é um desabafo, uma dor de alma, um grito vertido assim, a medo, mas com uma vontade enorme de mudar o mundo, ou apenas mudar o autor.
quinta-feira, 25 de abril de 2013
post mortem
Afinal hoje é o meu nono dia, após ter ressuscitado.
Confesso que ainda sinto dificuldades no acertar ideias e aqui as debitar, São muitos os sedativos e tranquilizantes e dormir é o que mais me apetece.
Fui transferido para uma pequena enfermaria onde estou no meio de dois algarvios mais velhos que eu.
Quando lhes perguntei o que têm e eles entendem, dizem “tabaco”, depois, escarram ou iniciam a ladainha de tosses com catarros, raspadelas, repetições que ora parecem choros ou risos, motores incapazes de começarem a funcionar e outras modelações, numa aflitiva e macabra estereofonia que me entontece quase 24 hors por dia.
Esperava vir a ter tosse também, mas afinal parece que os náufragos contraem pneumonias porque transformam os pulmões em recipientes de água e merda. E a infecção não se fazia esperar. Já se assinalava quando me debitaram neste hospital.
Graças à pronta intervenção de todos, parece que passou ou está em vias disso, A esforços não se têm poupado diga – se em abono da verdade. Eu faço o que posso e que não é muito.
Ultrapassei as horas críticas dos pós – traumatizados, o que é outro bom sinal. O inchaço do crânio diminuiu e as dores também.O traumatismo occipital está agora num inchaço que tomou a cor escura e envolve o percoço.
Vou tentar vir aqui diariamente.
Nem sei bem para quê. Não foi para isto que fui salvo.
Entretanto quero agradecer aos amigos que me têm telefonado e a quem não atendi pelas razões expostas.
Espero que compreendam.
Mas, com lagrimas nos olhos vos digo que começo a sentir que talvez por eles, valerá a pena viver um pouco mais.
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