Fim de tarde no Jardim do Arco do
Cego.
A Casa da Moeda com a colaboração
da Junta de Freguesia organizou a venda, apresentação de livros e animação infantil.
Muitos jovens da capa e batina
por causa da Queima das Fitas e muitas imperiais de mão em mão por entre os universitários
nos limites do razoável.
No relvado, vários casais em claro namoro e um
homem aí dos seus 40 anos, em calções debruçado sobre um corpo que cobria por
completo. Deixava apenas visível uns longos cabelos pretos e uma pele morena.
Parecia alheio ao resto do mundo do Arco do Cego.
Eu que gosto de conhecer os seres
humanos como quem vai ao Jardim Zoológico aguardei como num desafio de futebol.
Beijavam – se longa e ternamente com os corpos a entrelaçarem – se num ritual
conhecido. Eu, já estava a desistir, quando de repente alguém acordou o
microfone ligado a um amplificador da organização. O homem levantou bruscamente
a cabeça. Era branco e com barbas.
Aguardei para ver a rapariga de cabelos longos e entrançados. Ergueu o
meio corpo, compôs tranquilamente os cabelos desgrenhados e virou – se para o
meu lado. Abri os olhos quanto pude para
ver o que via realmente, isto porque afinal a morena de cabelos longos era
também barbuda. Era mesmo um bem constituído africano rasta de longas barbas, colares, afins e todo o resto que
caracteriza um homem masculino.
Senti-me perdido como Ulisses e ali
no Arco do Cego entreguei – me à triste duvida que me pungia.
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