segunda-feira, 11 de julho de 2016

RONALDO CHOREI CONTIGO


RONALDO CHOREI CONTIGO
(politicamente incorreto)

Chorei eu e chorou aquele menino de dois anos que nas costas do pai , segundo a emocionante descrição dos reportes da RDP, na chegada da seleção,  ostentava um grande cartaz a dizer que chorara contigo.
Agora eu confesso humildemente também,  que chorei contigo mas , atenção, por outros motivos.
Chorei pelo chocante e triste espetáculo de um país de emigrantes que somos, se sentir orgulhoso por ter vencido um Campeonato Europeu de Futebol.
Ser um país de emigrantes é ser um pais pobre, de miséria,  condenado a fazer  lá fora o que os outros se recusam a fazer. passarmos a sentirmos – nos heróis  por uns quantos Cristianos ganharem um jogo de futebol é distorcer a cruel realidade, é enganar tristes tolos. E é por isso que há este terrorismo que dizem ser religioso, mas não é. A religião, como todas, serve pelo descontentamento e pela desgraça,   para atingir os fim que alienam e amordaçam populações.
Confesso também que senti alegria quando ganhamos aos franceses, os donos das casas onde somos porteiros ou serventes mas daí a fazer disto uma Aljubarrota é ridículo e leva – nos a pensar que estamos doentes,  distraídos ou adormecidos.
Que os políticos batam palmas... está no politicamente correto, mas pensar lúcido  é só pelos que, por outras muitas razões, não param de chorar.





quarta-feira, 22 de junho de 2016

O HINO NACIONAL

Esticado no sofá, de telecomando na mão  preparava – me para ver mais um jogo de Portugal neste Europeu tão emotivo. É só assim, nestes preparos, que gosto de ver o desporto rei.
Multidões ululantes, comediantes, ultrajantes e jamais como de antes.  
Equipas perfiladas e tocam – se os hinos. Heróis do mar nobre povo.... e eu por magia, sugestão ou sei lá que mais, regressei meio século atrás.
Era hora do jantar e já estávamos na sala. Sentados à mesa em silêncio, o meu Pai, minha Mãe e minha irmã, ouvíamos expectantes e mudos como num cerimonial. A rádio estava ligada e Artur Agostinho aliciava o Portugal -Espanha em hóquei em patins modalidade onde eramos os melhores. Era uma Aljubarrota repetida sem conta e eu sentia – me o Condestável. Lá estavam magnetizantes Jesus Correia, Correia dos Santos, Sidónio Serpa, Raio, Emídio Pinto e Edgar.
Aos primeiros acordes pusemos  – nos de pé com ar solene, excepto o meu Pai que tinha uma noção muito própria de patriotismo e  por dado às matemáticas sempre longe das coisas terrenas, feitas com os pés e ainda testemunha, a Mabília que ia a entrar com a sopa e parou à entrada, na sala agarrada à terrina como uma bandeira a desdobrar. Também ela se perfilhou.
Eu senti aquele calor interior que procurara encontrar na Mocidade Portuguesa e mais tarde na tropa, infantaria, quando, entre prováveis mortos e feridos, ouvíamos como marteladas no espírito ao acordar na caserna, os hinos de Angola é Nossa.
Momentos houve que até pela face correram – me lágrimas que me transformariam em herói nacional se elas fizessem o que eu queria mas não quiseram.
Recordo que minha Mãe abreviava o agradecimento à Virgem Santíssima, pelo repasto e quanto todos dizíamos Amen  o chefe rematava com um eloquente e eclético pois sim e tomava nas mãos a colher com que daria início ao emocionante jantar.
Tempos depois viria a TV e outras modalidades onde o Hino nos chamava a participar com crescente empenho e espetacularidade. De tal modo que hoje 
o Hino Nacional é mais uma saudade distante que uma realidade concreta.


terça-feira, 14 de junho de 2016

A PESTE GRISALHA


A idade avançada é vista em algumas sociedades como um valor acrescentado, isto é; para além de ter vivido o que a maioria viveu ainda tem mais a aprender e sobretudo a ensinar. Por isso é respeitada e estimada.
Mas infelizmente a sociedade ou a cultura que nos diz respeito, aqui à beira mar plantada, é o resultado de uma formatação especialmente vocacionada para o consumo. Assim, aqui não se aplaude  o idoso que vive da pequena reforma cada vez mais minguada e discutida. Antes pelo contrário, ele é visto como elemento dessa “peste grisalha”, incomoda, fora de prazo e por isso até dispensável.
Não vai longe quem assim pensa. Não tardará a espetar  - se contra o muro da estupidez, da incultura e da hipocrisia que construiu. 
Desses políticos ou pseudo – políticos que assim pensam e bem conhecemos, feitos à pressa, não rezará a história. Pena é que ela os absolva e lhes tenha proporcionado condições para depois de se aboletarem com o que a todos pertence ou devia pertencer continuarem intocáveis e eles sim a provocarem o vómito.
Mas apesar desta espécie até há pouco dominante os atuais múltiplos poderes e pensares tanto entre portas como fora delas serão por moto próprio ou forçados, a reconhecer que o saber está na experiência e não há melhor mestra que a própria vida.

Ela ensinou – nos que “nunca é tarde” e que a melhor moeda, mais valiosa que o ouro é o tempo, não o tempo que esbanjamos, mas aquele em que sentimos que valemos algo e que ainda teremos uma palavra a dizer. Os outros que estejam atentos.   

sábado, 30 de abril de 2016

QUANDO SE ENVELHECE?


Quando se atinge os 50 anos e se olha para trás sentimos – nos velhos e quando chegamos aos 70 e olhamos para trás sentimos – nos novos.

A primeira vez que senti que já não era novo, foi há dias. Eu conto:
Fui a um supermercado onde comprei três garrafas de um vinho tinto que procurara insistentemente.
Quando segurando as ditas preciosidades junto ao peito  me dirigia para o carro deparou – se – me uma jovem senhora (particularmente interessante) que também se dirigia para o seu veículo e abraçava dois pacotes de leite, meia dúzia de yogurtes e um volume de papel higiénico. Ia à minha frente em natural dificuldade nos seus saltos altos, até que estaca tentando segurar tudo com uma mão pois com a outra procurava as chaves do carro.
Como um verdadeiro cavalheiro, cerimonioso e atento aos encantos alheios parei a olhá – la pronto a ajudar. Ela sorriu e mal alcança as chaves deixa tombar o papel higiénico. Lesto dei dois passos, ajoelhei como um pajem polido e afável, para o apanhar,  coisa que fiz graciosamente, mas quando agarrado às garrafas  estava a atingir o papel fui obrigado a colocar o joelho no chão. Então tentei erguer – me  mas com as mãos ocupadas reconheci que tenho faltado ao ginásio e os rins precisam pelo menos de wb40. Gingo para a direita, para esquerda, empertigo – me e as garrafas pareciam que tinham molas; voaram e esbardalharam – se no solo vertendo o almejado néctar. Ela pousou as compras e veio ajudar a levantar, lamentando não poder lavar – me as calças  mas oferecendo – me um rolo para o usar de imediato.

Agarrado a ela levantei –me e limpei – me. Apanhei os cacos e de rolo na mão respondi ao seu aceno enquanto ela se afastava mostrando a sua mágoa.

terça-feira, 5 de abril de 2016

O SEGREDO É MANTER A CURIOSIDADE

Acabei de ler no D. Notícias uma entrevista com uma senhora sueca de 104 anos que há 4 se entusiasmou com a net e fez um blogue que hoje é visto por mais de 1, 4 milhões de seguidores.
Ela diz que as pessoas mais velhas são tratadas como se fossem crianças ou idiotas. E conclui a brilhante senhora que o segredo é manter a curiosidade....

Não tenho qualquer duvida. A propósito:
A todos os amigos que atingem esta maior idade recomendo que entrem na net , que aprendam e ensinem, que contactem, que chutem na solidão.  E às vezes as coisas acontecem.
Um desses amigos chorava porque divorciado, de há muito, acabara a ligação com uma outra senhora que também não estava para o aturar e agora, a esse amigo não bastava ser um excelente pintor, um bom cozinheiro, ser um motar de paixão, um criador de mãos que fazem milagres. Amante de auto - caravanismo acabara de, ele próprio construir uma pequena, mas  linda e original auto-caravana para uso individual. Enfim  um homem que eu, se fosse mulher, designaria  como “interessante”, mas, que sei eu?
Recomendei – lhe que entrasse na net,  num face, que evoluísse, que hoje as mulheres querem homens inovadores e não peças, mesmo que de cristal.
Quando nos voltamos a encontrar já era mestre no PC e nos hi pfones.  Andava entusiasmado e tanto que entrara em chats onde aparecem senhoras, da sua idade,  prontas a casar. Assim conheceu várias, mas uma delas depois de muita net e Skypes, obrigou - o   a ir  ao Norte, distrito de Viseu, à aldeia onde ela vive, para como um cavaleiro medieval a erguer no seu corcel e partir à aventura por montes e vales.
Durante uns dias, preparou a auto-caravana como se fosse um palácio.
Eu, fiquei entusiasmado porque seria o padrinho de tão abençoado encontro e encantado quando ele mandou no sábado à noite uma selfie de meio corpo; estavam os dois à porta da auto – caravana com um sorriso que poderia dizer tudo o que o amor quer ouvir.
No  domingo de manhã qual Cupido cumpridor mandei – lhe um sms.
-Então que tal a lua de mel.?
Resposta – Não houve.
-Porquê?
-Porque para fazer uma cama maior estreitei a porta e..
-e..?
-Ela não coube.
-E agora?
-Agora não sei se troque de namorada se de caravana, ou...
-ou?
-Delete.

Aqui o Cupido apontou o arco e a flecha para o próprio pé e recordou as palavras da velha sueca – O segredo é manter a curiosidade.