sábado, 16 de outubro de 2010

NO DIA SEGUINTE


Passei mal a noite. Um médico amigo disse – me pelo telefone que nada havia a fazer e que as dores são mais fortes que as de um parto. Aguentei até poder.

Ao meio – dia lá estava eu outra vez nas URGÊNCIAS.
Porquê tanta gente? Segredou – me uma enfermeira; não vê que é 6ª feira? Muitos filhos deixam – nos aqui porque é fim de semana.
Ao que vinha? Que não fora suficiente o tratamento disse eu.
Fui logo, logo, depois de visto por outro médico castelhano, encaminhado num sinuoso itinerário por entre as mesmas e outras macas e utentes uns delirantes outros não, até à sala onde se estabilizam os enfermos. A velhinha mãe de gémeos, que antes chorava, num drama comovente, agora cantava canções desconhecidas.
Tentei dizer – lhe qualquer coisa, mas desisti porque a dor não deixou e já me apontavam novas agulhas e acenavam com o copinho enquanto uma enfermeira me queria na Eco.
Deram – me uma injecção para as dores e segui para a Eco um pouco aliviado. Aí o especialista espanhol, entrava e saia de meia em meia hora sem me dar ordem de entrada.
Entretanto ouvi uma velhota que ali aguardava uns exames; que tinha tudo. Mostrou – me as pernas. Tinha sido operada aos joelhos e que tinha um Toyota com 12 anos e 30 mil quilómetros à porta de casa. Não pode guiar mas ninguém lhe dá o que ele vale. Comprara – o porque trabalhava na Toyota e ao lançarem o modelo fizeram preço especial ao pessoal.
Pouco depois, foi despedida e agora com ele à porta de casa foram colocar ali cobrança de estacionamento. Que havia de fazer à sua vida? Com 300 euros de reforma ainda teve que trocar de pneus que estalaram com o sol. O único filho morrera há 4 anos. Era pescador e mesmo à entrada da barra de Faro o barquito virara – se. Morreram quatro. Salvou – se um de 22 anos seu sobrinho que nunca mais quis ir ao mar. Ela confessa que também nunca mais viu o mar. Era difícil não o ver mas não lhe perdoava.
Passou o doutor espanhol mais uma vez. Seria desta?
Vim a saber que ele não era a tempo inteiro. Era contratado e fazia ganchos. Quem mo explicou era uma senhora que não se calava e dizia ter uma úlcera gástrica de origem nervosa.
Que a vida não estava fácil, que ninguém a ouvia, que tinha um lugar na praça de Faro e todos os sábados monta a sua venda na Feirinha de Olhão. Vende figos secos, frutos secos e azeitonas. Proibiu – me de comer azeitonas e receitou – me chá parte pedra e chá de barbas de milho.
Estava nesta quando irrompe um homem mal encarado que pára a seu lado e lhe grita “ intão ulcera!. O que tu tens é ulcera na língua!. Sofres é da língua!. Vamos já à minha frente” e ela sem parar lá me dizia a despedir - se; vê , vê a culpa é dele… ninguém me ouve….
Acabei por ter outra crise. Voltei à enfermaria. Estava a mudar de cor, disseram a enfermeira graduada e o auxiliar. A correr, o médico espetou – me um opiácido que me entreteve até me endireitar e ir enfim, à Eco, onde já tinham prendido o especialista que em dois minutos me esfregou a barriga e descobriu, com alegria, uma pedra de 10 milímetros que já não estava no Rim mas à entrada da uretra. Com esta novidade vim até ao médico que desta vez me esperava.
Assim e com uma bomba em SOS, vim para casa, perdão para o barco onde depois de passar pela farmácia me enterrei numa almofada e acordei, pelas 5 da manhã, à espera que o matacão saia de qualquer maneira.
Gastei ao todo 10 euros. Bem haja o Serviço Nacional de Saúde que alguns ilustres políticos querem exterminar.

1 comentário:

  1. Caro Serra concordo com essa dos aumentos iguais para todos. Mas logo o Juiz refilaria porque não quereria, para si, um aumento igual ao da minha vizinha, a D. Virginia que foi aumentada em 4 Euros.

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