Ufa que dia!.
Fora
de Lisboa, aqui em Olhão, peguei no carro bem cedo para ir a Espanha comprar um
apetrecho náutico que muita falta me faz se o vento soprar como o Wind Guru
anuncia. Comecei por parar antes de sair da cidade da Restauração, para tomar um
rápido pequeno almoço. Encostei o carro a um passeio, meti umas moedas e fui –
me ao cafezinho. Depois, arranquei para Ayamonte, uns quarenta e tal
quilómetros pela Via do Infante, com o
sistema electrónico como um mealheiro ao contrário, a avisar sobre as
frequentes portagens.
O
GPS levou – me ao local onde estacionei, meti moedas e lá fui ao Alemão que
afinal é Holandês e que é aqui mais conhecido dos mareantes que Júlio Iglésias
nos Países Baixos. Voltei a colocar moedas e lá fui ao aviamento.
O
ambiente natalício estava em todo o lado. Nota dominante; o numero de idosos
lusitanos que em grupos passeia pelas ruas numa euforia juvenil. Exatamente
como os espanhóis fizeram por todos os cantos de Cascais nos dias de feriado e
ponte de Nossa Senhora da Conceição. Estes não gastam, mas fazem barulho.
Porque
os menus aqui não me são fáceis de entender, confesso que se esvaiu o apetite.
Motorizei – me e dirigi – me para ocidente. Procurei o inesperado; Castro Marim,
um restaurante pequeno com dois casais estrangeiros de roulottes e uma mãe e
uma filha portuguesas a mastigarem silenciosas. Atrevi – me a sentar e atirei –
me a um péssimo bife que me ia traumatizando com gravidade porque esta tentação
da carne é pior que a outra. Saí sem olhar para trás como o único culpado de um
dos pecados mortais.
Antevi
de novo o plim plim constante das portagens
a massacrar - me o cérebro e num ato de pura revolta, resolvi abandonar a Via
do Infante e avançar pela mortífera 125. Iria enfrentar a morte e a loucura do transito
local algarvio. Como a despedir – me orgulhoso da minha coragem, achei – me no
direito de um belo café com uma aguardente de medronho e um minúsculo bolo
almendrado.
Depois
de algumas viras e voltas eis – me a entrar pelas geométricas ruas de Vila Real
de Santo António, localidade pacata esquartejada com precisão e harmonia
pombalinas.
Procurei
estacionar próximo de uma esplanada que já conhecia. Havia lugares vagos e
placas de pagamento obrigatório. Porque
já ando habituado, lá procurei automaticamente a maquina do dito pagamento.
Procurei até que uma senhora idosa, à porta de casa, de vassoura na mão que
procurava fazer o seu pequeno rafeiro entrar em casa, se alheou do fugitivo
para me perguntar – O que é que o senhor quer?
– A malvada devia já saber, mas queria era conversa para não conversar, mas sim
intrigar como qualquer vizinha que se presa faz. – Quero
pagar. – Respondi – lhe como cidadão cumpridor das suas obrigações. – Há não paga nada. Pode ir à vontade, esteja
descansado vá à sua vida. Anda cá
canito, filho de uma cadela...-
Nem
ela é o padre Francisco nem eu sou um marginal portanto vou falar com aqueles
dois senhores que ali veem com ar de locais. Falei.
Vim
a saber que sim senhor a Câmara tentou colocar ali estacionamentos
obrigatórios, mas - A população não deixou?
Não deixou? Falei eu baixinho- Não senhora. – Passaram a confidenciar
os dois peões - Partiram as caixas para
as moedas, arrancaram os placares. Eles insistiram e colocaram polícias, mas à
noite, sem eles verem as coisas desapareciam. Eles voltavam e nós não
deixávamos. Tanto que até agora desistiram....
- E ninguém falou? Lá em cima ninguém falou
nisso - Aqui a rádio e o Jornal começaram a falar, depois calaram – se mas
– olharam – se um ao outro com um sorriso malandro – mas como vê...vá à sua vontade.
Já a
andar ainda respondi. – Vou, vou, e não
digo nada. - E lá fui sentar – me na esplanada a “medronhar” e a pensar no povo e na sua liberdade.
Já ao fim da tarde, dei por mim a filosofar pela 125 e ao mesmo
tempo a pedir aos céus que não me obrigassem a parar e a bufar, ou seja, soprar para o balão.
Sem comentários:
Enviar um comentário