Esticado
no sofá, de telecomando na mão preparava
– me para ver mais um jogo de Portugal neste Europeu tão emotivo. É só assim,
nestes preparos, que gosto de ver o desporto
rei.
Multidões
ululantes, comediantes, ultrajantes e jamais como de antes.
Equipas
perfiladas e tocam – se os hinos. Heróis do
mar nobre povo.... e eu por magia, sugestão ou sei lá que mais, regressei
meio século atrás.
Era
hora do jantar e já estávamos na sala. Sentados à mesa em silêncio, o meu Pai,
minha Mãe e minha irmã, ouvíamos expectantes e mudos como num cerimonial. A
rádio estava ligada e Artur Agostinho aliciava o Portugal -Espanha em hóquei em
patins modalidade onde eramos os melhores. Era uma Aljubarrota repetida sem
conta e eu sentia – me o Condestável. Lá estavam magnetizantes Jesus Correia,
Correia dos Santos, Sidónio Serpa, Raio, Emídio Pinto e Edgar.
Aos
primeiros acordes pusemos – nos de pé
com ar solene, excepto o meu Pai que tinha uma noção muito própria de
patriotismo e por dado às matemáticas
sempre longe das coisas terrenas, feitas com os pés e ainda testemunha, a Mabília
que ia a entrar com a sopa e parou à entrada, na sala agarrada à terrina como
uma bandeira a desdobrar. Também ela se perfilhou.
Eu
senti aquele calor interior que procurara encontrar na Mocidade Portuguesa e
mais tarde na tropa, infantaria, quando, entre prováveis mortos e feridos,
ouvíamos como marteladas no espírito ao acordar na caserna, os hinos de Angola é Nossa.
Momentos
houve que até pela face correram – me lágrimas que me transformariam em herói
nacional se elas fizessem o que eu queria mas não quiseram.
Recordo
que minha Mãe abreviava o agradecimento à Virgem Santíssima, pelo repasto e quanto
todos dizíamos Amen o chefe rematava com um eloquente e eclético pois sim e tomava nas mãos a colher com
que daria início ao emocionante jantar.
Tempos
depois viria a TV e outras modalidades onde o Hino nos chamava a participar com
crescente empenho e espetacularidade. De tal modo que hoje
o
Hino Nacional é mais uma saudade distante que uma realidade concreta.