sexta-feira, 2 de novembro de 2018

AINDA SOU DO TEMPO...



Num Verão dos anos 80, na praia de Portimão um rapaz andava pela praia, como quem andava a gritar “Olha a bola de Berlim” mas ele a anunciar “I put  on a cream”, “I put on a cream”.  Anunciava essa sua função “Eu ponho um creme” muito especialmente às mulheres que se bronzeavam, e particularmente às inglesas perdidinhas por se tornarem morenas. Pareceu – me que o negócio era original e ia acalorado. E como nessa altura fazia dali um programa o Onda de Verão, da RTP, em direto ao domingo à tarde, convidei- o a ir ao dito onde me contou no seu estilo algarvio, perdão nos contou, sem pecado, mas sincero, como era a reação delas enquanto ele as besuntava... umas riam outras entortavam os olhos etc.
O Zé Zé Camarinha, assim se chamava o original artista foi um sucesso tal que ainda hoje está na recordação de muita gente.
Note – se porém, que no fim de semana imediato não faltaram nos jornais as criticas acesas ao autor – apresentador do programa que se atrevera a levar assim, um homem até casa de milhões de telespectadores. Senti – me crucificado, louvado seja.
Anos depois vi-o  Zé Zé em outros programas já mais velho e sabido, como convidado especial, inclusive no Big Brother onde se tornou estrela.
Há dias, olhei para o lado; as mulheres todas em biquíni e os homens hoje em calções pelo joelho, quando na minha época o homem usava tanga,   elas fato integral e a policia marítima as multava autoritariamente se lhes vislumbrava o umbigo.
Era miúdo, vindo do liceu e no S. Jorge mesmo ao lado da Igreja de Carcavelos experimentava uma das primeiras cervejas quando um colega entrou e avisou; ehhh malta no Estoril estão miúdas em biquíni. E logo de comboio e motorizadas todos nos fizemos ao Tamariz. Eram bailarinas do Casino em espetáculo natural e de borla  para nós, de olhos esbugalhados.
      Reconheci agora, um dia destes, enquanto as ondas me beijavam os pés, que todo o pecado deixa de o ser, tempos depois.



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