Num Verão dos anos 80, na praia de Portimão um rapaz
andava pela praia, como quem andava a gritar “Olha a bola de Berlim” mas
ele a anunciar “I put on a cream”, “I put on a cream”.
Anunciava essa sua função “Eu ponho um creme” muito especialmente às
mulheres que se bronzeavam, e particularmente às inglesas perdidinhas
por se tornarem morenas. Pareceu – me que o negócio era original e ia
acalorado. E como nessa altura fazia dali um programa o Onda de Verão, da RTP,
em direto ao domingo à tarde, convidei- o a ir ao dito onde me contou no seu
estilo algarvio, perdão nos contou, sem pecado, mas sincero, como era a reação
delas enquanto ele as besuntava... umas riam outras entortavam os olhos etc.
O Zé Zé Camarinha, assim se chamava o original artista
foi um sucesso tal que ainda hoje está na recordação de muita gente.
Note – se porém, que no fim de semana imediato não
faltaram nos jornais as criticas acesas ao autor – apresentador do programa que
se atrevera a levar assim, um homem até casa de milhões de telespectadores.
Senti – me crucificado, louvado seja.
Anos depois vi-o Zé Zé em outros programas já
mais velho e sabido, como convidado especial, inclusive no Big Brother onde se
tornou estrela.
Há dias, olhei para o lado; as mulheres todas em
biquíni e os homens hoje em calções pelo joelho, quando na minha época o homem
usava tanga, elas fato integral e a policia marítima as multava
autoritariamente se lhes vislumbrava o umbigo.
Era miúdo, vindo do liceu e no S. Jorge mesmo ao lado
da Igreja de Carcavelos experimentava uma das primeiras cervejas quando um
colega entrou e avisou; ehhh malta no Estoril estão miúdas em biquíni. E
logo de comboio e motorizadas todos nos fizemos ao Tamariz. Eram bailarinas do
Casino em espetáculo natural e de borla para nós, de olhos esbugalhados.
Reconheci agora, um dia
destes, enquanto as ondas me beijavam os pés, que todo o pecado deixa de o ser,
tempos depois.
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