E se há período do ano onde recolho mais lembranças para o resto da vida
é no Verão.
Lembro
quando na Parede ainda mal sabia andar, ia para a praia de triciclo e entre
rochas aprendia a imitar os nadadores, a olhar para as poças como se elas
fossem um mundo novo a descobrir e quando na areia fazia castelos e perseguia
as pulgas que mais tarde desapareceriam dali. Depois, quando já morava em
Sassoeiros ia e vinha com o resto da família numa charrette puxada por dois cavalos. Durante um mês, sempre para o
Pérola, onde tínhamos uma barraca ao lado das de outras famílias mais ou menos
conhecidas mas fieis a este hábito. Era o banho do banheiro que nos mergulhava
a cabeça como num ritual à hora certa e segurando-nos, terminava com um mergulho
mais solene, e como dizíamos, para pentear, depois era o almoço que a pobre
empregada, a pé, trouxera lá de casa. Uma soneca dentro da barraca, e
despertávamos com o espetáculo dos Robertos, pequenos fantoches que paravam na
areia de 200 em duzentos metros, sobre um palco de metro e meio, e por ultimo,
o direito a uma Bola de Berlim que alentejanos idosos incansáveis, vinham todos
os anos vender nestas praias.
Nas portas da adolescência, lembro que éramos avisados pelos colegas “olha, há miúdas em biquíni no Tamariz” e
para lá corria o bando, em bicicletas ou no comboio, para admirar as bailarinas
do Casino que se queriam queimar, desafiando toda a ordem e a moral vigentes. É
que era proibido as mulheres andarem de biquíni e os homens teriam que usar uma
camisola de alças dentro ou fora de
água. O umbigo das mulheres e os cabelos do peito dos homens eram um atentado
pornográfico objetos de multas e reprimendas
Seguiram - se anos em que já homem, a praia era esporádica porque cedera
à aventura da vela, ao trabalho e a outras obrigações que não se compadeciam
com o desejo de espraiar.
Gastaram - se décadas, até que chegamos a um cenário bem diferente. As
praias hoje estão cheias de gente, guarda-sóis, turistas, imigrantes e comércios
alimentícios e surfísticos em crescendo. Mal assentei arraiais na praia da Rata
ou da Moita, entre Cascais e o Monte Estoril, arrumei os flashbacks, sim porque os homens andam de calções pelos joelhos e
elas, elas, algumas em top less, mas
a grande maioria, gordas e magras de todas as idades, imaginem, de fio dental.
Um fio desafiador... provocador...bem humorado quando se desloca, parecendo
sorrir para o observador, ate desaparecer por artes mágicas e a aguçar a
imaginação na maioria dos casos analisados. Um fenômeno impar na evolução
humana neste início de século. Inimaginável há meio século atrás e que tiraria
o sono a Aristóteles e muito mais a Darwin. Daqui a vinte anos andarão todas nuas ou todas
tapadas? Que mais poderá esperar este bom rapaz, sensível, atento e distraído
qb.?.
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