terça-feira, 22 de outubro de 2013

A auto - critica é como a dor de dentes ; nem sempre passa só com uma aspirina


Na passada 6ª feira foi o lançamento em Lisboa do meu livro PÂNICO À BEIRA – MAR . Decorreu na Casa da Imprensa ali ao Chiado, Praça Luís de Camões.

Curiosamente 6 meses depois, exactamente depois do meu afogamento na Ria Formosa que me levou umas semanas para o Hospital de faro. Ainda respiro mal, verifiquei quando arrepiado, observei a coincidência das duas datas. 

A Editora Chiado tratou de tudo. Inclusive distribuiu a informação pela Comunicação Social que por hábito aparece a estas coisas.

Eu avisei todos os amigos e nada mais. Penso que não compete ao autor andar a pedir favorzinhos mesmo que durante 40 anos tivesse ouvido milhares de artistas e escritores que faziam pela vida tal como eu.

Assim, pelas 18 horas fui o primeiro a entrar para o salão nobre da CI – salão com o busto de Artur Portela (Pai). Curiosamente sem que tivesse havido intensão minha;  o orador era nem mais que o filho; o ilustre jornalista e escritor Artur Portela (filho), que não tardaria a chegar.

Dois elementos da Casa da Imprensa e um senhor amável, italiano, da Chiado. Este dispusera uma dúzia de livros sobre uma mesa, na qual eu deveria assinar autógrafos. Era o que esperava. Odeio estes rituais, mas reconheço que no contrato está escrito que deverei participar em todas as promoções editoriais. Do mal o menos. Foi ali que consegui tomar o peso da obra pela primeira vez, senti- la, cheira – la, sobraça – la, senti – la como minha. Gostei do primeiro olhar; sóbria, séria, na contracapa uma foto minha e uma biografia resumida. Não gostei da foto. Estou gordo e concordemos que sou mais bonito. Mas paciência, não se pode ter tudo….

Fiquei assustado. Ninguém.

Portela acalmava – me; sabe como são os portugueses, sempre atrasados, pode ser que ainda venham.

!8.30hs – umas dez pessoas a contar comigo e com os familiares que arrastei.

Seria uma derrota e de mau augúrio, pensei.

Já me curvava com desculpas ao Portela quando à porta do salão nobre, surge um casal tímido. Um minuto depois, outro, depois mais 3 pessoas, depois um solitário, em seguida timidamente uma miúda e um senhor, o pai,(era a Vera de Sousa a revisora do livro a quem devo muito), depois umas caras conhecidas e sorridentes. Às 19 hs estava a casa composta com umas 3 dezenas de pessoas. Começamos logo antes que debandassem.

Chegara também entretanto a Mariza Menezes, uma simpática jovem, em representação da Editora. Trazia uma caixa multibanco. Pelo que me deduzi, seria para vender os livros expostos ao lado do jovem italiano, que dava ao condomínio uma nova configuração. A verdade é que cada pessoa que entrava levantara pelo menos um livro e não pensaria paga – lo. Era mais um dilema para mim, quando a Mariza deu por aberta a sessão.

Jorge Trabulo Marques de câmara de filmar e fotografar em punho sacudia – se, rastejava, empertigava – se em acção acrobática, à frente da plateia que balouçava a cabeça para espreitar os oradores.

Bem fez a minha neta Nono de 4 anos que ante tal destempero se levantou do colo da Drª Isabel e empertigar se foi sentar numa cadeira que no estrado mais parecia um trono e que, havia sito retirada de junto da mesa da cerimónia por ser demasiado ostensiva.

Portela deu uma autêntica lição sobre as proximidades do jornalista e do escritor, não se esquecendo de citar a exemplo do autor presente, outros como Eça de Queiroz e Hemingway. Só quem não conhece o criador do famoso Jornal Novo e da Funda é que podia acreditar na razoabilidade do exemplo. Ainda fiquei a pensar se ele lera o livro, mas afinal ele citara – me passagens dispersas que provavam que o lera e com interesse. Isso bastaria para mim.

Depois falou o autor. Penso que me perdi, mas disseram que não. Falei sobretudo do tema dominante; a comunicação de massas e o domínio do poder económico sobre elas. Não falei da intriga, dos amores, dos perigos que o romance sobrevoa.

Vieram as perguntas. A curiosidade repetia – se.

Uma grande salva de palmas, filas frente a mim para os autógrafos e frente à Mariza que metia os cartões no tele - multibanco.

Comecei a respirar melhor.

Depois de muitos sorrisos e parabéns, apenas um pequeno grupo foi comigo para os copos na Gruta do Chiado, ali ao lado. Fausto, Henriette e Saskia, Victor e Isabel e nós família, onde não faltaria a Nono que fez o seu primeiro jantar fora de casa e adormeceria antes dos brindes.

Ainda tentei via telefone repescar uns quantos amigos, mas já se haviam feito à estrada porque a noite prometia temporal e que não se fez esperar, mas a todos devo um dos momentos mais simpáticos da minha vida. Só amigos e alguns curiosos a ficarem amigos, diálogos úteis e sinceros em esclarecimentos interessantes e interessados, pouco habituais e olhares francos e ansiosos que jamais esquecerei.

Obrigado a todos foi o que disse e nem todos terão ouvido.

PS. Nem um único órgão de comunicação social esteve presente. Já o esperava; a auto crítica é como a dor de dentes; nem sempre  passa só com uma aspirina.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

RUMO AO SUL

Tenho anunciado pela editora o lançamento do Pânico à Beira - Mar para o
próximo dia 18. Estou farto de Cascais, de Lisboa, da Aldeia, de casa, de mim. Parece que transporto um fardo sobre os ombros. Canso - me porque um dos cães, o novo de 3 meses filho de pastores belga e alemão, chamado Ruka (batizado pela Nono em homenagem ao seu ídolo da BD, mas com K pela origem germânica e ao que parece nazi) quer brincar, porque limpar os terraços já que não tarda vem chover a valer é um frete, porque a Maria do Céu não sabe onde arrumou as minhas T shirts pretas, porque o homem com dois russos que derrubaram 10 pinheiros que ameaçavam cair não cortou a lenha para a lareira, porque na Repsol são sempre os mesmos, as 4 gajas boas, os 5 famosos cagões, os políticos aldrabões, vindos dos refúgios da Malveira e da Serra de Sintra. Tomo o café da manhã e sei que a tarde será igual à de ontem e à de amanhã. Na Casa da Imprensa o orador vai ser Artur Portela, curiosamente no salão que tem o nome do seu pai. Gente ilustre e que aprecio. Sei que leu o livro duas vezes. Mas nem sei se gostou. Também não me interessa já que o gozo foi escreve – lo. Agora o resto não é comigo, é com quem o ler. Vou ter que colocar gravata e levar casaco. Fui agora interrompido pelo sr. Helder da Casa da Imprensa; diz que sim, que posso levar um cd com o triplo concerto de Beethoven que percorre o romance. Tem que ser cd porque não há ali entrada para pen. Ainda tenho tempo para fugir. Marco tudo para dois dias antes e faço - me à estrada entretanto. Quero acordar sobre as ondas, ouvir as gaivotas e o tagarelar dos algarvios. Ouvir as suas histórias e as suas mentiras. Beber uns copos e dormir com os reflexos das águas a entrar pelo cortinado do camarote. Vou. Encho o depósito cada vez mais caro e arranco. Ultrapasso Lisboa engarrafada e aponto ao Alentejo.
RUMO AO SUL II Os sobreiros retorcidos mas alinhados entre si sobem e descem as colinas num desenho suave, tranquilo como os alentejanos a andar ou a fazer qualquer coisa. O carro parece que sabe o caminho. Engole os tracinhos brancos no alcatrão. Fugi de casa e a 200 quilómetros vi que saí com fome ou ela apanhou – me na estrada. Telefono para o Camões a saber que tem para almoçar. Depois dela parar de rir porque atrevido, perguntei se era o Camões quem falava, vim a saber que me esperam carnes; grelhada mista e secretos de porco preto. Disse que sim e carreguei no acelerador.
Saí 10 quilómetros da A2 – Lisboa – Algarve, para nascente e depois de alguns chaparros e curvas entrei em Almodovar e no restaurante habitual. Na mesa, azeitonas verdes e pretas gordinhas a saber a azeite e a oregãos, fatias de paio de porco preto em pas de deux com fatias de queijo de cabra meia cura, pão e vinho tinto alentejanos, olharam – me como se já me conhecessem e esperassem desde a última vez. Devorei as saudades, uma a uma como um apaixonado. Depois vieram os secretos que eu, com relutância, aguardava porque julgava tratarem – se dos testículos do bácoro. Achei - os grandes em demasia e a estalajadeira logo me tranquilizou pois tratam – se de partes escondidas das costelas, não do puto porco mas do porcalhão. Confiante, fui – me a eles acompanhado por umas batatas fritas de feliz ocasião, e uma salada fresca de tomate, cebola e alface. Já eu cantava louvores, quando a senhora desceu sobre mim e me interrogou no seu doce arrastar de voz: e agora para sobremesa o doce da casa? Eu incondicionalmente seduzido, feito escravo, saciado de uma fome ancestral curvei – me como fiel devoto ante mais uma vergastada. Eis que, como numa cena de ilusionismo, ou outra menos publica, surge um bouquet de bolachas molhadas no café, com natas e caramelo. Ainda foi aventada uma aguardente medronheira, mas porque a estrada me olhava, à porta, adiei-a para a chegada ao Aries. RUMO AO SUL III Volvida a dezena de quilómetros reentro na A2, retemperado confiante, psicologicamente remoçado. Olhava a estrada e o horizonte impar do Alentejo quando a meu lado uma nave original me fez zigzaguear de curiosidade.
Uma moto, não moto, um carro não carro, um triciclo não triciclo, com um casal a condizer e a conduzir a 140. Felizes atiram um sorriso ventoso e levantam o polegar em resposta ao meu. Felizes os que vivem. Ainda tenho espaço à minha frente... pensei.