terça-feira, 20 de junho de 2017

COM BRINCOS NÃO SE BRINCA





-Alô avô. Quero perguntar – te : achas que já posso furar as orelhas?
-O quê? Furar as orelhas?
-Sim, já fiz 7 anos. É para pôr uns brincos pequeninos.
A mim que até agora só tive filhos homens, de repente, aparece-me uma menina com uma pergunta destas. Imaginei logo a minha querida neta cheia de brincos e piercings nas orelhas, no nariz nas sobrancelhas, no umbigo, nos calcanhares, com tatuagens nas mãos, nos braços, no pescoço, nas pernas e no umbigo... Sustive a respiração e respondi – É preciso perguntar primeiro aos pais.
- Não. Eles querem agora uma opinião tua. Foram eles que disseram.
De imediato reconheci que em matérias melindrosas ninguém está apto a tomar iniciativas sem se debruçar conscientemente sobre a matéria; perturbou – me como se fora um Presidente de um país cujo destino estava nas suas mãos, um apresentador de telejornal a quem se encrava o teleponto, a um padre aquém num dia santo faltam as hóstias, a um general que em plena batalha perde o norte.
- Vou pensar no assunto – Respondi à pequena que não desarma à primeira.
Levantei – me de madrugada e fui ao Google. Ensinava a furar orelhas, a decora – las a desinflamar em caso de não sarar logo, etc.
Aguardei que fosse a hora e telefonei a um velho amigo, culto, sábio e sensato que têm duas filhas já mulheres. Perguntei – lhe e ele – Ora esta!!! Não sei se elas alguma vez usaram brincos. Vou perguntar à mãe. Momentos depois – Estou , olhe , uma furou as orelhas e a outra não.
Eu que saio à miúda não desisti – Bem, qual das duas é mais feliz?
- Vou perguntar à mãe. Nova pausa- Olhe concluímos que são ambas felizes. Cada uma à sua maneira.


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