sexta-feira, 9 de abril de 2010

PALAVRÕES



Faltam vinte minutos para almoçar. Depois, vou a Lisboa para umas locuções. Mas não resisto; venho aqui para escrever. É um impulso, é a resposta a um vício que me acompanha ao longo da vida e afinal, não me levou a lado nenhum. Talvez esta dependência, até me tenha prejudicado.
Durante décadas, verti em palavras o que me ia na alma. Por isso, a vida passou a ter, em paralelo, um lado virtual, uma sombra feita por palavras cujos significados são dúbios. São o soletrar de sentimentos e estes o fruto de emoções descuidadas.
Fugiram – me das mãos como areia, as realidades.
Fui um contemplador, um voyeur. Nem sequer fui um crítico, um analista, talvez por cobardia ou falta de conhecimento. Dou sempre ao criticado o direito de ser ouvido e então ofereço – lhe a razão, perdoo – o porque o homem, o Homem, está claramente mal acabado, imperfeito.
Esta maneira piegas, católica, de resolver os assuntos não é mais que a fórmula errada de corrigir as imperfeições da sociedade.
Apetece – me agora, dizer palavrões. Mas, afinal palavrões são palavras mal educadas e nem com elas diria o que sinto.

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