Era miúdo e a Playboy americana já era adolescente.
Descobria-a no grupo secreto do liceu onde a devorávamos como romã vermelha e
sumarenta, a passar de mão em mão. Éramos diletantes com a paixão da
descoberta, curiosos por tudo, dispostos à experiência.
Num dia de contrição confessei ao padre a obscenidade.
Por trás do confessionário deve ter ficado a pestanejar até me receitar os “pais
– nossos” que duraram até  quando voltei
a revelar o assassínio que se tornou mensal. 
Pouco depois vinha a Lui, revista francesa  também com “gajas” nuas, mas em francês e,
segundo eu, com artigos mais interessantes que  dominava mais facilmente. Era o pecado a
acomodar – se nas redes neuronais em forma de dependência a carecer da cura psicanalítica
freudiana tradicional.
Para não perder os dotes linguísticos escondia – as como
se fossem cadernos e apontamentos, por entre livros de matemática, história ou
português e seguiam – me lubricas como sonhos e fantasias inconfessáveis.   Quando
eram substituídas jaziam sob o colchão ou junto aos apetrechos desportivos
escondidas como os pontos negativos ou as mais atrevidas tentativas literárias,
agora ingénuas e inocentes.
Comecei a fazer coleção que sem eu dar por isso  foi substituída pela vida real.  
Conheci nelas centenas ou até milhares de miúdas de
que ingratamente perdi o rasto. Hoje, nem elas se lembram de mim nem eu delas.
Enfim...
Mas meio século volvido, corajosamente, num gesto
cultural, , como num retrato de época, de hábitos, de estilos e de liberdades,  cheguei a mostra - la aos filhos, a quem de
imediato,  lubriquei conspícuos olhares
de censura.
Hoje as Playboy e as Lui jazem em caixas de plástico
devidamente rotuladas, à espera não sei de quê.
Mas curiosamente sorriram – me, apesar deste abandono
ingrato.
Até que, até que hoje, Hugh Hefner, que como um
profeta, foi o criador da provocadora Playboy ele que deu a  volta aos miolos de centenas de milhões de
jovens pelo mundo inteiro, anunciou que a partir de agora passará a vestir as
suas coelhinhas. É uma blasfémia, um paradoxo, uma incongruência.
Pelos 5 continentes, os mais velhos entreolham – se. As
mulheres, essas, sorriem com ar de vingança. Eu, apenas acho que os homens só
colhem o que está à mão e agora, numa época nova e redentora em que o “takeaway”
 e as “energias renováveis” estão na moda,
nada há a temer porque o futuro está garantido.
 
