Era a despedida do Verão e um sol lindo, um mar doce, areias finas e turistas a evacuarem - se isto é, alguns a regressarem às suas terras e outros a ficarem nas casas vendidas à pressa por muitos algarvios. Mal pus o pé numa das ilhas paradisíacas da Ria Formosa uma picadela no braço esquerdo levou - me a uma dança moderna de contusão e dor. Pouco depois crescia um vermelhão e uma coceira intermináveis.
Um cidadão voluntário pôs - me uma pomada e a dor abrandou. O vermelho é que não. É perigoso dizia ele.
Regressei a terra. À noite voltou a doer e o inchaço pesava ao mesmo tempo que a mão respetiva entorpecia.
Mal clareou corri para o Centro de Saúde. Ninguém, exceto o pessoal, que me avisou de que médico ali, só às 8 da noite e acenando com a cabeça, só daria 8 consultas... nem mais uma. Mandaram - me para outra cidade, Loulé.
Com o braço ao peito e palavrões na boca rumei a Loulé, passando por Faro. Mas alguém me lembrou que havia greve nos hospitais mas havia uma alternativa quase local- o hospital particular de Gambelas.
O GPS levou - sem sirene, em pouco tempo. Moderno e imponente, lindo e gentil, logo atendido. O médico, espanhol com olhar clinico, claro, breve e eficiente; toma esta caixa ( 150 comprimidos) de antibiótico, esta de anti - histamínico e põe esta pomada. Franziu as sobrancelhas e "está bien?". Entregou - - me a receita. Curiosamente no ato, comecei a mexer a mão.
Pensei duas vezes antes de ir à farmácia e me aviar. Voltei ao Atlântico e com o braço de fora mergulhei. Os peixinhos olhavam-me admirados e as pessoas também.
Sentei-me no bar, bebi um mujito bem gelado, com Rum de primeira. Coloquei os dois cotovelos na mesa onde segurava a cabeça e pensei, pensei como numa oração.
24 horas depois, sem qualquer dor, nem sacrifício, já posso com um justo sorriso, com a mão sofredora e o famoso dedo mal - criado fazer qualquer sinal de alívio ou agradecimento pelo milagre.
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