quinta-feira, 17 de março de 2016

A IDADE NÃO PERDOA MAS EU SIM



È hábito milenar dizer que idade não perdoa. É a tosse dele ou dela, é uma irritação quase permanente, é a indisponibilidade para participar em diálogos estéreis ou desinteressantes ou fazer fretes descabidos. Mas não é difícil verificar que com a idade vamos perdendo algumas qualidades mas , atenção, vamos 
ganhando outras.
Com efeito a Natureza encarrega – se de controlar a evolução do homem permitindo até a sua completa felicidade até ao último suspiro. Preciso é que o homem ao longo da vida se aperceba da sua adaptação às novas condições ou exigências.
Por exemplo, a  mulher com a idade vai mudando de vós, passando o som natural a tornar – se cada vez mais estridente parecendo mais agressivo também. Mas Deus escreve direito por linhas tortas e oh beleza de vida – enquanto isso acontece com a mulher, com o homem é o tímpano que endurece fazendo – o perder a audição para essas frequências. Assim bem pode gritar um e descansar o outro.

Lindo... não é?

sexta-feira, 4 de março de 2016

ASSIM SE PERDE O APETITE




Entrei no restaurante e vi –o numa mesa com uma senhora talvez da mesma idade, isto é, com uma "velhota".
Reconheci – o porque ao longo dos últimos 20 anos habituara – me a vê – lo no Verão pelas praias do Estoril e Cascais a dar mais nas vistas do que qualquer um de nós.  
Nos locais onde havia mais gente e se possível frente a uma esplanada como se fosse uma plateia, o nosso amigo começava uma sessão de aquecimento qual vedeta do desporto.  E quando já se não esperava mais fazia sequências de fliques - flaques, de mortais para a frente e para trás e passeava de pernas para o ar.
Noutras alturas via- o em exercícios mais arrojados; subia para a muralha ou ao murete de uma ponte sobre o mar e as rochas e  ante a admiração de transeuntes e sobretudo turistas, espectadores atónitos, fazia um perigosíssimo pino correndo o risco de se despedaçar sobre os bicos dos rochedos que o esperavam lá em baixo.
Até quando é que este ex - septuagenário, já octo, continuará a arriscar a vida, perguntava eu?
Na última época não o vi e eis que o vejo afiambrado ali com a sua namorada e por certo admiradora dos seus atos, sem medo nem idade.
Terminou o repasto e reconheceu – me quando se erguia a custo. À saída parou junto a mim. Cumprimentamos – nos e quando reparei que o herói mancava, usava bengala e amparava – se, nela e na dama, travei a garfada e perguntei : Então?

Ele, com o olhar mortiço, que havia estacado como vítima de um assassínio apontou primeiro para a bengala e depois para ela que abanava a cabeça pedindo clemência. Pensei o pior. Ainda de garfo e faca com uma isca em riste, ouvi a história na voz trémula da senhora; “Foi no dia dos namorados. Saí e fui ao cabeleireiro Ficou só em casa. Quis fazer – me uma surpresa; montar, na sala um reposteiro, lindo, às flores. Pegou num escadote, subiu e caiu. Quando cheguei ainda estava no chão. Não conseguia levantar – se. Nunca mais esquecerei”. Rematou ela a concluir com um suspiro longo. “Nem eu”, sublinhou ele, “Nem eu” engoli eu ao mesmo tempo que me arrependia da isca que me fez perder o apetite.