para ver se arranjava para a Camara ou coisa assim, mas não. São muitos a quererem. Olhe, anda a acartar fruta e a vender, algum peixe que lhe dão. Pobre rapaz-
Junto à primeira boia vermelha, um veleiro francês de 40 pés, lançou ferro. A eólica tal como a bandeira de origem e a portuguesa, mais acima e a estibordo, como é de lei, não param de se manifestar. Um casal já de meia - idade desce para o bote com um pequeno motor. Virão a terra à descoberta. Que pensarão deste país?
Num banco virado para o mar uma mulher sentada sacode permanentemente a cabeça e a perna que cruzou com a outra. Magra. Parece ser pobre. As roupas bem passadas estão tom – sobre – tom, com algum gosto sóbrio. Sapatos pretos, rasos, mala à tira - colo, também preta. Casaco de malha castanho claro sobre blusa branca e saia castanha escura às pregas. É frequente naquele local, às vezes com os cabelos a agitarem - se ao vento . A cara já mostra rugas provavelmente do sol pois ela não escolhe o bom ou o mau tempo. Os olhos são verdes, tímidos e raramente saem do horizonte, mas quando olha alguém, fixa como quem dispara. Parece estrangeira mas dizem que é portuguesa e que ficou assim depois de um desgosto de amor. Veio para aqui e cá ficou. António pensou em tempos, abeirar – se dela. Começou por a cumprimentar. Primeiro admirada, depois educada passou a responder. Mais tarde, viria a ser ela a saúda – lo, em primeiro lugar, fazendo pausa no seu movimento eterno. A curiosidade jornalística susteve – se. Ela teria segredos que guardava em si, como num túmulo e ele jamais cometeria esse sacrilégio.


domingo, 1 de julho de 2012

A protagonista

Esta jovem, particularmente bonita e inteligente, de nome Penny, com 4 anos, filha ilegitima, de uma Pitchon e de um Cão de dÀgua, que vive neste momento, com o meu amigo Sérgio do navio Arca de Noé, na Ria Formosa - Olhão, será protagonista de um livro de que sou autor e que vai na 350 página. Com esta personagem, ficaremos a saber como é possivel uma pequena e gentil cadela entender e ser entendida por humanos, ao ponto de com eles partilhar alegrias e sofrimentos, num dia a dia, nem sempre fácil para uns e para outros. Esperamos dar aqui mais informações sobre a referida personagem e fazemos todos os esforços para conseguirmos, com ela, uma reveladora e empolgante entrevista.

domingo, 3 de junho de 2012

O FORA D`HORAS

Dormir num barco fora de água, a mais de 4 metros do chão é pior que dormir num galinheiro. Os sons não têm nada a ver com o mar, o vento bate e a resposta é rígida, inesperada e dura. Há ruídos que no mar não se ouvem e que aqui, parecem impróprios e intrusos. Não há o balanço convencional nem as estrelas a espreitar pelas vigias. O camarote estava quente. Faltava a água e a brisa marítima, para refrescar e adormecer. Talvez pelo calor e pelo cansaço, adormecera cedo para acordar pouco depois. Por isso, vira – se acordado, ainda não passava da meia - noite. Um barulho estranho preocupou – o. Todos os barulhos não habituais, são preocupantes. Pensou ser a bomba dos fundos a funcionar. Não era, nem a das águas putáveis, nem a das águas sujas, nem o bilge blower. Não era o rádio da mesa das cartas nem a tv. Meteu a cabeça na arca congeladora. Nada. Ficou com o perfume de uma morcela que comprara recentemente em Ayamonte e que cheirava que nem uma espanhola no dia de S. Fermin. Cheiro estranho mas a única companhia com um pão integral, comprado na Padaria do Povo e uma cervejola. Subiu as escadas e pôs o pescoço de fora. Um cemitério de naves convalescentes, mortas, moribundas ou a dormitarem. Esqueletos de algumas a lembrar o fim. Calçou um chinelos de enfiar no dedo, abeirou – se da escada e desceu com alguma dificuldade, não fosse estatelar – se, daquela altura. Lembrou – se de nessa manhã, ter perguntado, a um jovem que polia a pintura exterior se alguém já morrera por ter caído daquela escada. Ele tirou a mascara e disse que sim. Antes de se pôr novamente a trabalhar explicou que fora um pescador que ao descer, caíra e que quando chegou o 112, já estava azul. Para acalmar o cliente, adiantou que devia estar com os copos, ou ter tido um ataque cardíaco. Respondi – lhe que não desgostava da cor, mas que não era nada cómodo espatifar – me entre tubos, madeiras, utensílios de todo o tipo. Em cuecas, tronco nu e chinelos desci a lembrar a história. Ali, estava particularmente escuro. Aproximei – me do ruido. Dois cães armados em guardas mas afinal maricas e até simpáticos vieram ao encontro. Entrei sorrateiro num pequeno pavilhão de madeira. Dois homem, debruçados sobre uma carcaça de um barco de uns 4 metros aplicavam o madeirame. -O que é isto? Vem pregar – nos, um susto, ou fazer uma reportagem?. Trás o microfone? Escondeu – o nas cuecas.- Desataram a rir que nem uns desgraçados. O processo de colocar madeiras direitas num casco curvo, mereceu – me particular atenção. Colocavam a madeira de cambala, ou pinho fixando – a com pregos e apertos, depois de a molharem ao mesmo tempo que a queimavam com um maçarico. Vira uma vez uma explicação de uma operação estética – cirúrgica, à espinha de uma vítima de um acidente. Não variava muito do que ali testemunhava. Vim a saber que haviam desenterrado aquele esqueleto que deveria ter aí uns 100 anos. Resolveram devolver – lhe a vida e fixavam uma tábua por dia. - Quando é que estará pronta? - Lá para o Natal.- E voltaram a rir que nem uns desgraçados. A sair ainda perguntei com o se chamaria a interessante observação. Ficaram a pensar. Interrompi – lhes o pensamento : Chamam – lhe O FORA D`HORAS. - Boa . Foi a resposta Pouco depois voltava a enfiar – me na cama. Espreitei para a lua enquanto pensava quão interessante era a o trabalho que aqueles homens, um dono de um restaurante em Olhão e o outro calafate, impuseram a si próprios para fora de horas. Dar vida a um barco quando ele a perdera. Lindo, sim, porque os barcos têm vida. Os homens é que quando a perdem, não têm gente assim para os ressuscitarem. Quando tentam ressuscitar, apedrejam – nos. Muitas vezes enterram – nos vivos, para nunca mais serem vistos e jamais navegarem.

NO ESTALEIRO

A ideia da viagem, até ao fim do mundo, avança na minha cabeça. Há que preparar o ARIES para a grande jornada. É um veleiro dos mais resistentes, seguros e confortáveis. Fabricação inglesa, o Iate da Rainha, como anunciam, (100 vezes menor). Quem vai ao mar, avia – se em terra. Precisa ir a seco. Eram 8 da manhã, o sol já brilhava havia muito tempo, a garantir mais um dia lindo. Na Ria, nem ponta de vento, nem borbulha na água. Só de quando em vez, peixes aos cardumes, fazem pela vida. Parecem felizes, mas estarão? Num momento, centenas de tainhas e outros, salemas, parecidas com douradas, resolvem seguir uma, que deve ser a chefe e bem ensaiadas, ágeis, fazem uma pirueta, como uma formação militar a virar à esquerda ou à direita. Dão um salto colectivo que mais parece a aproximação de uma baleia. Na política dos homens, os tubarões e as tainhas fazem o mesmo. De resto, uns pássaros, guarda – rios, gaivotas, mergulhões, flamingos, garças, cegonhas e patos, fazem rasantes à agua e alguns ao mastro. Um ou outro atreve-se a pousar na borda. Nem um pescador na apanha da ameijoa ou berbigão, porque as zonas de cultivo ainda estão submersas. A maré ainda enche, mais uma hora. É altura para, com segurança, levar as 19 toneladas, ao local onde será limpo, retocado nas beliscaduras do mau tempo e da mareação, reforçar velas, forçar mastros, rever luzes de sinalização, instalar plotter e radar, estes, até agora, num armário sob as estantes dos livros, a aguardarem a aventura. Mal avistamos o estaleiro, um trabalhador acenou – nos. Era ali. Já sabia que era o estaleiro que obedecia mais aos hábitos tradicionais que aos modernos. Nada de gruas, elevadores, nem rampas especiais. Como se fazia há 500 anos ou até, talvez desde o primeiro barco, uma rampa de travessas fixas ao solo, devidamente engorduradas e uns apetrechos no mar, são o suficiente para o mestre Victor garantir uma boa aterragem. Por este processo tem erguido centenas de grandes embarcações de pesca de carreiras e de transporte com muitas toneladas. Visto do mar, mais parece um cemitério de embarcações, na maioria de pesca e de madeira. Poucos iates e naves em fibra. Embarcações com ferimentos, bem visíveis, porque o tempo desgasta e o mar é traiçoeiro. O processo de encalhe é medieval, ou mais antigo ainda: três pontos determinam o enfiamento. Uma bóia, a uns 150 metros da rampa, com os madeiros, a 50 metros a sobressaírem da água, duas estacas que são as partes laterais do berço ou carro. Estas hão - de amparar o navio até, que em terra, seja devidamente escorado. O piloto é avisado que deverá, colocar a embarcação de ré, virada para a bóia e a proa apontada ao meio das anteparas do berço que afloram à superfície. Porque não é fácil estabilizar como se pretende, dados a inexactidão dos gestos do skipper por mais experiente que seja, os ventos e as correntes, um cabo duplo é fixado da bóia à ré, indo aumentando a distância conforme se avança. Das anteparas partem dois cabos, um para bom- bordo, outro para estibordo, afim de se garantir a simetria milimétrica da manobra. Agarrado ao leme, pensei que estes gestos artesanais, mas sensíveis, terão sido repetidos milhões de vezes na história da navegação de todo o mundo e naturalmente pelos nossos antepassados do tempo em que eramos uma povo de marinheiros e pescadores. A dada altura, sobe para bordo o mestre. O piloto deixa de comandar. Sem leme é o mestre que, com os seus cálculos, medindo os nós, pré - feitos nos cabos laterais, palmo a palmo, centímetro, a centímetro, coloca, com ordens e gritos, a nave no berço - carro. Após a garantia da boa manobra, o berço, já com o precioso objecto seguro, é puxado, agora por um pequeno tractor colocado em terra. Outrora, terão sido homens e juntas de bois a fazer este impressionante esforço de tracção. Após uns minutos de alguma tensão e perigo, travessas, sobre travessas, engorduradas, deslizam com ranger de casco e de cabos, até se imobilizar. Dá – se por terminada a manobra e inicia - se a obra. É altura de voltar à lista das condições essenciais para que a viagem não redunde num naufrágio. Ainda há tanto a fazer. O mestre Sérgio, sócio do mestre Victor, delicadamente indaga, com oportunidade, se tenho Carta de Alto Mar. -Não, só de Costa,- respondi, como se, quando a vontade é superior, houvesse limites à alma e engenho humanos. Depois, pensei no itinerário, nos alimentos, medicamentos, comunicações. Quanto à carta, veria mais tarde. Para já, queria partir, perder – me no horizonte.

terça-feira, 29 de maio de 2012

AGORA?

Sentei – me no Park Caffé, de que gosto particularmente, aqui, em Olhão. É moderno, as linhas são direitas e proporcionais. É simples. As linhas rectas tranquilizam - me, dão – me confiança. Não tem nada em excesso. O lado norte, está sempre à sombra e é fresco. O lado sul, virado para um grande relvado dá para esticar a vista e sentir que nem tudo é encavalitado. Esta sensação leva – nos a creditar que não estamos a mais. Não acotovelamos ninguém. Jovens e velhos. Uns conversam, outros lêem os jornais, enquanto, lá dentro a olhar sem interesse na que salta de uma taróloga a vender a banha da cobra para uns “comis”, comissários da comunicação a fazer o mesmo que a taróloga. Uma tristeza. É esta a nossa sociedade, numa cidade que ficou no meio. O dono, Carlos Morais, é um jovem professor de educação física, que gosta de restauração. É comunicativo, sabe ouvir e aprender. Gosta do desafio. Tem uma visão moderna das necessidades do cliente e do negócio. Soube disso, quando, na véspera, fui comprar bilhetes para o concerto de António Torrado no Centro Cultural, ali perto e ele quis oferecer – me uma bebida. Hoje, porque tem wirless abanquei, no espaço norte, com o PC aberto. Umas senhoras, já de alguma idade, mas com ares de raparigas modernas:- Olha quem está ali? De barba crescida… e toda branca. - É ele não é?. Enfiei a cabeça no teclado. - O senhor fuma? - Às vezes. - Faz bem. Posso levar o cinzeiro? - E lá foi, para direita, depois de cravar um cigarro, a um senhor que estava ao meu lado esquerdo e que, ao que parece, era seu conhecido do facebook. Perguntei – me como é que duas pessoas que devem ser vizinhos, se vão conhecer, no espaço cibernético. Tentei entrar no computador, mas a claridade era muita. Adiei. Ao lado, estava já outro senhor aí dos seus 40 e poucos a conversar com o tal do facebook. Ambos com ar evoluído, de calções, chinelos e óculos escuros. -É pá isto está tudo f….Então estes cabrões, é só roubar, só roubar e nós a ver? -Não há quem os encoste à parede? Onde é que eles vão pôr o dinheiro que nos roubam? -No estrangeiro e olha, aí, nas brutas vivendas que tu vez por este Algarve fora. Os gajos, tratam – se bem. O Salazar é criticado porque vendia a nossa imagem de “pobrezinhos, mas honrados”. Agora o 1º Ministro põe – nos, conscientemente, cada vez mais pobres e honrados. Honrados por sermos nós a pagar o que a classe dirigente, os seus amigalhaços e os Bancos, desviaram. E como isto não chega vendem o País que não construíram.-Isto não vai longe, não. Se pudesse dava um estrondo? -Um estrondo? -Sim, fazia barulho. -Mas como? Onde? De que é que valia? Ninguém te apoiava. Somos uma cambada de cobardolas. -Mas toda a gente pensa assim.. acredita. Vou é alistar – me num partido. Não quis, foi o pior que fiz. Eu, fiquei de mãos a suar. Apetecia – me entrar na conversa. Dizer – lhes que há qualquer coisa a fazer, mas que se poupava muito sacrifício, muito sofrimento se houvesse outra comunicação social, que com isenção, sem representar grupos de interesses esclarecesse a população. Ainda fiz menção de falar. Juntei os jornais, meti o PC, no saco, paguei e pensei em não falar. Eles levantaram – se também e lá foram lamentando. Não falei. Fala – se de escutas, de espiões, de bufos, de perseguições. Senti o mesmo arrepio que senti pouco antes do 25 de Abril, quando num café em Lisboa me virei contra um homem que procurava ler o texto que escrevia e que se destinava à imprensa estrangeira. -Vá se quiser, prenda – me, vá. O que estou a escrever não é mentira nenhuma…- Estrilhei. O homem meteu o rabo, entre as pernas e cavou a expirrar chamas pelos olhos. Já nessa altura, eu estava com o espirito da perseguição. Voltei a ter uma crise. Agora?

domingo, 27 de maio de 2012

ESTAMOS NA MISÉRIA




Toda a gente a pedir. Nunca tal foi visto no nosso país. Esta é a realidade que nos envergonha.

Quase um milhão sem trabalho. Gente para a rua por já não ter casa. Famílias desesperadas.

Já não há classe média. Há a rica e a pobre.

É triste ver as campanhas que o poder promove ao fazer apelo ao que chamam solidariedade, à mendigância, ao salve – se quem poder. Aumenta a violência. Rouba – se na banca, no cobre dos fios eléctricos, nas batatas da horta , tudo vale para meter ao bolso.

O Banco Alimentar, ou seja, as campanhas cada vez mais, frequentes às portas dos supermercados, para socorrer os mais carecidos de nós, é verdadeiramente aviltante.

Nesta fase, quando um povo tem que mendigar para viver, só podemos concluir que se deve à incapacidade dos seus governantes.

Serem incapazes de proporcionar aos cidadãos o mínimo para viver, com dignidade é a prova de que nada estão a fazer a não ser encaminhar a pouca riqueza, que nos resta, para o bolso dos seus patrões. A economia manda na politica e não o inverso.

A população, pobre e não esclarecida, ainda dá de si própria. Condoída, como num acto nobre, dá  esmola : “Hoje sou eu, amanhâ poderei ser eu a precisar. Não posso ver ninguém com fome. Temos que nos ajudar uns aos outros.”

E ignora que quem poderia dar efectivamente, não dá nada, nem o que tem em excesso.

É intolerável.

Dar esmola avilta quem recebe e envergonha quem dá.

O que é preciso é outra política, outros líderes.

Estes não sabem em que país vivem.  Se sabem, não respeitam os cidadãos que neles votaram. É uma mentira, um logro que urge corrigir e se possível, castigar.

Mas tudo continuará enquanto não houver órgãos de comunicação livres do controlo económico e financeiro. 

PINGOS NEM SEMPRE DOCES

Uma pausa,  na outra escrita, para vir aqui debitar pequenas coisas que vão enchendo o saco da alma como o lixo que se debita no saco de plástico do supermercado e, sempre que vou a terra, lanço ao caixote.

Não menospreso, quem ler isto, se houver quem leia claro está. Reconheço que devemos estar fartos de literatices.

Estes pingos, nem sempre doces, afinal, são um breve testemunho de quem lançou ferro numa das cidades do litoral,  mais próximas da espiritualidade dos nossos antepassados. Talvez, para fugir às modernices tacanhas dos média que se esforçam por parecer evoluídos e actuais, não sabendo eles, que a vaidade bateu no fundo pela sua vacuidade e redundância e que hoje nasce uma outra forma de encarar a vida. E esta, será a que vai vingar, como a semente da figueira que se ergue num muro, ou entre penhascos. E dará figos que alguém comerá, bem dizendo a terra e o repetido milagre da vida.

terça-feira, 22 de maio de 2012

EUROPA QUE FUTURO


GORDURA MORBIDA
Sociologo Jaques Amaury - Universidade de Estrasburgo
"O que acontece é que a Alemanha e não só, quer virar o mapa socio - económico da Europa para continuar a engordar e para sua defesa vital e garantia dos seus cidadãos e da sua história.

O que está a fazer e forçar é apenas uma estratégia para salvar o seu futuro.

Como sabemos, na Europa rica  - Alemanha, Grã – Bretanha, Holanda, França Dinamarca, Suécia, Noruega, Bélgica e Suíça, está – se  a prever um fenómeno que poe em perigo, já daqui a 10 anos, o seu futuro.

Os ricos aproveitam – se da falta de democracia nos paises ditatoriais, Paises Arabes, em África e na China para abrir portas  à mão de obra barata para si, sobretudo em tarefas que os seus, não querem executar.

A população muçulmana, em algumas cidades, como Marselhas,  está a atingir dimensões tais que se admite, poder igual e suplantar, até a dos locais, dentro de pouco tempo. O numero de mesquitas aumenta mais  que as igrejas. As mesquitas enchem – se, as igrejas estão vazias.

A sharia, o código de leis do islamismo, exige uma luta constante, por qualquer meio aos muçulmanos até “dominarem o mundo” e acabarem com o cristianismo e outras religiões.

Os islâmicos reproduzem – se muito mais (cada muçulmano pode ter 4 mulheres), enquanto os  locais evitam por comodidade ter filhos, a população idosa está a aumentar enquanto o numero de jovens locais está a diminuir, crescendo as novas gerações de emigrantes, com boas condições sociais e “direitos, liberdades e garantias”. A vida é para o emigrante incomensuravelmente melhor que a que os governos corruptos e incapazes dos seus países permitem.

Tem sido muito conveniente a miséria de uns, para benefício de outros.

A capacidade organizativa dos emigrantes graças ao seu actual (novas gerações) nível cultural e acesso a novas tecnologias permitem – lhes elevar o seu tom reivindicativo, com incidências sociais, culturais e policiais, que se torna já incómodo e de mau presságio.

Os partidos locais de direita xenófobos,  crescem  porque prometem afastar o perigo que mora às portas e ao lado dos nacionais.

Mas os países ricos não poderão continuar a usufruir da sua qualidade de vida sem emigrantes que não controlem. Assim a única solução é criarem em Portugal, Grécia e Espanha as condições para que sejam estes a exportar a mão de obra domável e tranquilizadora.

Além disto, poderão, sem antagonismos, continuar a disfrutar dos campos, praias e belezas destes países que nada mais verão que o turismo e a emigração, para fugirem à miséria. 

O esquema está de tal modo lançado e habilmente orquestrado, que por exemplo, em Portugal até o seu primeiro ministro sugere à juventude que emigre, num gesto de uma crueldade, de falta de ambições e respeito pelo futuro de um país com 900 anos de passado. Esse conselho é revelador do que está por detrás do plano maquiavélico de Merkel apoiado pelos governantes portugueses, acompanhados pelos meios de comunicação que mais não fazem do que criar superficiais problemas individuais ou partidários e distrair a população, com folclores, num logro, como se Troika fosse uma sorte grande."

quarta-feira, 14 de março de 2012

china e portugal oioioioi




A China é um país comunista com mais de mil milhões de habitantes, que continua apregoar os méritos da sua Revolução de Mao. Portugal tem 12 milhões e apregoar a sua Revolução dos Cravos.
Porque é que a China, apesar de ser comunista se tornou, mesmo não acreditando, capitalista?
Vejamos: há pouco mais de 10 anos, os 50 mil dirigentes - representantes do P. Comunista Chinês, vendo que o país não atava nem desatava, resolveram esvaziar o Estado e privatizar as máquinas industrial, comercial e agrícola.
Como era um país de partido único, foi simples. Deram aos membros do partido que estavam à frente da unidades, o direito de passarem a ser proprietários das mesmas, sem despenderem um tostão e, a tornarem – se patrões de dezenas de milhões de empregados que até, aí seriam “funcionários públicos”. Umas empresas faliram, mas a maioria, graças às condições excepcionais, tornaram os seus proprietários e membros do partido a classe rica e ostentativa, a classe dominante. Os operários, esses aguentam, baixíssimos salários, a inclusão de trabalho infantil nas fábricas e campos agrícolas e “bico calado”, porque, segundo os lideres, “ direitos humanos só quando tudo estiver estabilizado. Agora, são precisos sacrifícios a bem de todos e sobretudo, da China”. E assim, um país que se assina Republica e “Comunista” torna – se, num golpe de mestre, no pais mais capitalista que é possível imaginar, a crescer em poderia militar e em ostentação, e investindo seja onde for, desde Africa, Europa e América muito especialmente em países emergentes e ditaduras recomendáveis, como Angola.
Ora, em Portugal, mais ou menos no mesmo tempo, a manobra tem semelhanças.
Vence as eleições “democraticamente” entre aspas, um partido que é declaradamente liberal, pró - iniciativa privada, pró – capitalismo , pró – privatização, pró – liberdade de entrada e saída de capitais, etc, e uma missão clara de esvaziar o Estado, na continuidade do que o anterior vencedor, dito “Socialista” mais tímido, anunciava.
Hoje, o poder político e o capital, estão nas mãos dos políticos que saem e entram no partido, conforme as conveniências. Entram para as grandes empresas para as armadilharem para as privatizações de que eles fazem parte e são por isso escandalosamente, compensados. Formam – se centenas de PPP onde encaixam os militantes partidários. Ocupam lugares estratégicos nos jornais, tvs, rádios e autarquias. Enquanto isto a população, embalada por uma comunicação social hábil e manipulável, sem entender a esparrela em que caiu, interroga - se como, tal como o chinesinho, muda de patrão e faz cada vez mais sacrifício, até comprometer o seu futuro e o dos filhos e netos, para “salvar Portugal”.
Curiosamente, os comunistas chineses que estrategicamente, sempre, antes e agora, foram e são vistos como uma ameaça à tal “democracia” que os portugueses defendem até à ultima gota, negoceiam e investem em países capitalistas, como Portugal onde a população, tem agora, alegremente, como principais patrões (EDP – EN- etc ) o próprio Partido Comunista Chines.
Isto acontece porque os dois processos têm muitas semelhanças, mas o futuro de uns e outros não será exactamente o que esperam, já que negócio sem moral e vida sem princípios, leva sempre a maus resultados.

quarta-feira, 7 de março de 2012

VAMOS À CHINA????






Pensava que ir à China era como ir à Caparica e comer uma caldeirada. Não é bem, até porque lá não há caldeiradas.
Fiz umas anotações que acho pertinentes.
Tempo – Fevereiro – Março – muito frio, mas não tanto que invalide meter o nariz onde nos apetecer, sobretudo se em Cascais houver sol.
Zona – Pequim. Historicamente, terra de origem de Mao, estação terminal do famoso comboio da longa viagem 751, a Cidade Proibida, a segunda cidade da China, uma vez e meia a população de Portugal, o pato à Pequim, etc, é das mais interessantes e depois, China é China onde quer que seja.
Viagem – via Amesterdão. Foi a segunda vez que aterrei no Schiphol, desta cidade holandesa. Dei umas voltas, entre voos e fiquei mal impressionado. Muitos imigrantes, um consumismo cansativo, preços elevados, desde o Mac Donald ao Cartier, obras em todos os cantos da cidade e muitos cuidados com os larápios que parecem estar em todo o lado disfarçados de paquistaneses, indianos, nigerianos, sul americanos, árabes ou mesmo holandeses.
Viajar na KLM é outra coisa; Um 747 desafia os céus com a tecnologia e comodidade que o meu avô jamais imaginara. A 10 mil metros de altura e a mais de mil Kms/hora, apesar de viajar no sentido inverso do globo, de dia vê a Alemanha, cheia de neve, o Baltico, a Finlândia, depois a incomensurável Rússia também coberta de neve , a Mongólia aparentemente deserta com os picos conhecidos e por último, depois de uma cordilheira de montes negros, como muralhas, a longa planície chinesa de Beijin onde a centenas de quilómetros começam a ver – se, com um rigor geométrico, impressionante, zonas industriais, agrícolas e habitacionais, como se tudo estivesse organizado num puzzle rigoroso traçado por uma interminável régua.
A disponibilidade áudio visual, a gentileza hospedeira, com o conhecido sorriso holandês amenizam as mais de 10 horas.
Aqui e acolá o cantarolar mandarim lembra que estamos a chegar à Ásia.

E depois de rodearmos uma interminável cidade de arranha céus, que deixara para trás as fábricas e os campos, pousamos num dos maiores aeroportos do mundo onde os símbolos da flor de lótus de assinala desde as unidades pequenas às enormes, das várias companhias nacionais e internacionais da China.
Recomendações – viajar para este país sem algumas precauções é mergulhar num poço cheio de dúvidas.
Assim
1º saber com algum rigor o cambio do Yuan que varia da noite para o dia, conforme os americas sorriem ou o o sr Wen espirra. Deve levar dólares para comprar mais vultuosas.
2º - saber que os motoristas de praça são funcionários públicos e portanto…(desculpem os f.p.) quanto menos trabalharem melhor e exigir que trabalhem, mesmo se se recusarem, alegando por exemplo que não entendem. Para tanto, basta chamar a atenção dos muitos policiais que andam por todo o lado.

3º - pedir para alguém escrever em mandarim o local para onde pretende deslocar – se, já que ninguém fala inglês e os que falam não se entendem, nem entendem o que dizemos.
4º - Antes de entrar no táxi, mostre o nome em mandarim. Depois ele dirá quantos yuans. Você aceita ou não. Do aeroporto até ao hotel , junto à Cidade proibida, numa viagem de uma hora paguei 10 Euros.
5º Há táxis – motorizados com dois lugares. O preço é outro e não podem ir a todo o lugar. Há também o tradicional “riquexó”, a pedal para uma ou duas pessoas. Só dá para um ou dois quarteirões ou para andar nos bairros mais complicados, mas não recomendo, porque nem sempre neste serviço medieval, o largam no lugar combinado, nem é muito do nosso estilo ir atrás de alguém a bufar por todos os poros, mesmo sendo ele um chinês que não nos fez mal nenhum.
6º - Gorjeta – não é hábito ali dar – se gorjeta, essa vitamina fundamental, dinamizadora, na nossa sociedade. Às vezes, se insistirmos, eles até afinam, até porque os táxis e as refeições são baratíssimas.
7º Não discuta com um chinês. Vai ser um diálogo de mímica em que ninguém se vai entender e ficará tudo na mesma. Chamar a polícia é ainda mais complicado porque ali a Policia não dialoga; prende e depois logo se vê. E não dá para lhe explicar que teve a má ideia de votar no Passos Coelho porque nem sabem que existe um país chamado Portugal.
8º Apenas pode discutir com um chinês se ele for vendedor seja do que for. Começam por pedir um preço 3 vezes superior, depois descem até um terço ou menos.
Pergunta qual o preço e ele apresentam – lhe logo uma calculadora com dígitos grandes onde você escreve quanto oferece. Depois ele desce e você sobe, ante expressões de profunda discordância, surpresa ou até indignação, mas a opereta chega a ser emocionante se se tratar de um computador ou uma câmara vídeo que você pensa ser de origem e afinal é “ chinês”. A verdade é que faz tudo menos qualquer coisa e não tem garantia, nem você pensa lá voltar para protestar. Um amigo meu comprou um GPS por 20 Euros. Quando usou em Portugal os mapas apareceram legendados em chinês.
Adoro Arroz de pato. Diria que fui à china mais para ali comer o arroz de pato que às quartas feiras costumo comer aqui em Oeiras. Pois parece que ali ninguém conhece o arroz de pato. Há pato à Pequim, com uma miscelânea de acompanhamentos inimagináveis, mas como cá, não há.
A comida é agradável e baratíssima. Uma lauta refeição com bebidas e chás não ultrapassa os 6 euros. Excepção para um repasto em que mandei vir uma garrafa de vinho tinto chinês Changyu de origem na região e por sinal não era pior que o D. Ermelinda de Palmela que já está caro. O preço também não foi exagerado.
Para quem pensa vir à China aqui se recomenda que comece a praticar comer com pauzinhos. É que na maioria dos restaurantes não usam talheres e começar ali, com alguma fome é a vingança deles.
Uma amiga que fiz por lá, de olhos em bico, e que entrava em delírio quando me via os cabelos dos braços, tentou levar – me a comer cão, ao restaurante predilecto dela. Ante a minha recusa, lamentou porque o cão é para ser estimado e apreciado dizia; os grandes são para os grandes jantares e os pequenos para os pequenos - almoços. Contentou – se com um pato e uma sopa divinal de tofu que jamais esquecerei, mas ela, passou a chamar – me hairy monkey.
Nem tão pouco, parei na rua numa sucessão interminável de tendas, a provar escaravelhos fritos, aranhas, cobras, lagartos, vermes, minhocas, e um sem número de pitéus que me deram a volta ao estomago, até a imagem passar a recordação ténue de um pesadelo.
OS CHINESES – São mais que muitos.
TRANSITO
Deslocam – se sobretudo em bicicletas e muitas delas motorizadas a electricidade. Ninguém usa capacetes. Motos com motor de explosão, vi duas ou 3 entre milhares de eléctricas. Mulheres com crianças, casais de idosos, famílias inteiras pedalam ou aceleram sem barulho em intermináveis filas que não obedecem a quaisquer regras de trânsito.
A verdade é que não vi acidentes.
Os automobilistas usam com frequência o cláxon, mas se assim não fosse, não haveria bate chapas que chegasse.
À noite só os automóveis é que usam iluminação. Os ciclistas e motorizados esses aparecem do escuro com a graça de Deus e sorte de chinês.
COMERCIO – Não há empregados de comércio com mais de 30 anos. Só jovens, simpáticos, mas que não revelam qualquer saber sobre a matéria. Sorriem e digitam. A característica que parecem privilegiar, é a de não largar o cliente.
Se você para frente a uma sapataria num instante está descaço ou com um sapato de cada modelo.
Um amigo meu entrou numa loja de massagens aos pés. Descobriram – lhe, pela reflexologia, um problema de intoxicação que o levou a adquirir uma colecção de chás vindos dos Himalaias e apanhado apenas por mulheres, para 3 meses e meio, tempo do tratamento e a deixar ali o equivalente a quase 3 mil euros.,
Pela minha parte a Drª Jun Dong, uma chinesinha encantadora, que explicou eloquentemente as diferenças entre as medicinas ocidentais e orientais, apenas conseguiu vender – me um pacote de saquetas com açafrão, para imersão dos pés. Isto porque prometi, se me sentisse mal encomendar via mail um tratamento completo. A verdade é que, estou a melhorar, tanto mais que a ida aquele centro de massagens ocorreu depois de termos tentado subir uma parte considerável dos 5 mil quilómetros da muralha da china, local de facto impressionante de beleza, engenho e esforço humano.
Ainda falando de comércio, outra advertência – Sempre que entra numa casa de chás, de cristais, de arte, museu ou coisa assim tem que estar preparado par o lado comercial, isto é: a curiosidade não se esgota na simples visita. Adquirir objectos, recordações, documentos, curiosidades é o aspecto subjacente à visita. Os preços em principio são exagerados porque está na fábrica em presença dos artistas e fascinado pelo engenho desembolsa, o que por certo noutros locais encontraria muito mais barato.
Conto o caso não só das vezes em que assisti à maneira tradicional de servir o chá e como fui pressionado a adquirir o mesmo chá que com relativa frequência compro aqui na Casa da Guia de Cascais. Mas mais original foi no final da visita á Cidade Proibida. Proibida porque foi o local onde desde o século XIV viveram os imperadores até 1994 altura em que os japoneses invadiram a região e levaram – no para a Manchuria.
A obra de 72 hectares foi construída por mais de um milhão de operários durante 14 anos.
É de opulência de um endeusamento impressionante, desde o local onde dormia o imperador com as suas esposas, com as suas 360 concubinas e eunucos, os pavilhões palacetes, para os irmãos e mãe do imperador, e para os militares, numa fortaleza inexpugnável, feita até ao ínfimo pormenor no sentido de defender o intocável imperador. Foram durante mais de 4 séculos, até 1911, 24 os imperadores, 14 da dinastia Ming e 10 da dinastia Qing
Depois de uma visita onde se viam visitantes especialmente chineses vindos da Manchuria, do Tibet, de Kan e da Mongólia, que nos olhavam com curiosidade porque alguns nunca haviam visto um europeu, a guia esclarecidíssima e muito profissional introduziu – nos numa dependência onde um senhor escrevia em caracteres chineses. Fomos apresentados: aquele senhor era, nem mais nem menos, um sobrinho do último imperador Puyi. Professor de caligrafia na faculdade de Pequin, desloca – se ali duas vezes por semana. Segundo a guia eu tivera muita sorte por encontrar o familiar do imperador, em pessoa, que poderia escrever, por exemplo, o meu nome em mandarim e ainda; que grande sorte…. por o ter visto e cumprimentado.
Escusado será dizer que não lavei a mão durante três dias.
HOMENS E MULHERES
São simpáticos e simples de forma geral. Confesso que olhei mais para elas, mas reconheço que todos são magros ou melhor, não gordos. Estatura semelhante à dos portugueses. Comem pouco, muitos vegetais e bebem constantemente chá. Aliás, cerveja e vinho são raridades.
Elas, são particularmente graciosas, diria mesmo elegantes na maioria nos seus trajes negros, calças e blusas ou simples casacos.
Nota – se no entanto que as novas gerações começam a ser impressionadas por novos estilos. Elas, com saias das quais saem folhos rendilhados , flores na cabeça e já uma profusão de telemóveis, vendo – se ipodes e ipeds, com os indispensáveis auriculares, que por estar frio estão sob orelhas de pons- pons que lhes dão um ar original.
Há um aspecto porém que me intrigou.
Numa noite entrei num Mac Donald`s que estava aberto toda a noite. Bebia a minha coca-cola para variar quando á minha frente uma chinesinha passa a usar freneticamente uma escova de que molhava num copo de onde bebia e depois tranquilamente, cuspia num outro.
Num restaurante, perto da praça Tianamem, uma jovem acompanhada por duas outras pára de chupar o esparguete e como se isso fosse natural, inicia com a unha do dedo mindinho da mão direita uma pesquisa desalmada de macacos no nariz, acção que culminou com o uso do guardanapo com que continuou o repasto.
Ora esta falta de modos ou como diria um ocidental, de educação é o reflexo de um país que cresce diariamente, a um ritmo inimaginável até há pouco. Não há ali a noção de pobreza mas sente – se que há gente pobre e gente muito rica. Não há pedintes, mas há lojas das mais caras marcas do mundo que chocam qualquer desprevenido.
Um telemóvel de marfim com incrustações de marfim, numa figura de dragão porque entramos no ano do dragão, custava a módica quantia de 17.500 euros. São muitos os carros de marcas alemãs de elevado preço, ao lado das mesmas marcas, já fabricadas na China.
Diz – se uma republica comunista, mas abre – se declaradamente à iniciativa privada num casamento difícil de digerir e sobretudo de comer com pauzinhos.
Altamente preparada do ponto de vista militar, sem dar nas vistas, excepto na enormidade e luxo das infindáveis avenidas (Pequin) com os mais arrojados arranha – céus a perderem – se nos horizontes, esconde um pais controlado, que ainda apela, como num folclore permanente, mas anacrónico, à imagem e mensagem de Mao. Mas, se atentarmos, descobrimos que não é tranquila a vida naquele país de 1. 400 milhões de seres que ao saírem da miséria, anseiam por se parecerem prósperos e ricos. Não virão a ser todos e muitos, continuarão a magicar em silêncio, insatisfeitos à espera de Mao.
A ajuda e o exemplo do ocidente não são o melhor para o tigre que eu diria o dragão aprender, agora que parece ter acordado.
O futuro próximo o dirá.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

LAGRIMAS DE ESPERMA



É um crime de lesa história, é o avançar com uma fraude, para esconder outra e outras. Uma mentira não apagar outra e fica tudo resolvido. Não, os povos têm alma. E memória.
Sentimos que vivemos em transe à espera da libertação.
O que estão a fazer ao povo português não se faz. Alguém já paga caro por isto; o sofrimento, a miséria, o suicídio, a prostituição, a violência, aumentam a olhos vistos.
Vivemos num bordel de champagne e pobreza, de luxo e doença.
No rosto dos portugueses lê – se o duro sentimento de nostalgia ditado pelo dia – a dia cada vez mais decadente e doloroso.
Os políticos obrigam – nos a prostituir – nos, como se isto fosse o castigo e a solução moral para a vida que temos levado.
Ensinaram – nos coisas bonitas em que acreditávamos e agora oferecem – nos os risos pré - fabricados do Relvas, os punhos de Passos, o ar patético de Seguro, o expressão numérica de Cavaco e a trágico – cómica de Jerónimo e Louça, marionetas, senhoras do seu papel.
Não. Não sabemos o que faremos daqui a 10, a 20 anos, amanhã sequer. Nem sabemos se nos encontraremos.
O mais provável é, neste bordel, virmos, como num filme de terror a chorar lágrimas de esperma.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

ATÉ QUANDO???


Escrever para si próprio é falar para o espelho.
São cada vez mais os portugueses que não conseguem publicar o que escrevem.
Assim, escrever será um acto narcísico? Talvez não.
É sim um acto de desespero e de alarme.
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Qualquer cidadão português consciente, tem a noção exacta que está a ser ultrapassado por uma máquina avassaladora que desenvolve um conto do vigário com dimensão nacional. O homem comum sente - se, cada dia que passa, mais impotente, ante o cerco hábil que lhe teceram.
Não queria eu cair na linguagem corrente em que se diz que o que hoje se faz em Portugal é criminoso, uma nojeira, uma traição, uma estratégia de gente (políticos e investidores) sem escrúpulos, nem dignidade, etc, mas, honestamente, não poderei andar longe desta convicção.
Temos vindo a observar impávidos, a estratégia que a finança internacional ou seja, os investidores desse estranho mercado, sem rosto, que a todos domina e corrompe, através dos seus mandatários na política nacional, pondo em prática, uma estratégia que esvazia por completo a bolsa dos pobres e transforma em pobres os que até aqui viviam na mediania.
De forma trágica e até ridícula o sr Passos Coelho diz com o dedo em riste que os portugueses viviam acima das suas possibilidades, mas esconde que o país que governa é na EU aquele que tem mais desnível entre ridos e pobres. Essa verdade que tudo explica é ignorada por um político que se limita agora a pagar, diz, o que devemos. Mas devemos quem?
A milhões de cidadãos não foi dado nada mais do que foi estabelecido e acordado, como fruto de décadas de trabalho. Se entregaram dinheiros vindos do exterior ele foi para bancos e empresários que não deixaram AINDA, de viver á tripa forra com a bênção de Paços Coelho.
A população até aceitaria o desafio se quem apela ao seu esforço desse mostras de honestidade ou boas intensões, mas, tal não acontece; o 1º ministro desdiz em absoluto o que, antes das eleições que lhe deram a vitória, jurou, nunca fazer; não aumentar impostos, não vender o património, não beneficiar clientelas etc. O que vemos é exactamente o contrário: os impostos asfixiam, a venda do património é o seu grande negócio, as clientelas estão bem definidas e defendidas.
Acaba de nomear António Borges para dirigir a Comissão que vai vender, em saldo, o que resta deste país que herdamos do Afonso Henriques e do Salazar. Esta figura mandatária do FMI, afia os dentes aos maiores negócios, jamais vistos por estas paragens. Foi escolhido à medida do comerciante mor e de interesses inconfessáveis.
Se tudo isto não é um caso de polícia…
Não nos enganam.
Aparentemente, há hoje, como que uma abertura na informação, ao observarem – se abordagens, criticas que vão desde a falta de tacto do próprio PR, ao caso do vagabundo que roubou num Pingo Doce, um pedaço de polvo congelado e um shampoo, mas não nos iludamos; isto é fumo para os olhos, enquanto se procede ao avanço sistemático na venda de património, na consolidação das PP e na estratégia do real empobrecimento da população.
Sugerem à juventude a ida para o estrangeiro porque sabem, como querem, transformar o país. Não nos admira que construam uma ponte, em cada capital de distrito, para quem se quiser suicidar.
A verdade continua escondida… até quando?

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

MAÇOM ? EU?


APRENDIZ DE MAÇOM
Quando agora, a Maçonaria vem à ribalta, numa luta acesa de poderes no meu pobre país, também, tenho uma história breve, mas que me parece interessante para contar:
Decorria o ano de 1998. A RTP apostava nas emissões directas da Expo onde tinha instalado um estúdio na caravela D. Fernando e Glória.
Daí, diariamente emitia reportagens, entrevistas, notícias sobre o evento que tinha dimensão mundial.
Eu, depois de ter sentido os primeiros sintomas de afastamento das lides profissionais, acedi com bom grado, à possibilidade de fazer um trabalho interessante e atractivo.
O momento era conturbado. 24 anos depois da Revolução de Abril era mais que evidente o avanço dominador do poder económico sobre o político e a Comunicação Social era o instrumento onde mais me apercebia da manobra, paulatinamente engenhada, para o tão almejado objectivo das forças mais conservadoras do País.
A informação não era livre. Os meios, entravam num beco sem saída.
As forças de esquerda, como sempre mais empenhadas em se digladiarem do que em estudarem e defenderem os seus pontos comuns e com eles enfrentarem as direitas, hábeis em alimentarem o medo atávico da população ao comunismo e por arrasto, ao socialismo.
Os de direita com perfeita aquiescência do PS, faziam a sua jogada reptícia, nomeando administradores, directores, chefes de redacção, jornalistas e um elenco de fazedores de opinião, “prêt à porter”, que perfilhassem os mesmos objectivos. Ao mesmo tempo, elaboravam listas de “personas non gratas” e de colaboradores mais domesticáveis.
Isolado no meio, procurei uma ajuda junto de colegas que me entendessem. Por sugestão de Fialho Gouveia, acedi, ir a uma reunião do PS, partido que em princípio me garantia a abertura necessária, já que fora no seu reinado, na RTP, que eu entrara pela mão do memorável Edmundo Pedro, que logo, pouco depois, cairia em desgraça. Fui à reunião no Teatro Vasco Santana na Ex Feira Popular.
Caras conhecidas entravam para uma sala quase cheia. De braços abertos, o anfitrião mal me viu, manifestou ruidosamente, regozijo pela minha chegada. Era ele nem mais nem menos que Igrejas Caeiro um democrata que anos antes me afastara da Ex. Emissora Nacional depois RDP, após uma queixa que fizera, na sua qualidade de director, por, alegadamente, ter abusado da Liberdade de Imprensa, contra o então P.R. Ramalho Enes.
A minha alma tropeçou logo que tão grande alegria me abriu os braços, quando dois anos depois de Abril, os mesmos braços, me tentaram sufocar, atirando – me para o desemprego e para a eminência de ter que emigrar.
Curiosamente, acrescento aqui que, fora Igrejas Caeiro, do PS, quem, assim, me obrigaria a pensar em partir para a Venezuela e que quando já no aeroporto, comprava os bilhetes, numa, ao mesmo tempo, chegada de Mário Soares, Edmundo Pedro também do PS, me quis conhecer e me convidou a ingressar na RTP.
Não acreditei nessa possibilidade, mas adiei a partida.
O certo é que já andava numa roda-viva em reportagens na RTP – Telejornal quando, após ter sido absolvido na primeira instância pelo Tribunal da Boa Hora, e até louvado pelo Juiz pela “exemplar peça radiofónica no programa DOMINGO FANTÁSTICO” fui condenado na Relação, a 6 meses da cadeia, pelo mesmo “abuso”.
A verdade é que não esperava que o sr Igrejas tivesse recorrido e porque não queria tornar – me alvo na imprensa, por ser o primeiro jornalista a ser condenado, depois do 25 de Abril, preferi calar – me e aceitar o castigo que não merecia.
Por isso, mal me afastei do abraço de recepção no Vasco Santana, clamei que tinha deixado o carro mal estacionado e que teria de ir num instante, resolver a questão. Claro que não voltei e durante anos me perguntaram porque desapareci dali, em dois tempos.
Mas voltemos à Maçonaria:
Estava na caravela D. Fernando e trabalhava com um colega e posso dize – lo, um amigo por quem nutria alguma admiração. Esforçado, perspicaz, astuto tinha boas qualidades de jornalista capaz de furar paredes e muralhas. Já nos dávamos bem há vários anos e não poucas vezes falavamos da asfixia crescente que se avolumava na informação.
Um dia, pediu – me que conhecesse alguém, importante, que gostaria de me falar sobre a questão que nos preocupava.
Lá fomos, no dia e hora marcados, a um andar debruçado sobre Lisboa, no Príncipe Real, onde um senhor, simpático, muito atento, a imanar integridade e inteligência, que mais tarde vim a saber ser Fernando Teixeira, o Fundador da Loja Maçónica, Casa do Sino, a sós, me ouviu durante mais de duas horas, sobre tudo o que para ele eram dúvidas importantes da vida e da minha profissão.
Voltamos ao trabalho. O meu colega rejubilava. Eu tinha caído nas graças…
Entretanto Carlos Pinto Coelho numa aproximação simpática, como só ele era capaz, auscultou – me sobre a eventualidade de entrar para a Maçonaria. Para mim, confesso, era como entrar para o Benfica ou o Porto. O que eu queria era que a informação mudasse o mundo e que em Portugal houvesse conhecimento e sensibilidade suficientes, para alterarmos a corrente trágica que se aproximava, sob o perigo de perdermos tudo o que havíamos conquistado, ou que julgávamos ter conquistado. Um aperto de mão muito especial do Carlos como quando se despedia do “Acontece”.
Nas vésperas de um sábado. Um telefonema do meu colega “Sábado vem com duas horas de antecedência. Vem de fato preto, gravata preta e prepara – te para dares um passo im - portante”.
Já desconfiava. Mas a curiosidade não me tolhia. Como é que seria? Quem seria? Que Objectivos? Era puro jornalismo. Farejava situações, rituais, segredos, acções que me mostrassem outras faces dos homens.
Já lá estava dentro do carro quando cheguei ao Parque das Nações. Arrancamos a acelerar para Cascais. Fui ouvindo os seus conselhos e recomendações.
Passamos ao lado da Estação, ao lado do Mercado e paramos onde nos foi possível num largo junto à vivenda 21 que parecia sem ninguém. Era a Casa do Sino da Grande Loja Regular de Portugal. Tocou à campainha. Alguém abriu. Entramos. Saudados por alguém vestido de negro entramos para uma sala onde outros nos olhavam com algum espanto. Retribui ao descobrir colegas, até repórteres do desporto, vereadores da CM Cascais, gente que me habituara a ver aqui e acolá.
Afastado do grupo fui levado para um outro local onde começou todo o ritual de iniciação que descreverei noutra altura.
Importa dizer que, primeiro com apenas muita curiosidade, depois, mercê do peso do cenário, do ritual, das palavras e da tensão criada acabei por jurar com convicção às ordens imanadas, mas, subliminarmente emergia na minha consciência, sempre a minha convicção de que o faria apenas para a finalidade que me levara ali. No fundo, no fundo, sentia – me um intruso, com boas intensões.
Uns meses volvidos em que eu me imaginava em observação, ocorreu um incidente que colocou ponto final à minha acção maçónica.
Era um final de dia em que todos tínhamos trabalhado intensamente. Naquela redacção estávamos apenas; eu, a planificar o meu dia seguinte, o meu colega a terminar uma reportagem e uma secretária.
Toca o telefone. A secretária atende; “Sim, sim . (Pôs a mão no bocal) Alguém viu aqui uma cassette do Helder? Tem uma reportagem importante para amanhã que ele esqueceu sobre uma secretária.” O meu colega levantou a cabeça. Eu à distância, procurei, vi a cassete sob um monte de papeis. Apontei – a. Ela garantiu que a guardava na primeira prateleira de um armário ao fundo da sala, confirmou com o outro ao telefone.
No dia seguinte quando cheguei, havia um tumulto na redacção. O Helder agatanhava – se e a secretária chorava que nem uma Madalena. A cassette com o trabalho havia desaparecido.
Olhei fixamente para o meu colega que parecia distante. Desviou o olhar e continuou com o trabalho, não sem ter notado que eu sabia que só ele poderia ter feito tal patifaria.
Abeirei – me discretamente. Porquê? “Porquê? Porque ele é um inimigo a abater. Ele não é dos nossos. Ando há muito tempo com olho nele. Não perdoo.
Senti uma vertigem. Desci. Fui a um café. O mundo perdeu o Norte e eu perdi o rumo.
Nunca mais consegui falar - lhe. O avental, as luvas, a medalha e outros “recuerdos” jazem solenemente, no guarda fato, o mais, discretamente possível, numa gaveta, como se recomenda, entre as meias de inverno e as cuecas, na mais rigorosa obediência maçónica.