é um desabafo, uma dor de alma, um grito vertido assim, a medo, mas com uma vontade enorme de mudar o mundo, ou apenas mudar o autor.
terça-feira, 29 de abril de 2014
sábado, 26 de abril de 2014
25 de ABRIL
Tive a honra, melhor o privilégio
porque apenas como jornalista estive no Carmo naquele dia, há 40 anos, em que
quando já não esperava, me nasceu na alma o sonho de ver Portugal ser outro,
mais livre, justo e feliz.
E digo apenas jornalista porque esforço
– me por dissociar a qualidade de jornalista da de cidadão, de militar ou
militante envolvido, politico ou simplesmente um curioso como era a maioria.
Mesmo assim a formalidade jornalística sucumbiu à avalanche de emoções.
Ao lado de Salgueiro Maia senti no
rosto os primeiros ventos de liberdade.
E confesso que essa emoção empurrou –
me dia a dia, até aqui. Mostrou – me que haverá sempre um caminho, por onde o
homem ou um povo que tropecem, poderão avançar. Ninguém os poderá parar.
Estamos longe. Fomos ludibriados.
Mudaram os sinais e os sentidos. Forças, interesses estranhos às ambições
justas de um país, foram subvertidas, manipuladas e agora estranguladas.
Tenho consciência absoluta do que se
fez, sei quem o fez e porque fez este desvio. Também sei que não tenho qualquer
hipótese de o dizer alto e a bom som.
Peço aos Deuses que me dêem
oportunidade de pelo menos um dia sentir de que, por todos aprendemos com os
nossos erros, nos tornamos senhores dos nossos destinos e então, poderemos avançar
de cabeça erguida no rumo, há 40 anos, prometido.
É tempo de consciência e de mudança.
Ela virá dentro em breve. Resta saber
como virá.
quarta-feira, 2 de abril de 2014
Para que conste
Anda por ai nos mails e outros sítios este post sobre o PANICO À BEIRA - MAR que juro não fui eu quem o fez ou encomendei.
Para que conste.
Para que conste.
QUANDO VIVER CUSTA
( Aqui imagine dois telhados de duas casas velhas entre as quais, ao fundo, a quilómetros sobre os montes os picos brancos se misturam com as nuvens)
Porra !!! Não tem sido fácil.
A fragilidade humana veio a correr gritar - me que não sou super-homem, e muito menos o gato das botas e que se não me ponho a pau vou desta para a melhor e que deixei de fazer tanta coisa que até nem era mau e que os outros estão se nas tintas para tanta canseira, etc.
Nunca fui tantas vezes ao médico ou ao hospital. Estou a aprender matérias que só a vida, seja ela boa ou má, nos dia - a - dia diferentes, pode ensinar,. Já sei o que é esperar, ser olhado com comiseração, ser amparado, a aguardar os resultados dos resultados, a merecer cuidado como se eu fora meu avô. Mesmo assim, por outro lado, apercebo - me da precaridade daquilo a que chamam viver e da fragilidade da gente que se acotovela em formigueiro sem saber para onde vai. Uma e outra, a vida e a gente, desenvolvem - se da forma mais desumanizada que é possível imaginar. O lince da Malcata ou as amêijoas, no defeso, são mais protegidos que o homem português nestes tempos de cegueira e verborreia.
O destino ainda não me fez e espero que não me faça sofrer porque tenho visto gente humilde mas nobre e digna, essa sim, a sofrer de dores do corpo, de ansiedade e de solidão. É isto o que mais me entristece, me faz estrebuchar, falar e socar o tampo da mesa.
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Imagine aqui a foto da entrada de um pequeno cemitério; um portão de ferro preto, com rendilhados curvos por entre os quais de vêm, próximas, as campas alinhadas, brancas e floridas com flores naturais e artificiais. Aqui e acolá uns dizeres esculpidos, como num cada vez mais longínquo grito de adeus, umas pequenas imagens e cruzes, muitas cruzes.
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Fui este fim de semana ao funeral de uma senhora quase centenária que eu mal conhecia. Estivera acamada durante décadas e lúcida até ao fim.
Lá viajei até Ourondo, localidade quase despida de gente, na serra Gardunha que acenava com cumes brancos da neve. Quando o enterro passou com duas filas de pessoas a despedirem - se, o sacristão com um amplificador de som, a pilhas ao ombro por onde se ouvia, em bom som, o Sr. padre que seguia sentado no carro funerário ao lado do motorista e eu recolhia ao carro para guardar a maquina fotográfica com que registei as fotos que não consigo verter no sítio previsto, mas assinalado, fui abeirado por uma velhota de mais de oitenta e muitos anos, quase cega, de sorriso simpático como se fora nova e feliz. Haviam - lhe dito que eu estava ali e ela quis saber como eu passava, porque lhe constara... Falamos como dois bons amigos. Contei - lhe das minhas melhoras e ela dos outros tempos, de trabalho árduo, que passaram e que de nada valeram. Fala - me sem ódios, com candura misturada com mágoa e inteligência. Ajudara muita gente que já partiu ou agora passa ao lado sem a reconhecer. Fora escrava do trabalho. Hoje vive só, a precisar de cuidados e de um lar, mas o que recebe não lhe garante nada, nem para comer.
-Que posso fazer por si? Perguntei eu que sou incapaz de dar uma esmola ou fingir - me caridoso porque sinto vómitos quando me falam de caridade. (Lembro - me da canção infantil do Barata Moura "Vamos brincar à caridadezinha"...)
- Estou com um problema: com o glaucoma.- prossegue - Não consigo ver as horas neste relógio que trago há vinte anos. Sei que nos Chineses em Lisboa há uns relógios de cabeceira que se vêm à noite. São baratos mas aqui, aqui - lamenta - ainda não há chineses.
-Mas precisa tanto de saber as horas? E à noite?
- Sim, à noite. Todas as noites fico a ver os dias a passar... - Faz uma expressão tranquila e interiorizada, como a descrever uma procissão silenciosa, que também imaginamos.
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