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Em tempo de pós - férias para
esquecermos os calores, aqui vai uma breve história de Verão.
Há meia dúzia de anos eu, meio navegador - velejador vi – me forçado a atracar na Ria Formosa junto a Olhão para uma breve reparação no casco do meu navio. Puxaram – me para o estaleiro e aí fiquei durante três dias. Porque era pouco tempo permaneci na embarcação e lá pernoitei. Logo na primeira noite o silencio das altas horas, foi quebrado por um discreto batuque a que um marinheiro não está habituado - A esta hora? – Perguntei eu a mim próprio, intrigado. Desci do Aries pela escada exterior com cuidado e pé ante pé, entre esqueletos de embarcações, andaimes e acessórios náuticos aproximei – me daquele ritual. Sob uma luz discreta dois homens debruçavam – se sobre uma pequena embarcação de madeira que estava a ser ressuscitada. Fiquei a observa – los com admiração, mas os magos descobriram – me e eu curioso, depois de identificado, fui ouvindo: era uma embarcação há muitos anos naufragada que quereria voltar a navegar. Depois de longas madrugadas de trabalho, era tratada com um carinho desusado a que eu chego a chamar amor. Já estavam nos pormenores finais e ela parecia feliz nos vernizes e cores sóbrias e delicadas que a embelezavam. O carpinteiro na sua vida não náutica fazia acabamentos em janelas, portas, tetos, móveis e tudo a que se chama “carpintaria de limpos”.
Agora só lhe faltavam as velas. Só?,
não, porque o sr Armando, o comandante do restauro, num desafio, me pediu que
lhe desse um nome. E num repente chamei – lhe Fora d`horas.
Dias depois, como o previsto voltei
ao mar e fiz – me ao vento, mas ao longo destes anos vi passar várias vezes o Fora d`horas, esbelto no seu verniz
castanho, elegante, suave e convicto ante a admiração de quem gosta de barcos e
ali se habituou a admira – lo.
Passaram os anos.
Uma noite destas fui ao centro de
Olhão. Exatamente nas ruas caraterísticas onde já não passam carros e os
turistas se acotovelam, resolvi entrar num novo estabelecimento, convidativo
pela sua original decoração com madeiras no interior e exterior e com peixe a
saltar, entre aspas, para o nosso apetite.
Mandei vir sardinhas que me estavam a fazer
falta. Devorei – as tranquilamente com um belo vinho e uma salada “à
montanheira”, enquanto empregados, um francês outro espanhol e outro ao que me pareceu
alemão, corriam lestos e simpáticos de um lado para o outro.
Estava eu já com a última, sobre a imprescindível
fatia do pão, como é tradição de Olhão que já suportara mais umas nove e agora
pejada do suco impar, pronta a ser
leiloada, quando ao meu lado descubro empertigado o Chef; sapatos e calças
brancas, sob um avental longo, azul, colocado com arte e um casaco branco com
botões dourados, tipo general herói da 2ª Guerra Mundial. Um lenço azul com
suaves riscas a condizer na cabeça e na elegância, encimava um rosto meu conhecido
e desta vez, imaginem com um inesperado e insinuante brinco de oiro na orelha
esquerda.
Era, nem mais nem menos, que o
talentoso e romântico carpinteiro de limpos.
Felicitei – o pela surpresa; dois
restaurantes à altura de Olhão e na linguagem atual sob o seu talento, como
impõe o turismo promissor.
Quando lhe perguntei quem fez isto
tudo olhou – me, não conseguindo esconder uma justa dose de vaidade e a
justificar - se, arregaçou os ombros e disse irónico – Foi--- Fora d´horas”-.
Ele, o Chef veio lembrar – me esse
barco lindo que naquela noite distante me acordou.
-
Vendi – o. Não tenho tempo para tudo -.
- Sim agora é Chefff ! - e apontei para o
seu aprumo.
- Sim mas, mas, preciso de um nome –
Confessou segredando – me.
Eu disse
que ia pensar, mas ainda faltava o doce
que não dispenso ou seja, a tarte de
figo, alfarroba e amêndoa e depois em apoteose a inseparável aguardente de
medronho para “lançar ferro”.
Já
desaparecera a tarte quando o cheiroso copinho chegou. Era o Chef acompanhado
pela esposa quem o trazia.
- Muito obrigado Chef Armammd.
E logo a gentil
mulher do Chef que a tudo assistia e ajudava sublinhou. - Sim senhor. Chef Harmand...
pensou mais um pouco – e ...com H?
- Simlaro, com H e sem O acrescentei, encantado.
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