sábado, 16 de outubro de 2010

NAS URGÊNCIAS


Uma dor intensa na caixa torácica, levou – me, aos ais, esta madrugada, ao Hospital de Faro.
Às 6 da manhã o hospital estava tranquilo, excepto alguns 50 velhos deitados, entubados, a espernearem sobre as macas das urgências. Uma avozinha, um farrapito humano gritava numa vóz aguda que nunca maltratara ninguém que tinha dois filhos gémeos um dos quais perdera uma perna no mar. A velhinha é da Fuzeta e não se calava exigindo um tratamento digno e respeitoso. Outra, esta mais nova, discutia com outra de outra maca que não lhe ligava nenhuma. Chamava – lhe nomes e provocava, mas a outra, estava mais para lá do que para cá.
Velhos pescadores com problemas de coração, próstata, pulmões e espessas angustias nos olhares.
A antecâmara da morgue, pensei.
Fui atendido por uma médica espanhola. Cara de sono a lembrar uma tortilha. Se não for uma coisa mais grave, é uma cólica renal. Foi o primeiro palpite. Análises, raio x e espera na sala 1.
Pouco depois estava a ser espetado, a urinar para o copinho e a ser encaminhado para o raio. Vieram as respostas. A espanhola saíra de turno e agora um jovem espanhol espalhava encanto junto do pessoal e enfermos. Não parava no mini - gabinete .
Despedi – me de alguns velhotes que lamentei e enfermeiros que admirei calado. Senti que ali apesar das condições más o pessoal da enfermagem, todos jovens, esmeravam – se em cuidados, atenções e até ternura.
Uma velhinha que não dava por nada, era penteada com um desvelo comovedor por duas enfermeiras. Uma segurava – a e a outra alinhava -lhe os cabelos brancos de neve, como se fora sua mãe ou avó. Um enfermeiro tipo atleta, ao mesmo tempo que lhe ia falando, dava uma papa à boca de um homem que outrora terá sido um forte e destemido pescador.
Notei como os enfermeiros e outro pessoal que saia de turno observava o estado de cada um. Minuciosos, atentos, tranquilos, conscientes da importância da vida e do sofrimento dos outros, transferiam para os outros, com seriedade, as situações individuais.
Eram 14 horas, tirei os meus resultados da mesa do doutor e pedi – lhe opinião. Achou estranha e atrevida a minha decisão, mas não teve outra solução; era cólica de rim. Isso sentia eu. Passou receita e ala que se faz tarde.
Cheio de fome, enjoado pela doença , fui junto á pequena Marina de Faro para comer qualquer coisa antes de tomar os comprimidos.
Estava um sol amigo. Tirei o blusão e só, quando veio a torrada, verifiquei, ante o olhar assustado do empregado de mesa, que mantinha no braço direito uma agulha espetada e no esquerdo uma outra com torneirinha e tudo. Fui ao WC e arranquei – as. Expliquei ao empregado que estava cheio de pressa para tomar comprimidos.

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