quarta-feira, 22 de junho de 2016

O HINO NACIONAL

Esticado no sofá, de telecomando na mão  preparava – me para ver mais um jogo de Portugal neste Europeu tão emotivo. É só assim, nestes preparos, que gosto de ver o desporto rei.
Multidões ululantes, comediantes, ultrajantes e jamais como de antes.  
Equipas perfiladas e tocam – se os hinos. Heróis do mar nobre povo.... e eu por magia, sugestão ou sei lá que mais, regressei meio século atrás.
Era hora do jantar e já estávamos na sala. Sentados à mesa em silêncio, o meu Pai, minha Mãe e minha irmã, ouvíamos expectantes e mudos como num cerimonial. A rádio estava ligada e Artur Agostinho aliciava o Portugal -Espanha em hóquei em patins modalidade onde eramos os melhores. Era uma Aljubarrota repetida sem conta e eu sentia – me o Condestável. Lá estavam magnetizantes Jesus Correia, Correia dos Santos, Sidónio Serpa, Raio, Emídio Pinto e Edgar.
Aos primeiros acordes pusemos  – nos de pé com ar solene, excepto o meu Pai que tinha uma noção muito própria de patriotismo e  por dado às matemáticas sempre longe das coisas terrenas, feitas com os pés e ainda testemunha, a Mabília que ia a entrar com a sopa e parou à entrada, na sala agarrada à terrina como uma bandeira a desdobrar. Também ela se perfilhou.
Eu senti aquele calor interior que procurara encontrar na Mocidade Portuguesa e mais tarde na tropa, infantaria, quando, entre prováveis mortos e feridos, ouvíamos como marteladas no espírito ao acordar na caserna, os hinos de Angola é Nossa.
Momentos houve que até pela face correram – me lágrimas que me transformariam em herói nacional se elas fizessem o que eu queria mas não quiseram.
Recordo que minha Mãe abreviava o agradecimento à Virgem Santíssima, pelo repasto e quanto todos dizíamos Amen  o chefe rematava com um eloquente e eclético pois sim e tomava nas mãos a colher com que daria início ao emocionante jantar.
Tempos depois viria a TV e outras modalidades onde o Hino nos chamava a participar com crescente empenho e espetacularidade. De tal modo que hoje 
o Hino Nacional é mais uma saudade distante que uma realidade concreta.


terça-feira, 14 de junho de 2016

A PESTE GRISALHA


A idade avançada é vista em algumas sociedades como um valor acrescentado, isto é; para além de ter vivido o que a maioria viveu ainda tem mais a aprender e sobretudo a ensinar. Por isso é respeitada e estimada.
Mas infelizmente a sociedade ou a cultura que nos diz respeito, aqui à beira mar plantada, é o resultado de uma formatação especialmente vocacionada para o consumo. Assim, aqui não se aplaude  o idoso que vive da pequena reforma cada vez mais minguada e discutida. Antes pelo contrário, ele é visto como elemento dessa “peste grisalha”, incomoda, fora de prazo e por isso até dispensável.
Não vai longe quem assim pensa. Não tardará a espetar  - se contra o muro da estupidez, da incultura e da hipocrisia que construiu. 
Desses políticos ou pseudo – políticos que assim pensam e bem conhecemos, feitos à pressa, não rezará a história. Pena é que ela os absolva e lhes tenha proporcionado condições para depois de se aboletarem com o que a todos pertence ou devia pertencer continuarem intocáveis e eles sim a provocarem o vómito.
Mas apesar desta espécie até há pouco dominante os atuais múltiplos poderes e pensares tanto entre portas como fora delas serão por moto próprio ou forçados, a reconhecer que o saber está na experiência e não há melhor mestra que a própria vida.

Ela ensinou – nos que “nunca é tarde” e que a melhor moeda, mais valiosa que o ouro é o tempo, não o tempo que esbanjamos, mas aquele em que sentimos que valemos algo e que ainda teremos uma palavra a dizer. Os outros que estejam atentos.