Com
a mente a pairar sobre as infinitas questões da humanidade, ou melhor do homem
comum, como eu e os meus conhecidos, bordejava pela Ria Formosa na cubica
cidade de Olhão.
De
repente um reboliço chamou – me a atenção para  um ex - pescador que repetia a sua faina diária
de agora; dar alimento aos pombos que já o conhecem.
O
velhote senta – se no banco do jardim, à mesma hora, com as pernas viradas para
o encosto como se fosse uma tribuna e um saco de plástico ao lado. Dezenas de
pombos sobrevoam – no e pousam a seus pés numa agitada expectativa. Também uma
dúzia de gaivotas aparece  mais
discretamente como quem não é convidada, nem bem vista.
Qual
porta- voz, arauto ou líder ou representante um afanado pombo empoleira – se
frente ao ex – pescador e enfrenta – o como se já se conhecessem mutuamente.
E o homem sorridente a dizer – lhe coisas por mim imperceptíveis, trata de lhe ofertar
com a mão os pedaços de pão que arrepanhou nas cozinhas dos restaurantes das
redondezas. O pombo, sem anilha, mas  glutão atira – se com apetite, indo até à mão
ou ao saco retirar as  doses, a que acha
com direito, enquanto autoritariamente, afasta os outros que expectantes
aguardam uma oportunidade.
O
homem vira – se e explica – me que só consegue dar alimento aos outros quando
este está satisfeito. – Por isso está mais gordo que os outros e é ele quem
manda- Com efeito só depois de o gorducho estar saciado é que é autorizada  a aproximação dos outros que por serem muitos
 e mais fracos comem no chão, acotovelando
–se, ou melhor, desasando – se.
Deixei
– os mas continuei  o passeio e a elucubração
 até concluir que a vida dos homens
também é assim : há alguém que detém o poder, ou os bens,  ou o dinheiro, depois há alguém que cai nas
boas graças deste. Engordam e afastam logo os outros humildes e discretos até
deixarem – nos pensar que também têm direitos . 
Continuei
o marginal passeio, mas não me sai da memória a expressão inteligente e pensativa
das gaivotas.
 
 
