O
DIREITO À MANIFESTAÇÃO É IGUAL AO DIREITO AO SILÊNCIO
Sei que
vou chocar muita gente mas não posso esconder que jamais me veria numa
manifestação, aos gritos, a esbracejar com um cartaz na mão, a chamar nomes e a
desafiar quem quer que fosse.
Penso assim
talvez porque nunca tive necessidade de gritar para obter um naco de pão ou um
outro direito para mim ou para outros que dele careçam.
Penso
que o homem, na sua evolução como espécie racional deve assumir um papel que
não o do enxame que avança para dominar tal como a manada ou o bando.
Manifestamos
- nos para que a Banca pague o que deve, para que reparem a escola dos nossos
filhos, para que usem a medicina que salve vidas, para que se faça ouvir quem
disso tem o direito. Hoje esta acção não é mais que uma prova irrefutável de
subdesenvolvimento, de asfixia moral, psíquica ou intelectual quase patológica
que não dignifica quem a executa, quem a provoca e quem a permite.
Se
alguma vez não me senti compreendido no trabalho, trabalhava mais ou melhor ou simplesmente
mudava de entidade empregadora. Confesso que cheguei ao ponto de estar de malas
aviadas para emigrar para outro país onde começaria nova e triste aventura por
certo.
Hoje,
tal como no século XVI fazemos barricadas. Aliás o nome barricada vem dos
barris que trabalhadores colocavam nas estradas para obstar o avanço de forças
repressivas, militares ou policiais. Foi assim que a Republica se opôs à
Monarquia e a Europa deu passos para aquilo a que chamamos democracia.
Com o
natural respeito sinto na alma que a manifestação é como a esmola; é tão
aviltante para quem a dá como para quem a recebe.
No
entanto, à luz do direito de expressão e do raciocínio não posso deixar de
lamentar o triste espectáculo de homens e mulheres, uns novos, outros de proveta
idade, sejam empurrados a participar no triste espectáculo a que são obrigados,
em limite, para dizerem, ou melhor, gritarem o que lhes vai na alma e lhes
parece justo e inadiável. É uma ofensa a homens e mulheres íntegros e desejosos
de avançar.
Não aprendemos
a dialogar nem a ouvir sequer. Somos mestres em simular, em mentir e manipular.
Há de
facto um capitulo onde os filósofos, os sociólogos e os políticos, ah e já
agora os jornalistas, não tocaram, não sei porquê.
Talvez
porque não existe ainda um instrumento que a substituir as armas, e as
ameaças, imponha o respeito mutuo, o
reconhecimento das obrigações e dos
direitos inalienáveis de cada cidadão.
E se
democracia é isto e é o que é, pode ser mais porque ela assim não faz parte do
mecanismo da justiça e do progresso, mas
do entretenimento.
E ao
estilo de Post Scriptum acrescentarei que não devemos esquecer que
também se fazem manifestações de elogio ou apoio. Só que estas não se
justificam porque quem trabalha leal e honestamente não as quer nem precisa de
aplausos, faz apenas a sua obrigação. E então deixa de ser manifestação e passa
a publicidade ou propaganda, sempre encomendadas.
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